Com os recentes desdobramentos da possível prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, após ter sido indiciado pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (20) por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, o cenário político para as eleições de 2026 se torna um campo maior de disputa para a extrema direita e a direita brasileira.
Para a cientista política Vera Chaia e o historiador Valério Arcary, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é a figura do bolsonarismo com maiores chances em 2026, pelo seu tom “aparentemente moderado”. Mas a futura posição do atual governador depende do desfecho de Bolsonaro frente à PF e ao Supremo Tribunal Federal (STF) para se impor efetivamente como presidenciável.
“O Tarcísio espera o momento certo. Às vezes ele é bolsonarista, às vezes não. Ele está em cima do muro, esperando ver o que vai acontecer com Bolsonaro, que já é inelegível e está com a prisão quase pronta, sem possibilidade de recuperar a sua elegibilidade. Portanto, não existe mais a possibilidade de ser candidato. Mas, ao mesmo tempo, ele [Tarcísio] não tem o apoio da família Bolsonaro nem do ex-presidente”, afirma Chaia.
A pouco mais de um ano para as eleições, a tendência do bolsonarismo é manter seu poder e deixar para nomear o candidato à Presidência no último momento. Mas essa estratégia está sendo veementemente questionada pelas classes dominantes, avalia Arcary. “A pressão das frações mais poderosas da classe dominante é passar o bastão o mais rápido possível. Ou seja, está muito claro para a classe dominante que a única possibilidade de derrotar Lula é ter uma candidatura como a de Tarcísio de Freitas, que une a direita liberal com a extrema direita. Eles compartilham o mesmo projeto histórico”, afirma.
Os especialistas também concordam em relação ao protagonismo do atual governador frente a outros candidatos da extrema direita. “Ele é o mais forte candidato a disputar as eleições contra a reeleição de Lula. Ele é, digamos, a carta na manga”, afirma o historiador.
“Em termos de liderança, ele tem mais condições do que os outros ‘bolsonaristas’. Não sei o que vai acontecer com o Tarcísio de Freitas, mas ele tem mais chances do que outros candidatos porque é mais moderado, pelo menos aparentemente”, reforça Vera Chaia.
Em meio às investigações da Polícia Federal, o pastor Silas Malafaia também foi um dos alvos. Nesta quinta-feira (21), o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo publicou um vídeo nas redes sociais em que critica as investigações e ofende o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O relatório da PF apontou uma série de trocas de mensagens e documentos que mostram um pedido de asilo político do ex-presidente à Argentina.
Para Chaia e Arcary, a força política do pastor está atrelada a Bolsonaro e, com a possível prisão do ex-presidente, os dois perdem fiéis e apoiadores. “Vai existir um problema em termos de renovação dessa liderança, a partir do momento em que Jair Bolsonaro for encarcerado, seja em prisão domiciliar, seja em prisão fechada. O próprio Silas Malafaia está ciente de que vai perder poder, daí toda a pressão que faz nas manifestações em relação ao Supremo Tribunal Federal. Ele se aliou a Bolsonaro, escreveu discursos, teve sua manifestação ligada a Jair Bolsonaro, portanto está diretamente ligado a esse grupo político”, defende a cientista política.
8 de janeiro
A troca de mensagens divulgada pela PF entre o ex-presidente e seus aliados, especialmente Eduardo Bolsonaro, revelou que não havia intenção de pedir anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, mas apenas para Jair Bolsonaro. Esse novo cenário enfraquece a pauta de anistia que o Congresso deseja levar adiante, avalia a cientista política. “Algo surpreendente, que nós não tínhamos conhecimento, foi divulgado. A discussão entre Eduardo e Bolsonaro, entre Silas Malafaia e o ex-presidente, mostra uma ação individualista, em prol da própria família Bolsonaro, e nunca se pensou em uma anistia geral para todos os envolvidos no 8 de janeiro.”
“Seria um absurdo os parlamentares entenderem que deve haver anistia nessa situação, uma vez que se trata de um grupo político e de uma família que trabalha em prol de si mesma, em prol de uma liderança, e que não tem nada a ver com o Brasil. Eduardo Bolsonaro foi para os Estados Unidos, entrou em contato com a extrema direita de lá, negociou e tentou negociar a anistia do pai, em detrimento do Brasil. O tarifaço prejudicou o país como um todo. Então, eu acho que só se ocorrer uma catástrofe para os parlamentares agirem em prol do Bolsonaro”, avalia Chaia.
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