O artista visual e professor porto-alegrense Gustavo Assarian, de 32 anos, está entre os indicados ao Prêmio PIPA 2025, uma das mais relevantes premiações de arte contemporânea no país. A votação popular teve início na última segunda-feira (18) e segue até as 23h59, deste domingo (24), por meio da página oficial da premiação. Assarian já alcançou o 3º lugar na primeira fase.
Criado em 2010 pelo Instituto PIPA, o prêmio tem como objetivo incentivar artistas visuais, difundir suas produções e valorizar a arte contemporânea brasileira. Todos os anos, seis artistas são premiados: quatro escolhidos por um júri especializado e dois por votação popular, na categoria PIPA Online.
“Fiquei em choque quando recebi a notícia. Esse é um prêmio para o qual não existe inscrição, apenas indicação. Só o fato de estar entre os artistas selecionados já é um grande reconhecimento”, afirma Assarian.

Trajetória e ancestralidade
Natural de Porto Alegre, Assarian cresceu em Encruzilhada do Sul (RS) e desde a infância esteve ligado ao desenho e à pintura, com apoio da família. É descendente de armênios, por parte do pai, e de negros, pela linhagem materna.
“A minha ancestralidade tem impacto direto na minha produção, e ambos os lados da minha família tem um histórico difícil que ainda reverbera na minha existência. Pensando, pelo lado da minha mãe, sobre a negritude e todas as questões de racismo estrutural que nos atravessam, e pelo lado do pai, com tentativa de apagamento étnico sofrido pela população armênia com o genocídio de 1915.”
O interesse de Assarian pela arte se manifestou muito cedo. “Meus pais perceberam essa veia artística e me estimularam. Comecei a ter aulas de desenho aos sete anos com um professor que se tornou como um segundo pai para mim”, relembra.

Ele teve aulas com esse professor até os 14 anos. “Ele me contava que era proibido desenhar na infância pela família. Infelizmente, ele faleceu neste último sábado, e estou vivendo ainda um processo de luto, mas não poderia deixar de citar essa figura tão relevante para minha trajetória. A partir de tudo isso acabo pensando na minha existência e na minha prática artística como símbolo de resistência, étnica, cultural e da própria linguagem do desenho.”
Graduado em bacharelado e licenciatura em artes visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde também cursa o mestrado em poéticas visuais, Assarian já participou de cerca de 25 exposições, entre elas no Sesc São Paulo e Rio de Janeiro e na Pinacoteca do Ceará. Ainda durante a graduação Assarian foi residente da Casa Estudantil Universitária de Porto Alegre (Ceupa).
“Por mais que eu goste do meu estado e de morar aqui, preciso admitir que existem muitas dificuldades para atuar como artista visual. Há uma questão de precariedade e informalidade no mercado de trabalho. A maioria dos artistas trabalha de forma independente, e, embora existam oportunidades, editais, concursos, espaços expositivos, elas são mais escassas se comparadas a São Paulo. Por isso, muitos artistas nascidos aqui acabam se mudando para lá.”

Arte como memória e denúncia
Em sua pesquisa, o artista trabalha sobretudo com desenho e pintura, em obras marcadas por um diálogo entre memória, trauma e delicadeza. “Minha produção nasce de situações de crise. Uso a arte como forma de guardar memórias e dar destino a traumas. É um jeito de responder às armas e às pedras com flores”, explica.
Entre os trabalhos que apresenta ao Prêmio PIPA está Indiscutivelmente, mural criado em 2023 no Instituto Ling, em Porto Alegre. A obra nasceu de uma experiência pessoal de violência e, segundo ele, carrega também um gesto de denúncia.
“Proponho um enfrentamento direto com aquilo que muitas vezes é reprimido ou silenciado. É também um gesto político, um chamado à responsabilidade e à escuta. Denunciar é jogar luz ao que tende a ser apagado e com isso tensionar estruturas de poder que moldam o que pode ou não ser visto, dito, lembrado. É reivindicar espaço para memórias que incomodam e corpos que foram e são historicamente atravessados pela dor, para que sejam reconhecidos e que ganhem contorno, presença e voz.”
Assarian descreve sua prática como detalhada e sistemática, baseada na sobreposição de camadas e na repetição paciente de gestos. “É um processo que me permite preencher melhor as figuras, torná-las mais presentes e transformar o sofrimento em criação”, afirma.
Apesar de o mural no Instituto Ling ter sido apagado meses após sua criação, o artista encarou o ato como parte da própria obra. “Eu iniciei o trabalho já me despedindo. Quando foi apagado, criei uma ação que chamei de ‘processo de apaziguamento de memórias’”, completa.
Votação pode ser realizada neste link.