“Teve gente que chamou ele de ‘o cineasta dos vencidos’ ou ‘dos sonhos interrompidos’… A gente gosta de dizer que era o ‘cineasta da utopia’”, assim a pesquisadora Ana Chã, membra do Coletivo Nacional de Cultura do MST, descreve o legado de Silvio Tendler.
O documentarista morreu nesta sexta-feira (5), aos 75 anos , vítima de uma infecção generalizada.
O velório está marcado para às 11h deste domingo (7), no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro.
Tendler produziu mais de 100 obras, muitas consagradas nacionalmente, como foi o caso de documentários sobre Carlos Marighella, JK, Josué de Castro e João Goulart. Este último lançado em 1984 e que levou mais de um milhão de pessoas ao cinema, sendo até hoje uma das maiores bilheterias do país.
Mas, além de retratar personalidades icônicas, Tendler contou muito sobre o cotidiano da população, defende Ana Chã.
“Porque no fundo era sempre esse dar voz àqueles que não tiveram voz, dar imagem àqueles que não apareciam como protagonistas”, comenta, exaltando a prioridade que deu aos movimentos populares.
“O Silvio Tendler, para além desse grande documentarista brasileiro, era um amigo do MST de longa data, desses amigos mesmo de estar junto em todas as ocasiões, de apoiar, de prestar solidariedade. Os documentários [dele] estavam na lista de filmes a assistir, na ementa de uma série de disciplinas dos nossos cursos, sejam eles cursos formais, ou então os cursos de formação política, de militantes, de dirigentes da nossa base também”, ressalta.
Nesta sexta-feira (5), o MST realizou o plantio de uma árvore em homenagem ao cineasta. A ação foi a realizada no Centro Agroecológico Paulo Kageyama, assentamento localizado em Jarinu, interior de São Paulo. O ato também contemplou José Reinaldo Pinheiro de Jesus, militante do MST que morreu no mês passado.
Tendler produziu algumas obras sobre a luta pela terra, como O Veneno Está na Mesa, lançado em 2011, que faz parte de um trilogia de longas sobre o tema.
“Eu não saberia dizer, mas [as obras dele] foram usados centenas de vezes nos nossos cineclubes, nos nossos cinemas itinerantes, nas escolas de formação. Há 15 anos ele vinha denunciando toda essa relação com a saúde e sobre essa perda de soberania, porque são tudo empresas transnacionais que estão tomando de conta da agricultura brasileira e muito através daquilo que nos vendem como agricultura, como venenos fertilizantes, mas também da própria forma de trabalhar a agricultura”, lembra Ana Chã.
Em sua página, o MST se despediu do cineasta destacando que ele “foi um dos maiores cineastas brasileiros, militante sempre aliado às lutas da classe trabalhadora”. “Silvio nos deixa, mas seu legado seguirá eterno. Suas obras seguirão sendo arma de luta e resistência do povo brasileiro. Enquanto MST, assumimos o compromisso de zelarmos por sua história, suas obras e construindo essa arte que Silvio tão bem defendeu”, diz a nota.