A apresentadora Marla Martins afirmou, logo após anunciar o maior prêmio da noite deste domingo (17), que Uruguaiana veio em peso para o 53º Festival de Cinema de Gramado. Mesmo assim, foi a cerimônia de entrega dos troféus Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema – Mostra Gaúcha de Curtas mais fria dos últimos anos.
Apesar de a curadoria (que tem quatro membros indicados pelas entidades do Audiovisual do Rio Grande do Sul e um representante do Parlamento) ter sido bastante criticada e a safra deste ano ter sido chamada de fraca por integrantes da classe, o título eleito por profissionais de fora do estado como o melhor concorrente agradou crítica, pares e público.

Trapo, de Felipe Oliveira e João Chimendes, tem protagonismo infantil e foi rodado na cidade fronteiriça com a Argentina. A produção de Uruguaiana conta a história do garoto Leo, que precisa conseguir um novo celular depois que a sua melhor amiga Manu vai embora da cidade.
No ano passado, outro tema juvenil e local tinha recebido o título de vencedor do certame, arrecadando somente essa láurea. Chibo foi produzido entre Tiradentes do Sul (RS) e El Soberbio (Misiones), e retrata uma família que mora às margens do Rio Uruguai e sobrevive da travessia clandestina de mercadorias.

Outros destaques da premiação foram o excelente Mãe da Manhã, o gracioso Gambá e os importantes curtas Bom Dia, Maika! e Imigrante/Habitante, que conquistaram dois troféus cada.
Os dois jovens talentos da atuação local foram surpreendidos com o anúncio. “Eu não esperava, de verdade. Eu quero agradecer muito. Não tenho palavras, isso é um sonho realizado. E pensar que eu brincava dentro do meu quarto sozinha, pensando em um dia atuar. Sou muito apaixonada por novela desde criança e imaginava estar nas telas. E comecei a estudar teatro e depois fui pro audiovisual porque eu queria entender como era por trás das câmeras. Vi que funciono mais no roteiro, na direção de arte, mas que na frente das câmeras eu funciono ainda mais e eu tô muito feliz”, disse Mikaela Amaral, que desbancou a veterana Gloria Andrades, homenageada da noite, que concorria por O Jogo.
De Alexandre Mattos Meireles e Chico Maximila, o curta de Pelotas foi destacado em produção-executiva, para Renata Votter, que também ficou feliz e surpresa.
Já Igor Costa, protagonista de O Pintor, de Santa Cruz do Sul, venceu mais que um ator veterano, mas um ícone da cena gaúcha. Castanha já foi até um longa que rodou o mundo inteiro (e inclusive já foi premiado em outros festivais pelo personagem de A sinaleira amarela). “Eu não imaginava, não tinha planejado… Enfim, eu desejava, pedia muito que um dia eu tivesse com um filme no Festival de Gramado, que é tão importante. É a minha primeira vez com um filme aqui. E essa etapa de ganhar melhor ator, eu nunca nem pensei, eu só pedia pra estar aqui, com essa galera tão talentosa, um monte de gente que eu admiro”, contou espontaneamente, arrancando risos do público.

Antes de anunciar Trapo como melhor curta gaúcho, o presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas, fez uma importante fala sobre o apoio da Casa à cultura e a necessidade da regulação do streaming no Brasil.
O deputado retomou a memória de que o prédio da AL/RS foi construído de 1958 a 1967: “Para ser erguido ali, ele tirou um espaço cultural que era o Auditório Araújo Vianna, que agora está no Parque da Redenção. Mas ele era ali, na Praça da Matriz, do lado do Theatro São Pedro. Desde aquela época, a Assembleia tem uma dívida histórica com a cultura do nosso estado. A Assembleia Legislativa reafirma aqui, através da sua mesa diretora, esses 22 anos de compromisso com a mostra de curtas em Gramado.”

A deputada federal Denise Pessoa, presidente da Comissão de Cultura, também estava no Palácio dos Festivais e foi citada por Pepe: “Nós temos uma cruzada cívica nacional para aprovar no Congresso Nacional a lei de regulamento do streaming, para a gente ter uma contribuição para o desenvolvimento da indústria cinematográfica nacional, não só por uma questão de ter financiamento do audiovisual brasileiro, mas também porque constrói um país sem identidades culturais. Vamos esperar que os nossos deputados e deputadas, nossos senadores, tenham consciência que isso é uma questão fundamental para o país e para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro”.
Após as exibições de Nó (PR) e Papagaios (RJ) no fim de semana, a Mostra Longas Brasileiros segue na noite desta segunda-feira (18) com Querido Mundo (RJ), dirigido por Miguel Falabella, e, como sempre, contando com grande elenco. A competição segue até sexta-feira (22) com A Natureza das Coisas Invisíveis (DF), Cinco Tipos de Medo (MS) e Sonhar com Leões (SP).
A programação completa está disponível no site do festival.
Homenagem à atriz Glória “Resistência” Andrades

Na noite deste domingo (17), a solenidade do Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema – Mostra Gaúcha de Curtas começou com a entrega do Troféu Sirmar Antunes (saudoso ator gaúcho falecido em 2022) para a atriz Gloria Andrades. A distinção foi instituída pela Assembleia Legislativa logo após a morte do representativo artista para premiar um profissional de trajetória consagrada em produções gaúchas de curta e média-metragem.
“Sempre disse para minha mãe que vim para este mundo para ser artista. E eu vim, nunca desisti e eu tenho certeza que estou sendo exemplo para muitos que, como eu, vêm da periferia e pensavam que nunca seriam nada. Então, estuda, tenha fé, corra, vai atrás, foco! Só tenho para dizer: meu nome é Gloria, mas tenho certeza que meu sobrenome é Resistência”, disse a atriz ao receber a homenagem.
Confira a lista dos curtas gaúchos premiados
Melhor filme: Trapo
Melhor direção: Viviane Jag Fej Farias e Amalia Brandolff (Fuá – O Sonho)
Melhor atriz: Mikaela Amaral (Bom Dia, Maika!)
Melhor ator: Igor Costa (O Pintor)
Melhor roteiro: Cássio Tolpolar (Imigrante/Habitante)
Melhor fotografia: Takeo Ito (Gambá)
Melhor direção de arte: Clara Trevisan (Mãe da Manhã)
Melhor trilha sonora/música: Zero (Bom Dia, Maika!)
Melhor montagem: Alfredo Barros (‘Imigrante/Habitante’)
Melhor figurino: Samy Silva (A Sinaleira Amarela)
Melhor edição de som/desenho de som: Vini Albernaz (Mãe da Manhã)
Melhor produção/produção executiva: Renata Wotter (O Jogo)
Melhor filme – Júri da Crítica: Gambá