Em 2018, ele surgiu no cenário político de Minas Gerais, sendo eleito após uma surpreendente virada eleitoral. Quatro anos depois, foi reeleito já em primeiro turno. E agora, em 2025, viajou para São Paulo para oficializar a própria pré-candidatura à Presidência do Brasil. Esse é Romeu Zema (Novo).
O governador antecipa a largada para (tentar) nacionalizar o próprio nome e testar aderência fora de Minas. Também rende ao Partido Novo um ativo para puxar nomes e tentar cumprir a cláusula de desempenho na disputa legislativa. É movimento racional para quem ainda precisa se apresentar ao país. Mas quanto maior o tempo exposto na “vitrine pré-eleitoral”, mais tempo com chance de ser alvo de “pedradas políticas”.
No próprio campo da direita, não demorou. Um dia após o anúncio feito por Zema, o vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro (PL) cravou: “a verdade é dura: todos vocês se comportam como ratos”. Mesmo sem citar nomes, o recado foi lido. O ataque vindo diretamente da família Bolsonaro ao ainda governador mineiro e a outros potenciais nomes da direita revela o tamanho da disputa pelo espólio político do bolsonarismo. O gesto, mais do que um ataque, é um aviso: só há espaço para herdeiros políticos se houver anuência explícita da família.
E quanto mais Zema (tenta) girar fora de Minas Gerais mais sua gestão será testada publicamente. Embora tenha surgido como um nome “outsider”, passados anos de mandatos, agora ele faz parte do sistema. Então, nada mais justo do que comparar: promessa e entrega. O estado exposto em propagandas e discursos e o estado real, construído com dados.
Parlamentares progressistas mineiros que fazem oposição ao governo Zema já se manifestaram: embora se apresente como “gestor moderno”, na prática, o governo (ainda) liderado pelo filiado ao Novo é marcado por políticas de austeridade, que penalizam servidores, municípios e áreas essenciais como saúde e educação. O episódio do fechamento do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins, na capital mineira, enquanto pacientes aguardam por procedimentos há tempos, bem como a situação das unidades da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), ilustram isso.
Mais do que um ato político, o lançamento de sua candidatura é um símbolo de como parte da direita brasileira insiste em usar o discurso da suposta eficiência empresarial para justificar um modelo de governo que, na prática, significa abandono social, sucateamento de serviços públicos e entrega do patrimônio coletivo.
O movimento pré-eleitoral já era comentado e esperado, mas expõe uma contradição: enquanto o estado enfrenta problemas em diferentes áreas, Zema prefere se preocupar com o seu projeto político e pessoal.
A disputa que se desenha para 2026 não será apenas entre nomes, mas entre projetos de país: o da reconstrução do Brasil com inclusão, direitos e soberania, e o que representa o desmonte do serviço público e a negação da dignidade.
Aguardemos o passar dos dias.
Arthur Raposo Gomes é jornalista, publicitário e estrategista de Comunicação
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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.