Em 2014 a militância petista de Pernambuco não poderia prever, mas aquele rapaz que fez os seus primeiros discursos políticos em tom antipetista – primeiro na campanha presidencial de Marina Silva (então no PSB) e em seguida na campanha de Aécio Neves (PSDB) – viria a se declarar, uma década depois, um “soldado” do presidente Lula, maior líder da história do PT. No bairro de Brasília Teimosa, o hoje prefeito João Campos (PSB) prometeu “defender” o nome do petista onde estiver. A governadora Raquel Lyra não participou dos eventos com Lula, optando por cumprir agenda em Petrolina.
Campos discursou ao lado do presidente da República durante cerimônia de entrega de títulos de regularização fundiária para 599 famílias da comunidade na zona sul da capital. “Temos o maior presidente da história do Brasil e ele é pernambucano, um homem do povo, que se emociona e que faz as coisas com o coração”, disse o prefeito do Recife. “Onde o senhor estiver, na minha cidade e no meu estado, eu estarei ao seu lado, defendendo o seu nome e dizendo que sou um soldado do senhor”, prometeu João Campos, celebrado pelo público com gritos de “melhor prefeito do Brasil”.
A fala não foi só para os presentes, mas também para os ausentes. Com a frase, Campos jogou luz sobre a ausência da governadora Raquel Lyra (PSD) nas três agendas cumpridas por Lula em Pernambuco nesta quinta e, ao mesmo tempo, a frase foi uma resposta às críticas dirigidas ao prefeito no fim de maio, quando ele viajou a Salgueiro, no Sertão do estado, para participar de agenda ao lado do presidente e da governadora. Na ocasião, aliados de Lyra questionaram por que um prefeito da capital viajou a outra cidade para uma cerimônia que supostamente não lhe diz respeito.

Reeleito no Recife com ampla margem, em 2024, João Campos (PSB) provavelmente deixará o comando da prefeitura em abril de 2026 para se dedicar exclusivamente à campanha ao Governo do Estado, sendo o principal oponente da governadora Raquel Lyra (PSD). Ela, que era do PSDB, mudou de partido há poucos meses para entrar “oficialmente” na base de apoio do presidente Lula e tentar disputar o apoio do líder petista no próximo pleito.
Contra a sonhada aliança Lula-Lyra pesam: a antiga relação de amizade que o petista nutre pela família do ex-governador Eduardo Campos, pai de João; a intenção de Gilberto Kassab, dirigente nacional do partido de Raquel, de lançar um nome próprio à presidência da República; o crescimento, dentro dos postos de direção do PT local, dos grupos de Teresa Leitão e Osmar Ricardo, defensores do apoio a Campos; e os baixos índices de intenção de voto na governadora apontados nas pesquisas realizadas até o momento, que apontam vitória de João Campos no 1º turno.
Por outro lado, o PT de Pernambuco tem como principal reivindicação a garantia da candidatura à reeleição do senador Humberto Costa (PT) na chapa encabeçada por Campos, o que está longe de ser dado como definido no entorno do prefeito. São duas vagas, que no momento são pleiteadas pela ex-deputada Marília Arraes (Solidariedade), pelo ministro Silvio Costa Filho (Republicanos) e pelo ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), além de Humberto (PT). Para João Campos, amarrar desde já a aliança com Lula pode lhe garantir margem para se desobrigar a atender os petistas locais.
Em Brasília Teimosa
Ainda durante a entrega de títulos de regularização fundiária, João Campos lembrou que a relação de Lula com o bairro teve início em 2003. “A história de Brasília Teimosa se mistura à história dos seus governos. O senhor veio aqui na sua 1ª semana como presidente para construir sonhos de quem morava em palafitas. Mas o sonho ainda precisava ser concluído e, agora, 20 anos depois, o senhor voltou à presidência para garantir as escrituras para essas pessoas”, destacou o prefeito. João e a ministra Esther Dweck destacaram que Lula cobrou que o processo burocrático seja concluído até janeiro de 2026.

Campos prometeu não cobrar IPTU daquelas famílias. “A gente não quer imposto de vocês, vamos cobrar de quem tem dinheiro”, disse o prefeito. Brasília Teimosa tem localização privilegiada na cidade, numa península estreita entre o rio Tejipió e o oceano Atlântico. A comunidade é fruto de uma ocupação iniciada na década de 1950 e tem resistido às investidas do poder público e da indústria imobiliária. Hoje está “protegida” por ser uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis). Mas o impasse em torno das terras seguia na Justiça. As entregas dos títulos de propriedade, ao custo de R$ 3,8 milhões aos cofres públicos, visam dar mais segurança os moradores.
Ainda durante o evento, o prefeito presenteou Lula com um cajueiro para plantar no jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. No último domingo (10), durante um momento de descanso, Lula gravou um vídeo, ao lado da primeira dama Janja da Silva, em que se dirigiu ao povo da região Nordeste. “Aqui no Alvorada tem muitos pés de caju, mas não dão mais caju, porque estão velhos. Nunca consegui comer um caju aqui na Alvorada. Algum nordestino que estiver assistindo, fale com a Janja e me mande uma muda de caju novo”, pediu.
Nesta quinta (14), João Campos também participou das cerimônias ao lado de Lula no município de Goiana, na zona da mata norte do estado, onde Lula inaugurou mais uma etapa da fábrica da Empresa Brasileira de Hemoderivados (Hemobrás); e também esteve ao lado do petista durante visita ao Hospital Ariano Suassuna, da rede privada Hapvida, marcando o início do atendimento de pacientes do SUS pelo centro médico particular, através do programa Agora Tem Especialistas.