Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve avanços na mobilidade social e aumento da renda média familiar. Dados agregados pelo levantamento, referentes ao primeiro biênio de “Lula 3”, apontam crescimento de 17,9% da classe média (de 32,8 para 38,6 milhões) e recuo de 33% no contingente classificado como “miseráveis” (de 19,3 para 12,9 milhões). Para o autor da pesquisa, o economista Waldir Quadros, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), caso não haja retrocessos na economia, a perspectiva é de que o governo siga atingindo bons indicadores.
“O emprego está crescendo, porque a economia está crescendo, e a renda também melhorou, a renda média familiar. Nós podemos olhar todas as rendas dos trabalhadores, tudo melhorou. Então, é possível, sim, que nesses dois, um ano e meio agora, esse período final de governo, se não houver um brutal retrocesso na economia, ou seja, uma profunda recessão que não está no horizonte, uma condição excepcional, vai continuar melhorando, com certeza”, afirmou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quinta-feira (21).
Apesar dos indicadores positivos, o estudo destaca que a popularidade do governo não os acompanha. Segundo Quadros, há uma desconexão inédita verificada em duas décadas de pesquisa.
“Eu já trabalho com essa base de dados e metodologia há mais de 20 anos. Foi a primeira vez que ocorreu essa desconexão, porque, normalmente, há uma melhoria na mobilidade social e melhora o reconhecimento do governo pela população”, revelou o pesquisador. Para o economista, uma das justificativas para a desconexão tem dimensões políticas e ideológicas. Durante o primeiro ano, o governo estaria “manietado” pelo Congresso e pelo mercado financeiro, que preferem “um governo fraco, que não possa escapar do seu garrote”.
Falha na reindustrialização
Em uma avaliação dos três mandatos do presidente Lula, o pesquisador afirma que, apesar dos avanços sociais expressivos, a falta de investimento na reindustrialização do país é uma falha. “Você vê, cresce a economia, tem essa mobilidade ultraexpressiva, mas quais as oportunidades para os jovens? Não tem desenvolvimento industrial, tecnológico. Crescemos com base no agronegócio e no comércio, serviços. Isso aí é uma baixa performance em relação, inclusive, ao que já tivemos no Brasil”, afirma.
As chances para uma mudança no cenário são estruturais e políticas, defende Quadros, com a “revolução pelo voto“. “Quando o Lula chega agora no terceiro mandato, ele tem que parar com a quebradeira deixada pelo Bolsonaro. Mas ainda não conseguiu atuar do ponto de vista da reindustrialização. E nem vai conseguir com esse Congresso, porque é ele quem comanda os grandes interesses por trás do agronegócio e do sistema financeiro”, avalia.
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