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ARTIGO

Instituto Alicerce: quem são eles?

Um empresário de produtos odontológicos, dois banqueiros e o Luciano Huck entram num bar

20.ago.2025 às 18h16
Porto Alegre (RS)
Giovane Zuanazzi
Instituto Alicerce: quem são eles?

Instituto Alicerce, ilustres desconhecidos - Foto: Freepick

“São ilustres desconhecidos”, me disse um amigo, olhando os rostos e nomes da página de apresentação do Instituto Alicerce, o mais novo parceiro do governo Sebastião Melo para garantir a “recomposição das aprendizagens” dos estudantes da rede municipal de Porto Alegre, depois do fiasco no  Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 1.

“Essa galera entende algo de educação?”, emendou.

“De educação? Não, mas de business…”, respondi, enquanto olhava os 25 desconhecidos listados como membros do “time Alicerce” e imaginava quem era o empresário por trás daquilo tudo.

Semanas depois, ao ficar sabendo que o Alicerce ganhou a corrida antes mesmo da largada, em uma “parceria” estabelecida com dispensa de licitação, resolvi pesquisar um pouco sobre.

Alicerce, alicerces

A primeira coisa foi descobrir a existência do “Alicerce Educação” e do “Instituto Alicerce”, cada um com seu site, seus responsáveis, seu CNPJ, mas nitidamente em um grande jogo de retroalimentação, onde é difícil saber onde um começa e o outro termina. Além de partilharem o mesmo nome e logo, oferecem o mesmo serviço: contraturno escolar. E reproduzem a mesma organização laboral, onde “líderes” (sem formação alguma) substituem professores.

A diferença parece ser a seguinte: o primeiro é uma empresa; o segundo, por sua vez, uma singela Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos.

Imagino que essa divisão deva ser o caminho encontrado para facilitar o financiamento público – afinal, “há menos burocracia” para o dinheiro escorrer rumo a organizações que não visam lucro do que para uma empresa. E menos ainda para escorrer da não-lucrativa rumo à empresa, imagino eu.

Assim, naturalmente me surgiu a pergunta: quem veio primeiro?

Para a surpresa do total de zero pessoas, sim, a empresa veio antes, tendo sido fundada em 2018. O instituto, segundo eles, nasceu apenas no ano seguinte (embora o site só tenha sido registrado em dezembro de 2020).

Logo, mais perguntas surgiram.

Quem são eles?

Quem resolveu criar o Alicerce?

A ideia partiu, segundo contam, do empresário Paulo Batista.

Um empresário do ramo… odontológico, mas muito preocupado com a educação brasileira.

Financiado por quem?

Por diferentes fundos de venture capital (capital de risco). Eu sei, eu sei… a grana de um bando de engravatados especialistas em investimentos de risco resultou, também, na criação de uma organização “sem fins lucrativos”.

(Pode até soar irônico, mas acho que eles não estão tendo prejuízo).

E há o financiamento direto de figuraças como Armínio Fraga (que está há anos tentando acabar com o aumento do salário mínimo), David Feffer (da Suzano, papeleira que acumula denúncias ambientais), Wolff Klabin (da papeleira e mineradora Klabin), entre outros 2 – pessoas cujas as trajetórias de vida se entrelaçam tanto profissionalmente quanto em jantares de família, em intercâmbios à terra do Laranjão ou em convescotes oferecidos por diferentes governos, bancos e empresas.

E, claro, há o quarteto destacado no site (ao menos na sua versão original): o já referido Paulo Batista, seguido por Jair Ribeiro, Eduardo Mufarej e Luciano Huck.

Página de apresentação do Alicerce Educação (2019)

(Sim, parece o início de uma piada, algo do tipo: um empresário de produtos odontológicos, dois banqueiros e o Luciano Huck entram num bar).

Quem eles pensam que são?

A essa altura, já estava convencido de que o Alicerce era mais uma variante dessas empresas/OSCs/ONGs/think-tanks/seitas que prometem salvar a educação brasileira, mas no fundo só querem garfar uma parte do orçamento público, propagando neoliberalismo embrulhado em discurso coach.

Mas seguia achando no mínimo bizarro que essa turma aí, que não tem relação alguma com a educação, fizesse o que faz como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ainda queria entender que justificativa esses empresários, que conhecem melhor os Estados Unidos do que a periferia brasileira, utilizam para explicar tal empreendimento.

E foi aí que eu encontrei a série “Qual o seu sonho?”, produzida pelo Alicerce para apresentar seus fundadores e revelar o que eles pensam sobre a educação.

Em defesa da sanidade geral da nação, selecionei o depoimento de dois deles, transcrevendo os melhores (ou piores) momentos, transformando o longo lero-lero em um bate-bola-jogo-rápido igualmente intragável.

Eduardo Mufarej e a aprendizagem por osmose

Eduardo Mufarej, em Qual é o seu sonho? – Print do vídeo

Eduardo Mufarej é uma das figuras de destaque do RenovaBR, um think-tank neoliberal que busca formar e influenciar políticos em todo o território brasileiro (quem quiser saber mais, pode ler essa reportagem da revista Piauí).

Perguntado sobre a conexão dele com a educação, o ponto alto da narrativa é contar que a mãe e a avó foram professoras.

(Façam um exercício de estranhamento: conseguem imaginar um pedagogo abrindo um escritório de advocacia porque a mãe foi advogada?)

Perguntado sobre qual o maior desafio para melhorar a educação no Brasil, produziu uma resposta i-na-cre-di-tá-vel:

“O Brasil tem um problema enorme de absenteísmo, de falta de professores […] E não tem critérios claros para que as pessoas se tornem professores. Tem um problema estrutural: hoje, o professor, em grande parte do Brasil, não é uma pessoa que optou, como primeira opção, ser professor!”

Sim, na cabeça do educadíssimo Mufarej, não há critérios para que as pessoas se tornem professores. Não existem pessoas que cursam licenciaturas, que se formam para isso, que se preparam, que fazem concursos públicos!

E, se existem, certamente é porque não conseguiram ser outra coisa!

Não fosse absurdo, paradoxal e ofensivo por si só, tudo fica ainda pior quando recordamos que o Alicerce não conta com professores, mas com líderes! Líderes que não precisam ter formação alguma, basta que estejam cursando qualquer graduação, em qualquer semestre. Basta que “mandem bem” em português e matemática.

Mas o que esperar de alguém que, buscando incentivar os líderes, diz que o papel deles é o de “motivar” (!) e encontrar o “melhor de cada um”. Não precisam ser “donos de determinado conhecimento”, porque o “conhecimento, ele tá aí, ele não tá na Barsa, não tá na biblioteca pública… o conhecimento está disponível, está ao alcance de todos nós!”.

Seria Mufarej um teórico da aprendizagem por osmose?

Afinal, o conhecimento tá aí…

Paulo Batista e a motivação como verdadeira educação

Paulo Batista, em Qual é o seu sonho? – Print do vídeo

Paulo Batista, a principal cabeça pensante por trás do Alicerce, nos confidencia:

“Tive uma educação muito boa, sempre gostei de estudar, sempre gostei do conhecimento, sempre tive curiosidade por aprender, por conhecer as coisas. Mas não era o melhor aluno não. Não me dava muito bem com a escola. Talvez um pouco da minha visão crítica com o sistema educacional venha da minha experiência como estudante.”

Quem escuta, pensa: nossa, uma crítica ao ensino tradicional, talvez uma reflexão sólida sobre a realidade venha aí.

Ledo engano, Batista não tarda em dizer:

“Muito do que a gente aprendia ali [na escola] não servia pra nada, não era realmente o que faria a diferença no meu futuro – como realmente não fez, boa parte do que aprendi na escola eu esqueci. […] Mas sempre gostei de aprender, gostei do conhecimento de todas as áreas, isso me possibilitou passar em segundo lugar para Direito na USP.”

Sim, ele acredita que passou em um dos vestibulares mais concorridos do Brasil porque “gostava de aprender”, apesar da escola ensinar coisas que não serviam para nada (aparentemente, nem para passar no vestibular).

(Alguém canonize os professores dele, porque devia ser difícil lidar com tamanha humildade).

Logo em seguida, narra sua breve experiência como professor de um cursinho:

“Na faculdade eu tive uma experiência transformadora com a educação, dei aula num cursinho pré-vestibular, onde eu tive um contato com a educação. […] E apesar da gente não ter estrutura nenhuma, formação pedagógica nenhuma, um bando de moleque de 19 anos de idade dando aula, a gente conseguia dar muito mais resultado que aqueles alunos ali tinham no Ensino Médio que eles estavam estudando na escola pública. A gente ali, apesar de não ser pedagogo e não ter formação nenhuma, conseguia pegar garotos que na escola pública estruturada, com pedagogo, com tudo, não tavam chegando a lugar nenhum. A gente conseguia ajudar a passar num vestibular.”

Sim, senhoras e senhores, nosso empresário da camisa azul está convicto que um cursinho pré-vestibular pode ser comparado com uma escola pública! Não importa que, para chegar em um pré-vestibular em condições de aprender, o estudante precisou passar pela escola. Não importa que cada instituição tenha objetivos distintos. Não importa que o cursinho seja facultativo, enquanto a escola é obrigatória. Não importa que um atenda apenas alguns, enquanto o outro está de braços abertos ao todo.

Ignora tudo isso enquanto sustenta a certeza de que deu mais resultado, aos 19 anos, mesmo sem formação pedagógica alguma, do que pedagogos e licenciados com larga experiência deram. E fez tudo isso sem estrutura (ao contrário da escola pública que, em sua imaginação, é “estruturada, com pedagogo, com tudo”).

Será que foi daí que ele extraiu o modelo laboral do Alicerce? Por que esse menosprezo à formação pedagógica? É a crença de que basta a força do querer ou uma justificativa ideológica para superexplorar trabalhadores, exigindo que desempenhem funções que não possuem formação técnica alguma?

Aliás, falando em trabalho:

“Independente do que a gente queira, a gente sempre vai passar muito tempo no trabalho. Por mais que você não seja um cara muito trabalhador, se você não passar no seu trabalho pelo menos 6h ou 8h por dia, você não vai conseguir se sustentar. […] Eu não acredito num estilo de vida onde você é infeliz no trabalho e busca felicidade fora do trabalho. Se é isso, então vai morar na praia e não trabalhe.”

Fico imaginando o quanto os “empresários-herdeiros” do nosso Brasil realmente trabalham, em contraste com os milhões de brasileiros que estão submetidos à escala 6×1 e seguem sem condições de “se sustentar” com dignidade.

Igualmente, imagino o quão inteligente Batista deve se sentir proferindo absurdos do tipo “se você não é feliz no trabalho, não trabalhe” (!!!!).

É uma liderança nata, um grande orador, um predestinado ao sucesso.

Ainda munido de sua perspicácia, ilumina o debate público com sua densa análise sobre o problema da educação no Brasil (assunto que, como nos conta, estuda desde janeiro de 2017, ou seja, a longos dois anos, quando da publicação do vídeo):

“O tema é tão fascinante, o problema da educação no Brasil é tão gigantesco. E acho que o tema é fascinante por si só, no mundo inteiro, como educar pessoas, como formar pessoas, isso foi o que eu tinha vivido como líder! Liderar é você ensinar pessoas e dar oportunidades. E educação é exatamente isso. Educar não é ensinar, enfiar um conteúdo no cérebro da pessoa, cada vez menos é isso. Educação é você motivar a pessoa, fazer ela querer buscar o melhor dela, e isso é liderar. A essência de você ser um bom gestor é educação […] Educação não é escola, Educação é crescimento. Escola é a forma ineficiente que a sociedade encontrou de tentar desenvolver os jovens, ela não é a maneira correta, ela é o que existe.”

Eis o raciocínio que, levado à cabo, resulta no fim da escola (da escola pública, é claro, porque os filhos dos CEOs seguirão estudando em boas escolas particulares). Eis o pensamento que, transformado em prática, substitui a educação, a reflexão crítica, a cidadania por adestramento e motivação couch.

Eis o que o prefeito Sebastião Melo e seu secretário de Educação, Leonardo Pascoal, estão impondo à rede municipal de Porto Alegre.


1 “A qualidade do ensino público oferecido pela prefeitura de Porto Alegre despencou em todos os níveis entre 2021 e 2023. Foi a maior queda absoluta e percentual entre as capitais brasileiras, considerando as redes municipais de educação de cada cidade, tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais do Ensino Fundamental”.

Ensino da rede municipal de Porto Alegre tem maior queda no Ideb entre capitais. Matinal. 21/08/2024

2 “A empresa foi fundada há apenas três meses pelo ex-CEO da Dental Cremer, Paulo Batista. A rodada foi liderada pelos fundos Canary e Valor Capital, e teve a participação de investidores pessoa física como Armínio Fraga, David Feffer, Luiz Fernando Figueiredo, Wolff Klabin e Daniel Goldberg. Anteriormente, o Alicerce já recebera um capital semente da Good Karma Ventures, um fundo de VC recém-criado pelo fundador do RenovaBR, Eduardo Mufarej, além de outros dois investidores-anjo: Luciano Huck e Jair Ribeiro, um veterano do mercado financeiro e hoje presidente da ONG Parceiros da Educação”.

Alicerce leva a educação onde o Estado não chega. Brazil Journal, 17/10/2019.

*Giovane Zuanazzi é professor de história da Prefeitura Municipal de Porto Alegre

**Postado originalmente no blog Variações do Mesmo Tema

***Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Editado por: Katia Marko
Tags: educaçãoeducação pública
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