João Pessoa será palco, neste sábado (23), de uma programação que celebra a força feminina do coco de roda. À tarde, acontece o Encontro das Mestras, no bairro dos Novais, e à noite, o espetáculo Mestra Midinha e o Coco Ancestral, na Usina Cultural Energisa. Ambos os eventos são abertos ao público.
O Encontro das Mestras no bairro dos Novais acontece a partir das 15h, na sede da Ciranda do Sol e do Cavalo Marinho Infantil Sementes do Mestre do Boi, na Rua da Alegria, nº 165. A roda de diálogo terá participação de: Mestra Tina (Ciranda do Sol, João Pessoa), Mestra Ana do Coco (Coco Novo Quilombo, Conde) e Mestra Midinha (Quilombo Riacho do Algodão, Congo, Cariri da Paraíba).
Segundo Arthur Costa, brincante da cultura popular, o evento propõe uma vivência de troca: “A ideia é que seja um diálogo, uma espécie de conversa entre as mestras sobre seus modos de brincar o coco, com canto e dança. O público é convidado a participar, mediante contribuição voluntária para a manutenção do espaço”, explicou.
Show da Mestra Midinha
Às 22h, a programação se desloca para a Sala Vladimir Carvalho, na Usina Cultural Energisa, onde Mestra Midinha apresenta o espetáculo Coco Ancestral. Mulher negra, agricultora e liderança do Quilombo Riacho do Algodão (Congo-PB), a artista sobe ao palco acompanhada de outras mulheres quilombolas, em uma roda que mescla canto coletivo, dança, batida no chão e versos que atravessam gerações.
“Sou muito feliz porque o povo me dá força e incentivo. Meus filhos não se interessam em cantar, mas não tem problema: outras pessoas, vizinhos e moradores da cidade, se interessam. Já estive algumas vezes em João Pessoa e, agora, gostaria de convidar um grande público para ir nos assistir neste sábado. Desejo que muita gente se interesse, vá ver e prestigiar, porque quem assiste sempre gosta. Não será apenas meu show, mas também de mais três mestras que seguem comigo nessa caminhada”, complementa Midinha.
A apresentação da Mestra traz à cena a mazuca, estilo de coco de roda típico do Cariri paraibano, hoje pouco praticado. O grupo Acauã fará a base musical.
A voz de quem guarda a memória
Ao Brasil de Fato PB, Mestra Midinha destacou a responsabilidade de manter viva a tradição: “Eu aprendi esses cantos porque vi meus pais cantar e dançar. Eles já não estão mais aqui comigo, e pensei que essa arte ia se acabar. Mas Deus me deu o dom de lembrar das músicas, então comecei a cantar e dançar. Hoje, sigo com essa tradição que vem de 1862, e sou muito feliz porque o povo me dá força e incentivo”, contou a mestra, de 71 anos.
“Esses cantos vêm de uma geração muito antiga, de raiz em raiz. O que sei da história, que me foi passado por outros, é que datam de 1862. Eu sigo segurando essa tradição, mesmo sem entender direito como – porque foi Deus quem me consentiu. Eu já estava quase caindo no fundo do poço, mas felizmente consegui me levantar. Tenho mais irmãos – somos em 11. As mais velhas também cantavam, mas já faleceram. As que restaram não gostam, até porque são mais idosas que eu”, complementa ela.
O projeto Viva Usina 2025 é realizado pela Atua Comunicação Criativa com apoio do Instituto Energisa, patrocínio da Energisa e realização do Ministério da Cultura e Governo Federal