O mês de julho de 2025 registrou a menor área queimada desde o início da série histórica do Monitor do Fogo do MapBiomas, em 2019. Foram 748 mil hectares atingidos, número 40% inferior ao mesmo período do ano passado, uma redução equivalente a 510 mil hectares. O Cerrado concentrou 571 mil hectares, equivalente a 76% de toda a área queimada no país no mês. Em seguida vem a Amazônia, com 143 mil hectares queimados, o que representa uma queda de 65% em relação a julho de 2024.
Para a pesquisadora Ane Alencar, diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora do MapBiomas Fogo, a queda se deve principalmente às condições climáticas mais úmidas em comparação a 2024. “No ano passado, tivemos um período, uma condição climática muito adversa, com uma seca pegando quase todos os biomas brasileiros. Esse ano tivemos o contrário. (…) Isso ajudou bastante a reduzir a atividade de fogo. Mas não é que não tivemos fogo. Estamos tendo uma atividade de fogo, mas está bem abaixo da média histórica, o que é um bom sinal”, explica em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta quarta-feira (27).
Cerrado e Amazônia
Alencar destaca que a ação humana é determinante para a ocorrência dos incêndios. “O Cerrado é um bioma que chamamos pirogênico, que alguns tipos de vegetação nativa (…) são adaptados ao fogo, às vezes até tolerantes, tem alguns tipos até dependentes do fogo. (…) Mas o que nós temos visto ao longo dos anos é que esse fogo tem se concentrado num momento em que a ignição [foco inicial] para o fogo não é natural”, diz.
Já a Amazônia, lembra a especialista, é uma floresta tropical úmida pouco adaptada ao fogo. Por isso, ela considera a redução das queimadas no bioma uma boa notícia. “A redução dos incêndios florestais significa floresta menos degradada e floresta menos suscetível a novos incêndios. Temos que comemorar muito essa redução, tanto da atividade de fogo quanto dos incêndios florestais na Amazônia”, afirma.
Principais fontes de ignição
Segundo a pesquisadora, as queimadas têm origem, sobretudo, em atividades humanas. “As principais têm sido o processo de desmatamento. (…) Um segundo tipo, que eu diria que até é o principal em termos de área queimada, principalmente na Amazônia, é a queima de pastagens plantadas. No Cerrado, é a queima de áreas de campos nativos. (…) Mas existem outras fontes, como queima de lixo, que às vezes escapa, a queima na beira da estrada”, lista.
Risco para os próximos meses
Apesar dos indicadores positivos, Alencar alerta para a necessidade de vigilância com a chegada do pico da seca. “Normalmente, a atividade de fogo se concentra entre agosto e outubro. (…) Tudo indica que nós não vamos ter um período de queimadas muito forte, o que novamente é uma boa notícia, mas precisamos continuar alertas. (…) O fogo acontece em um território e cada um de nós tem que apoiar essa vigilância, essa gestão e governança do fogo para que ele não saia do controle e não vire grandes incêndios”, conclui.
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