Novas imagens reveladas de câmeras corporais reacenderam o debate sobre a Operação Escudo, que completou dois anos e deixou mais de 80 mortos na Baixada Santista, litoral de São Paulo. O único caso ainda em aberto é o do motoboy Evandro Alves da Silva, que aparece nos vídeos dentro de um banheiro no momento em que foi atingido por disparos de policiais militares.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o mestre em Ciências Sociais e ex-ouvidor da Polícia Militar de São Paulo, Benedito Mariano, criticou duramente a ação. “A Operação Escudo na Baixada Santista é uma operação com característica de vingança a partir da morte de três policiais militares em serviço. […] Essa operação é um escândalo. Foram mais de 600 policiais que participaram dessa operação, que vitimou mais de 80 pessoas, com indícios grandes de que as mortes não se deram por confronto”, denuncia.
Mariano destaca ainda que a ausência de câmeras corporais em grande parte da tropa impede a apuração adequada das circunstâncias das mortes. “São Paulo foi o estado que mais adquiriu câmeras corporais, mais de 11 mil. Os mais de 600 policiais que participaram dessa operação, a maioria absoluta, não usavam câmeras corporais. Portanto, isso dificulta a apuração”, indica.
“Esse tipo de operação não deve acontecer. Ela teve característica de ‘operação vingança’. Não temos elementos objetivos para dizer que as pessoas que morreram nessa operação morreram em confronto com a polícia. […] É uma demonstração de política equivocada do governo do estado de São Paulo, a Operação Escudo e outras ações que vitimaram centenas de pessoas”, defende.
Terror nas periferias
Para o ex-ouvidor, a operação não atingiu o crime organizado e teve como principal efeito o “terror nas periferias”. “Excursões policiais nas periferias que vitimam sistematicamente a juventude pobre e negra não dão conta de resolver a situação do crime organizado no país. […] Essa operação escudo é, talvez, o maior exemplo da política equivocada que vem sendo feita no Estado de São Paulo”, aponta.
Ele defende que o enfrentamento às organizações criminosas deve ser feito com inteligência policial e articulação nacional. “O crime organizado se combate com ações coordenadas pela Polícia Federal, Receita Federal, que desmantelou uma rede de empresas relacionadas a combustível, que envolve bilhões de reais. […] É urgente fortalecer o enfrentamento às organizações criminosas e, ao mesmo tempo, investir em um programa de policiamento de proximidade nas periferias”, opina.
Para ouvir e assistir
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