Pelo menos 63 palestinos foram mortos em novos ataques de Israel contra a Faixa de Gaza neste sábado (23), segundo informações da rede Al Jazeera baseadas em fontes médicas locais. O avanço militar israelense se concentra na Cidade de Gaza, onde os esforços internacionais por um cessar-fogo seguem paralisados.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, chegou a ameaçar “destruir a Cidade de Gaza” caso o Hamas não aceitasse as condições impostas por Tel Aviv, sem esclarecer quais seriam. Enquanto isso, civis permanecem no centro da ofensiva. Um bombardeio contra tendas que abrigavam famílias deslocadas matou 16 pessoas, entre elas seis crianças, na região de Asdaa, a noroeste de Khan Younis, no sul da Faixa.
Ao longo do mesmo dia, outros 22 palestinos foram assassinados quando tentavam acessar ajuda humanitária, uma realidade cada vez mais comum no território. De acordo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU, entre 27 de maio e 13 de agosto, ao menos 1.760 palestinos perderam a vida em situações semelhantes.
Fome é arma de guerra em Gaza
A crise humanitária se aprofunda não apenas pelos bombardeios, mas também pela fome. Autoridades de saúde palestinas informaram que oito pessoas, incluindo duas crianças, morreram de desnutrição nas últimas 24 horas. O total de vítimas pela fome chega a 281 desde o início da guerra, sendo 114 crianças.
Na sexta-feira (22), a ONU confirmou oficialmente que Gaza vive situação de fome. Mais de meio milhão de pessoas estão “presas em uma realidade de inanição generalizada, miséria e mortes evitáveis”. A classificação só é feita quando três limites críticos são atingidos: privação extrema de alimentos, desnutrição aguda e mortes diretamente relacionadas à fome.
Segundo o organismo, Israel tem praticado “obstrução sistemática” à entrada de ajuda humanitária no território devastado pela guerra, e o secretário-geral António Guterres classificou a crise como um “desastre provocado pelo homem”. O monitor global de segurança alimentar IPC estima que 514 mil palestinos, cerca de um quarto da população da Faixa de Gaza, já vivem em condição de fome, número que pode subir para 641 mil até o fim de setembro.
Mesmo diante das evidências, o governo israelense nega a tragédia. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do país classificou o relatório da ONU como “tendencioso” e afirmou que “não há fome em Gaza”, acusando o Hamas de manipular informações.
Mais de 62 mil mortos em Gaza
Desde 27 de maio, Israel passou a impor um mecanismo unilateral de entrega de ajuda humanitária, conhecido como GHF, com apoio dos Estados Unidos. A iniciativa foi rejeitada pela ONU e por grandes organizações de socorro, que a consideram ilegítima e incompatível com princípios humanitários básicos, como independência e neutralidade.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, desde a criação do esquema mais de 2.076 palestinos foram mortos e 15,3 mil ficaram feridos enquanto buscavam auxílio. No total, Israel já matou mais de 62,6 mil palestinos na Faixa de Gaza desde o ataque liderado pelo Hamas contra o sul de Israel, em outubro de 2023.