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Julgamento de Bolsonaro é histórico, e anistia seria ‘retrocesso absurdo’, avalia cientista política

Para Tathiana Chicarino, provas são robustas e chance de absolvição dos réus é 'quase nula'

A primeira semana do julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares do chamado Núcleo 1 da denúncia pela tentativa de golpe de Estado foi marcada por estratégias distintas de defesa, mas também pela constatação de que as provas contra os réus são robustas. A avaliação é da cientista política Tathiana Chicarino, ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.

“É um julgamento histórico mesmo, porque temos militares bastante importantes [envolvidos], inclusive alguns, como [o ex-ministro] Augusto Heleno, que tiveram participação na ditadura civil-militar no Brasil, que durou de 1964 até 1985. Uma ditadura bastante longa e muito violenta”, afirma.

Segundo Chicarino, os advogados dos réus atuam para reduzir danos, já que a absolvição é improvável. “As provas são muito robustas, então a chance de absolvição é quase nula”, analisa. Ela destaca que, ao contrário do discurso bolsonarista, o processo não se trata de uma atuação pessoal do ministro do STF Alexandre de Moraes, mas de uma posição institucional do Supremo. “O que temos visto é uma atuação institucional em defesa do Estado Democrático de Direito e fazendo valer a Constituição de 1988”, aponta.

Projeto de anistia é ‘impunidade’

Enquanto o julgamento avança, a direita e a extrema direita no Congresso articulam projetos de anistia para Bolsonaro e seus aliados. Para Chicarino, “trata-se de uma impunidade e mais, de presentear, brindar essas pessoas que cometeram crimes, que infringiram regras democráticas, que tentaram fazer com que a democracia não existisse mais no Brasil”.

Ela lembra que, historicamente, a anistia a militares golpistas resultou em novas violações. “Se tivermos uma anistia, uma impunidade, estamos falando de um retrocesso absurdo no Brasil. Esses mesmos militares vão voltar daqui a um, dois, três anos para tentar acabar com a democracia novamente”, prevê.

Chicarino também critica a tentativa de naturalizar a posição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em defesa de anistia. “Tarcísio é um político que está situado no espectro da extrema direita, e as tentativas de normalizá-lo levam a um processo de radicalização. É assim que a extrema direita opera.”

Disputa pela direita em 2026

A cientista política avalia que, mesmo condenado, Bolsonaro seguirá como um ator relevante na política brasileira. “É difícil pensar que, mesmo sendo condenado, ele perca completamente o poder. Ele e a sua família ainda têm relevância dentro do bolsonarismo, (…) especialmente por conta do ecossistema de mídias e grupos radicalizados em redes sociais”, diz.

Para ela, o cenário até 2026 será de disputa pela hegemonia dentro da direita. “Temos dois caminhos possíveis: uma candidatura de direita democrática ou a manutenção da trilha da extrema direita. (…) Hoje a força maior está na extrema direita, por conta dessas tentativas de emplacar a anistia, essa impunidade”, analisa.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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