A possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência em 2026 movimenta a cena política e já provoca rearranjos entre setores da direita. Em entrevista ao podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, a cientista política Larissa Peixoto e o doutorando em mudança social e participação política Joselicio Junior analisaram os fatores que podem impulsionar ou frear esse movimento.
“Oficialmente, ele [Tarcísio] ainda não mudou de ideia [de se candidatar em 2026]. Teve esse vazamento estratégico da reunião ministerial do [presidente] Lula (PT), e parece que realmente ele vai topar essa candidatura. Mas eu ainda fico com o pé atrás pelo histórico do Tarcísio. Ele ainda tem uma reeleição que seria quase que garantida, enquanto ser candidato à presidência não é garantido. Pelo contrário, no momento a garantia é de que Lula se reelege”, afirma Peixoto.
Para Junior, a movimentação em torno do governador paulista envolve setores do poder econômico e aliados políticos de peso. “Quem está bancando a ideia de Tarcísio ser candidato? São justamente setores que acham que ele pode congregar um voto dessa dita extrema direita, mas basicamente alicerçado por parte do setor financeiro. Ele tem se apresentado como o nome mais forte dentro dos Faria Limers [apelido dado a executivos e investidores ligados à avenida Faria Lima, símbolo da elite econômica e especulativa do país] e tem figuras ao seu lado como [o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto] Kassab (PSD). Me parece que há setores muito poderosos se movimentando e que estão órfãos de uma alternativa política”, analisa.
O pesquisador avalia que sua gestão em São Paulo sinaliza o projeto que setores da elite buscam nacionalmente. “R$ 71 bilhões de isenção fiscal, que é mais do que o orçamento da saúde e da educação do estado, a privatização da Sabesp, uma política de segurança pública extremamente violenta. Ele dá todos os sinais. O programa que ele implementa é uma gestão ultra neoliberal e extremamente conservadora”, cita.
Bolsonaro em queda e disputa interna
O bolsonarismo, apesar de enfraquecido, ainda pesa no cálculo da direita. Segundo Junior, pesquisas de opinião indicam que o ex-presidente mantém apoio em torno de 30%. “Mostra que o bolsonarismo ainda é uma força política, apesar de cada vez mais estar sendo esvaziada do ponto de vista do poder econômico, que já busca uma alternativa”, diz.
Peixoto, por sua vez, destaca que governadores como Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR) têm pressa em se lançar, já que não podem se reeleger no mesmo cargo, diferentemente de Tarcísio. “Eles não têm nada a perder. Eles já estão no segundo mandato como governadores e não têm para onde ir. Eles vão ser candidatos a presidente ou vão sair desse jogo”, compara.
Perfil camaleônico e estratégias
A cientista política ressalta que Tarcísio se molda conforme a conjuntura. “Não tem como saber quem é Tarcísio. Ele foi do governo da [ex-presidente] Dilma [Rouseff (PT)], foi consultor legislativo, foi ministro do [ex-presidente Jair] Bolsonaro (PL), abraçou Bolsonaro para ser governador, entrou para o Republicanos, mudou de postura em relação à religião, à forma de se vestir. Ele pega oportunidades. Nisso ele é muito estratégico, muito inteligente”, pontua.
Para ouvir e assistir
O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.