A 48ª Expointer 2025 sediou, nesta quinta-feira (4), a um debate sobre o futuro do setor agrícola: o Seminário sobre Transição do Modelo de Produção na Agricultura Familiar. O evento, com foco em Inovação e Sustentabilidade a partir do Método Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH+) , ocorreu no Auditório da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), localizado no Parque de Exposições Assis Brasil.
Organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS) em colaboração com a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Ocergs, o seminário reuniu líderes sindicais, especialistas, agricultores e representantes do poder público. O objetivo foi explorar caminhos para um modelo de produção sustentável, rentável e inovador, alinhado às necessidades da agricultura familiar.
O SPDH+ é um método de transição para a agricultura agroecológica, que visa a saúde do solo, das plantas, das pessoas e do meio ambiente, reduzindo o uso de insumos e aumentando a produtividade e a autonomia da agricultura familiar. Por meio do Projeto Terra à Mesa, a federação oferece acompanhamento e assessoria a 300 famílias na implementação do método.
A abertura do evento contou com a análise do coordenador-geral da Fetraf-RS Douglas Cenci, que abordou as consequências do modelo atual para a agricultura familiar e a construção de um modelo mais justo. Para Cenci, a discussão da transição do modelo produtivo é determinante para a continuidade da agricultura familiar e o enfrentamento das mudanças climáticas.
Em seguida, o agrônomo Joel Tomasi, do Instituto Catarinense de Apoio à Agricultura Familiar (Icaf-SC), apresentou o método SPDH+ como uma ferramenta para uma transição agrícola. Sua apresentação destacou a relevância da inovação tecnológica em conjunto com o respeito ao meio ambiente e às condições sociais do campo.
Cenci complementou, mencionando a participação de agricultores, entidades e lideranças. Segundo ele, o envolvimento aponta para o “caminho certo” nas experiências realizadas, além da “necessidade de ampliar e fortalecer o trabalho”.
Politicas públicas
O painel final, intitulado “O papel e as ações do Poder Público na Transição do Modelo Produtivo”, contou com a presença dos deputados estaduais do Partido dos Trabalhadores, Pepe Vargas, presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e Zé Nunes, presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo. Ambos reforçaram a necessidade de políticas públicas para viabilizar essa transformação.
Vargas destacou que os recentes desastres climáticos evidenciam a urgência de sistemas produtivos sustentáveis. Segundo ele, muitos não acreditavam que os efeitos das mudanças climáticas seriam tão rápidos, mas os prejuízos já são visíveis na agricultura, no poder público e nas famílias agricultoras. Apenas no Rio Grande do Sul, o governo federal destinou mais de R$ 115 bilhões para mitigar impactos, além de aportes do Estado e das perdas diretas sofridas pelos produtores. “A agricultura sofre nos dois extremos: tanto pelo excesso quanto pela falta de chuvas. Essa crise mostra que não é mais possível produzir como antes, ignorando a conservação do solo e o manejo sustentável”, afirmou. Para o parlamentar, iniciativas como o SPDH+ reduzem custos de produção, diminuem o uso de insumos químicos, melhoram a fertilidade do solo e ainda colaboram com a preservação ambiental.
O parlamentar ressaltou que a agricultura familiar tem sido exemplo de produção sustentável, mas defendeu que as políticas públicas acompanhem esse esforço. Ele apontou a necessidade de garantir recursos diferenciados no Plano Safra e condições especiais de financiamento para produtores que adotam práticas sustentáveis. “Quem faz diferente precisa ser tratado de forma diferente”, frisou. O deputado também parabenizou a FETRAF pela iniciativa e reforçou que a Assembleia Legislativa, por meio da Comissão de Agricultura, está à disposição para contribuir no debate e na construção de políticas que fortaleçam a agricultura familiar e a sustentabilidade no campo.
Por sua vez Nunes destacou a participação da Comissão de Agricultura no evento: “A nossa participação enquanto Comissão de Agricultura no evento da Fetraf-RS é importante porque ele traz uma reflexão sobre o modelo de produção e o modelo tecnológico diante das adversidades climáticas e também de todo o momento histórico que vivemos. Estamos em um contexto da produção de alimentos e do comércio mundial, com novas tecnologias chegando e com o desafio de evitar a concentração e garantir a viabilidade da produção familiar no campo”.
O evento sublinhou a necessidade de uma transição para um modelo que promova a vida no campo com maior produtividade e menores custos, ao mesmo tempo em que assegura a preservação ambiental e a resiliência diante das mudanças climáticas. A participação do poder público na missão de transformar o campo em um espaço mais rentável e que garanta a continuidade dos agricultores foi enfatizada.
“É papel nosso, enquanto pParlamento, articular, discutir e refletir com a sociedade sobre essas questões, para que possamos construir políticas públicas. Esse é o nosso dever institucional: transformar a reflexão em iniciativas e leis que garantam condições para a agricultura familiar continuar”, concluiu Nunes.