Mães, pais e profissionais da saúde protestaram na manhã de quarta-feira (3) contra o fechamento do Pronto Atendimento do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), em Belo Horizonte. A unidade está ameaçada diante da construção do Complexo Hospitalar Padre Eustáquio (HoPE), proposto pelo governo Zema (Novo). A transferência do Hospital João Paulo II para o HoPE poderá levar ao fechamento do Pronto Atendimento da unidade, porque o novo hospital não será de “porta aberta”.
Conforme documentos oficiais, “para o Complexo Hospitalar foi definido que o HIJPII não irá realizar os atendimentos de pronto atendimento classificados como serviços de menor complexidade. Assim, ratifica-se que o hospital não é ‘porta aberta’ e seu atendimento é voltado exclusivamente para atendimentos regulados (via Central de Regulação de Leitos ou Central de Regulação do SAMU) e egressos do hospital”.
Em 2024, o HIJPII atendeu 64,9 mil crianças mineiras. Os pacientes de BH somaram mais da metade dos atendimentos, um total de 37,9 mil crianças. 26,6 mil foram de pronto atendimento. Além do volume, a capilaridade do hospital também é significativa e demonstra a importância da unidade para todo o estado. Em 2024, o João Paulo II atendeu crianças de 530 municípios mineiros.
Rafaela de Souza é mãe de uma criança atípica de 1 ano e 2 meses. A filha faz todo o tratamento que é necessário na unidade, com atendimento especializado em diversas áreas.
“Eu cheguei aqui muito desesperançosa depois do diagnóstico [de nanismo] da Hadassa, mas, graças a Deus e aos profissionais, esse hospital se tornou um abrigo para nós”.
Souza relata que em experiências de atendimento particular, além do altíssimo custo, foi destratada e não ficou satisfeita com o serviço. “Eles perderam até o histórico hospitalar da minha filha”, detalha.
Diferente da experiência com a rede privada, a mãe conta que em uma internação de emergência por bronquiolite, os profissionais do HIJPII não cessaram até desvendar todo o diagnóstico da filha.
“Ela já tinha sido tratada, mas continuava com a respiração estranha. Eles não pararam até descobrir o que era, aí foi diagnosticado a laringomalácia e lá mesmo já deram continuidade no tratamento”, explica.
“Me dá uma tristeza profunda e um desespero em saber que talvez a gente não possa mais contar com esse espaço”, desabafa angustiada.
Sobre o impasse, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) argumenta que não seria sua função prestar atendimentos pediátricos de baixa complexidade, apontando que a Prefeitura de Belo Horizonte deveria assumir essa função abrindo um novo Pronto Atendimento Pediátrico na região, junto à UPA Centro-Sul. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, esclareceu, via pedido de informação da Câmara Municipal de BH requerido pelo vereador Bruno Pedralva (PT), que a pasta não tem condições de absorver o atendimento prestado pelo João Paulo II.
Diante disso, Pedralva indaga qual será o futuro dos pacientes, sobretudo das crianças e adolescentes da regional centro-sul que possuem apenas o Pronto Atendimento do HIJPII como opção para casos de urgência pediátrica.
“Fechar o maior e melhor pronto atendimento pediátrico de Minas Gerais vai representar um crime contra o direito à saúde das crianças e suas famílias”, aponta o parlamentar.
“Vou lutar para que durante a tramitação da cessão do terreno de BH para o HoPE consigamos garantir como contrapartida do governo de Minas Gerais o compromisso de manutenção do Pronto Atendimento do João Paulo”, reforça o vereador, que também é médico da rede SUS de BH.
Outra preocupação apontada na manifestação foi a transferência de pacientes da UTI, já que há 15 dias a Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital João Paulo II está fechada. O encerramento da UTI é justificado pelo governo de Minas Gerais como algo pontual, motivado por obras no local. No entanto, o processo vivenciado pelo João Paulo II é o mesmo enfrentado no Hospital Maria Amélia Lins (HMAL). Desde o começo do ano, a unidade está fechada sob a mesma alegação, o que tem impedindo a realização de cerca de 2 mil cirurgias ortopédicas. Ao longo da execução da obra a Fhemig apresentou uma ação para terceirização do hospital.