O pastor bolsonarista Silas Malafaia subiu o tom contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na noite de quarta-feira (20) no âmbito do inquérito que apura a tentativa de obstrução à Justiça e coação a autoridades responsáveis pela ação penal do golpe de Estado. O religioso teve o passaporte e o celular apreendidos.
Em entrevista ao portal Metrópoles, nesta quinta-feira (21), Malafaia qualificou Moraes como “criminoso”, e defendeu que ele seja preso. “Quando eu digo que ele é um criminoso, eu aponto os crimes. Ou você pensa que criminoso é que mata ou que dá tiro. Criminoso é quem rasga aquilo que foi feito para defender. Alexandre Moraes tem que tomar um impeachment, julgado e preso pelos crimes contra o Estado democrático de direito. Tenho dito”, afirmou.
O pastor disse que o magistrado “institui no Estado democrático de direito o crime de opinião” e disse não ter medo de ser preso. “Eu não tenho medo de Alexandre Moraes”, esbravejou. “Vai me prender, então me prende”, disse Malafaia, em tom desafiador.
De acordo com a PF, Silas Malafaia desempenhou papel central na mobilização digital que visava atacar ministros do Supremo. Nas conversas extraídas do celular de Bolsonaro, o pastor aparece incentivando diretamente o ex-presidente a publicar vídeos e mensagens com críticas ao STF – tudo isso mesmo após decisões judiciais que proibiam Bolsonaro de usar redes sociais.
As mensagens mostram Malafaia enviando conteúdos com orientações explícitas de horário para publicação e frases de impacto. Em uma das mensagens, pede que o ex-presidente encaminhe um vídeo com a frase: “Se você se sente participante desse vídeo, compartilhe. Não podemos nos calar!”
O líder bolsonarista se queixou da divulgação de conversas pela PF e disse que “parte da imprensa” desvia o foco dos supostos crimes de Moraes, publicando conteúdos de conversas íntimas.
“Alexandre Moraes permite à Polícia Federal vazar conversas, o que é crime. É crime!”, gritou o pastor. “Aí, grande parte da imprensa comenta o que o Malafaia falou, o que Bolsonaro falou, o que Eduardo falou, mas não mostra os crimes. Alexandre Moraes trabalha com mão de ferro nesses inquéritos. O delegado federal e a turma lá não fazem nada que ele não autorize. O vazamento é crime”, esbravejou Malafaia.
Sobre o conteúdo das conversas, o pastor minimizou as críticas a Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) e defendeu a articulação feita pelo deputado federal e filho do ex-presidente para a imposição de sanções ao Brasil.
“Eu não sou bolsominion, eu não sou um cara manipulado para bajular. Eu me posiciono”, disse Malafaia. “Eu não critico no sentido de que o Eduardo tá errado, não. Ele está certo, vai recorrer a quem?”, declarou o pastor que foi questionado se haveria algo de comprometedor no celular apreendido.
“Minha filha”, disse, dirigindo-se à entrevistadora, “vou repetir de novo, com muito respeito a você, que você me trata muito bem, vou repetir de novo: o que falei para Bolsonaro é o que eu falo em vídeos. Eu não falei nada de mais.”
Sobrou para Hugo Motta
O pastor defendeu a anistia aos condenados na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado no Brasil com vistas a manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Nesse momento, Malafaia relatou um “acordo” feito por Motta com a extrema direita para sua eleição como presidente da Câmara dos Deputados. O pastor disse que o republicano “não tem palavra”.
“Uma vergonha. A maioria dos deputados decidiu para discussão de um projeto de anistia. E o senhor Hugo Mota não tem palavra, porque quando ele foi candidato, ele fez acordo com a oposição e com a esquerda. Qual o acordo que ele fez? O acordo que ele fez com a direita e com a oposição foi o seguinte: ‘bem, se vocês conseguirem as assinaturas suficientes para pautar, eu vou pautar”, disse Malafaia, que acusou Motta de “estar preso” no STF, porque o Supremo“tem coisas contra a família” do presidente da Câmara.
“Ele está preso lá no STF que tem coisas contra a família dele. Então ele está fazendo um jogo sujo, vergonhoso e mostrando que não tem palavra. E o povo da Paraíba vai dar uma resposta para ele”, disse o pastor bolsonarista.
Investigação
No dia 14 de agosto, Silas Malafaia, pastor da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e aliado de Jair Bolsonaro foi incluído, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no inquérito da Polícia Federal, que também investiga o ex-presidente, seu filho Eduardo Bolsonaro e o jornalista e neto do ditador João Figueiredo Paulo Figueiredo por ações contra autoridades, agentes públicos e por articular sanções internacionais contra o Brasil.
Eles são acusados pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito.
Segundo a investigação, as ações dos quatro investigados visavam atrapalhar o andamento da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado, na qual Bolsonaro é réu, e que caminha para sua conclusão nas próximas semanas.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do STF e da Câmara dos Deputados, para que o ministro Alexandre de Moraes e o deputado Hugo Motta possam responder às acusações de Malafaia, mas não obteve retorno até o momento da publicação. O espaço segue à disposição