O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta sexta-feira (5), que não pretende se envolver na atual disputa entre Estados Unidos e Venezuela, mesmo que o conflito escale. Em entrevista exclusiva ao SBT, Lula disse que vai focar em demandas internas, como a regulação das redes sociais, que, segundo o presidente, vai sair, “doa a quem doer”.
Durante a entrevista, conduzida pelo jornalista César Filho, Lula reforçou que a postura de seu governo é de defesa de soluções negociadas para quaisquer conflitos. “O Brasil vai ficar do lado que sempre esteve: do lado da paz”, garantiu, quando perguntado sobre a crescente tensão entre estadunidenses e venezuelanos.
“O Brasil não tem contencioso internacional, nem queremos contencioso internacional. O Brasil entende que a guerra não leva a nada. Não tem nada melhor que sentar à mesa e conversar”, prosseguiu o presidente.
A ideia de conversar, aliás, foi citada também na relação entre o governo brasileiro e a administração de Donald Trump nos EUA. O presidente repetiu uma frase que usou à exaustão nesta semana: “no dia que ele [Trump] quiser conversar, o Lulinha paz e amor está de volta”.
Apesar de afirmar que segue disposto a encontrar uma saída negociada para o tarifaço, o petista deu a entender que não acredita que isso vá acontecer tão cedo. Ele lembrou que escalou três nomes de primeira linha de seu governo para discutir com os estadunidenses: os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – e também vice-presidente) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). “Pergunta se alguém teve interlocutor?”, indagou, em tom de lamentação.
“Eu esperava conviver com o Trump da maneira que deve ser a convivência entre dois chefes de Estado”, apontou. “Se tem uma coisa que aprendi a fazer é negociar. E negociar com magnatas. O dia que o Trump quiser conversar, eu estou pronto. A relação Brasil-Estados Unidos vai voltar à normalidade. Se os presidentes não conseguem se acertar, pode ter certeza que o povo americano e o povo brasileiro vão se acertar”.
Na conversa com César Filho, Lula voltou a se posicionar de maneira contundente contra o genocídio israelense em Gaza. O jornalista citou acusações de que o presidente apoia o movimento Hamas.
“Se alguém diz que eu tenho simpatia pelo Hamas, é de uma ignorância, uma má-fé e uma estupidez que não merece crédito”, bradou. “Eu sou defensor do Estado palestino, que conviva harmonicamente com o Estado de Israel. E sou totalmente contra a ocupação que Israel está fazendo na Faixa de Gaza”, prosseguiu.
As acusações sobre a suposta simpatia ao Hamas, aliás, pipocam na internet. Esse foi outro tema que levou o presidente a deixar de lado a tal postura do “Lulinha paz e amor” e se manifestar de maneira firme. Ele afirmou que o governo vai à carga para garantir a regulamentação das big techs.
“O ódio não tem que ser estimulado. O que tem que ser estimulado é a paz, a harmonia, a tranquilidade, a boa convivência democrática, a civilidade entre a espécie humana. Vamos regular [as redes], doa a quem doer”, garantiu.
Em tom jocoso, César Filho citou teorias conspiratórias que envolvem o próprio Lula e o de outras figuras públicas, como Donald Trump, que, nesta semana, foi alvo de especulações sobre sua morte que viralizaram nas redes.
“Essa loucura da internet, ela facilita muito as inverdades. Eu já sou a quinta versão do Lula”, brincou o presidente. “Nós precisamos regular as empresas. Não é censura. O país tem que ter regra. O que vale na vida real, vale na vida digital. Se eu na vida real falar mentira, cometer falso testemunho, eu posso ser julgado. Na vida digital também”, complementou.
Ao encerrar a entrevista, Lula não fugiu da pergunta sobre a candidatura à reeleição em 2026 e afirmou que “se estiver com o estado de espírito e a saúde que estou hoje, não tenho dúvidas de que serei candidato a presidente da República”.