O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem aumentado as ameaças à Venezuela ao longo da semana, desde que direcionou navios de guerra à costa do país latino, no dia 14 de agosto. A estratégia tem sido reafirmada por representantes da Casa Branca, que declararam que os EUA irão utilizar “toda a força” em suposta ação contra o tráfico de drogas venezuelano.
Na avaliação da analista política Amanda Harumi e do correspondente do Brasil de Fato na Venezuela, Lorenzo Santiago, a tática de Trump é uma “ameaça de microfone, guerra psicológica”. Eles foram os convidados do podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato, desta quarta-feira (20).
“De momento, é só uma ameaça dos Estados Unidos, que não parece se tornar uma incursão militar mais contundente. Na avaliação dos diplomatas e ministros da Venezuela, é uma provocação [de Trump] no momento, sob essa justificativa de combate ao tráfico de drogas. É uma ameaça, por enquanto, só de microfone, uma guerra psicológica, para causar medo na população e medo na região”, ressaltou Santiago.
Para Amanda, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP), o presidente estadunidense utiliza discursos fantasiosos para enfraquecer países e fortalecer sua imagem internamente. “Nós sabemos que o governo Trump, semanalmente, está desferindo ataques país a país. Nós passamos pelo tarifaço do Brasil e agora parece que chegou a vez da Venezuela. Os Estados Unidos, esse império em queda, usam suas capacidades de poder para tensionar e desestabilizar vários cenários.”
“O mais preocupante é o discurso, a narrativa que o governo Trump constrói, que é irreal, é fora da realidade, porque ele acusa Maduro de ser um dos maiores narcotraficantes responsáveis por cartéis de droga que, inclusive, chegariam até os Estados Unidos. Essa é uma narrativa construída para a própria disputa nos Estados Unidos”, completa Amanda.
Em resposta às ameaças dos EUA, o governo venezuelano anunciou a mobilização de milhões de pessoas dispostas a entrar em combate, se necessário. Eles fazem parte das milícias bolivarianas – voluntários que passam a integrar um agrupamento militar e recebem treinamento de defesa pessoal e territorial. “É um grupo composto por quase cinco milhões de pessoas, de acordo com o governo venezuelano, já que ele é voluntário. Esses milicianos não recebem salário, não recebem para combater nem para estar em treinamento diário; é mais para defesa da pátria e defesa territorial”, conta Santiago.
Harumi reforça que o país sul-americano tem capacidade militar para se defender em um possível conflito e sinaliza a consciência política dos milicianos. “A Venezuela tem condições, tanto regionais quanto domésticas, de segurar uma invasão. É importante dizer que o processo venezuelano das milícias é fruto de uma Constituição. Então, para além de uma capacidade militar ou não, eles têm muita consciência política do que se passa na Venezuela. Essa disputa política das ruas, de mobilizar os milicianos, mas também mobilizar o povo para defender a soberania venezuelana e o processo democrático, é uma força real.”
O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.