O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi recebido nesta quinta-feira (4) pelo presidente do Equador, Daniel Noboa, em Quito. A visita ocorre em um contexto de estreita aproximação do governo equatoriano com Washington, sendo Noboa um dos principais aliados da administração de Donald Trump na região.
Rubio chegou à capital equatoriana após visita ao México. O encontro acontece em um momento em que o Equador enfrenta uma das piores crises de violência de sua história: apenas no primeiro semestre de 2025, foram registrados 4.619 homicídios, o número mais alto da história do país.
Em 9 de janeiro de 2024, Noboa declarou que o país atravessa um “conflito armado interno” e determinou a suspensão das garantias constitucionais para a população.
Em uma medida surpreendente, apenas 48 horas antes da visita do secretário de Estado dos EUA, o presidente equatoriano ordenou a destituição da cúpula militar que coordena as operações do “conflito armado interno”. Segundo comunicado oficial do Ministério da Defesa, a mudança responde a uma “nova fase da guerra que o Equador enfrenta”.
De acordo com fontes locais, a nova cúpula militar designada é composta por oficiais que atuaram como agregados militares nos Estados Unidos ou que realizaram parte de seus estudos naquele país. Segundo declarações recentes à imprensa local do ex-vice-ministro da Defesa Felipe Vega de la Cuadra, o movimento dentro das Forças Armadas estaria relacionado à crescente pressão de Washington contra a Venezuela.
Bases militares no Equador
Após se reunir com Noboa, o secretário de Estado dos Estados Unidos concedeu uma coletiva de imprensa na qual anunciou que os EUA declararam oficialmente como organizações terroristas os grupos criminosos conhecidos como Los Choneros e Los Lobos. A decisão havia sido assinada pelo próprio Rubio no início de agosto, mas só foi publicada em 4 de setembro, coincidindo com a viagem ao Equador.
“Isso traz consigo toda uma série de opções que os Estados Unidos podem implementar por meio de nossas leis”, afirmou. Além disso, anunciou que o Departamento de Estado dos EUA destinará US$ 13,5 milhões para o combate ao narcotráfico no Equador e que o governo Trump está “trabalhando” para alocar outros US$ 6 milhões destinados a drones, com o objetivo de reforçar as capacidades da Marinha. Disse, ainda, que “isso é apenas o começo”.
Rubio também destacou que, durante o diálogo com Noboa, foi discutida “a possibilidade de levar equipamentos militares dos Estados Unidos ao território equatoriano, em cooperação, obviamente, com o governo, o que cria oportunidades para trabalhar em conjunto, treinar juntos e enfrentar uma ameaça que temos em comum”.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de abrir uma base militar no Equador, Rubio afirmou que o país “é um ponto muito estratégico” e que, se o governo equatoriano “convidar” os Estados Unidos a voltar, estariam dispostos a estudar a possibilidade.
“Vamos considerar, porque se nos pedirem, vem de um aliado e amigo. E é um lugar estratégico, muito estratégico. Obviamente, como país soberano, ele precisa nos convidar e tem que ser algo formal, mas vamos analisar de perto”, disse.
Atualmente, o Equador proíbe, em sua Constituição (artigo 5º), a instalação de bases militares estrangeiras em seu território. Essa proibição foi estabelecida pelo então presidente Rafael Correa (2007-2017), por meio da Reforma Constitucional de Montecristi, promulgada em 2008. Na ocasião, o país conseguiu que os Estados Unidos desocupassem a base que mantinham na cidade costeira de Manta, que funcionou entre 1999 e 2009.
O governo de Daniel Noboa atualmente promove uma consulta popular sobre um conjunto de reformas constitucionais. A consulta será realizada em meados de dezembro e inclui sete perguntas. A primeira delas trata da eliminação da proibição de estabelecer bases militares estrangeiras.
Além disso, o pacote de reformas promovido por Noboa inclui a eliminação do financiamento estatal aos partidos políticos, a redução do número de deputados e a extinção do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social — órgão responsável pela nomeação das autoridades de controle — entre outras propostas.