O cientista social Jonas Medeiros, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), avalia que os atos bolsonaristas do 7 de setembro marcaram uma virada na postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para ele, o gestor paulista deixou de oscilar e “basicamente se colocou como um candidato não apenas de direita, mas também abertamente, explicitamente bolsonarista, o que significa, na verdade, um alinhamento à defesa do golpismo militar de 2022”.
Segundo Medeiros, essa guinada foi acelerada após cobranças de líderes religiosos aliados, como o pastor evangélico Silas Malafaia, e pela necessidade de agradar a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Ele precisa negociar o apoio com a família Bolsonaro, e sabemos que a família Bolsonaro não tem o costume de fazer isso. A negociação é muito mais num sentido de subordinação do que de negociação entre parceiros iguais”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
No ato em São Paulo, a ex-primeira-dama também chamou atenção. Para Medeiros, Michelle Bolsonaro se destacou pela performance carismática. “As pessoas estavam muito ansiosas para o início da fala dela. O que ela faz ali é uma modulação da voz dela, num sentido, primeiro, de estar com a voz embargada, chorando, encarnando o sofrimento. E, logo em seguida, esse tom de voz é sobreposto por uma voz triunfalista”, analisa. Segundo ele, esse estilo cria “uma operação religiosa, teológica”, que reforça a esperança e o engajamento da base bolsonarista.
Mesmo com Bolsonaro em prisão domiciliar, o pesquisador avalia que a extrema direita continua com fôlego. “Isso significa que a capacidade de mobilização, de ocupação das ruas permanece, mesmo com a principal liderança política da extrema direita sendo mantido dentro de casa. Isso significa que isso é um campo político que não está derrotado”, pontua. Ele destaca ainda a ascensão de novas lideranças, como Michelle Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), visto como aposta futura do bolsonarismo.
Bandeira dos EUA e dependência de Trump
Outro símbolo do ato bolsonarista foi a grande bandeira dos Estados Unidos estendida na Avenida Paulista. Para Medeiros, a imagem sintetiza a aposta na influência estrangeira. “Essa foto aérea do bandeirão dos Estados Unidos, ali na altura do Masp [Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand], e, do lado, uma bandeirinha do Brasil pequenininha é uma metáfora muito forte, simboliza a relação de dependência que o campo bolsonarista está valorizando, de dependência com relação aos Estados Unidos e ao governo Trump”, avalia.
STF e risco “escandaloso” de anistia
O pesquisador considera que o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do núcleo crucial da tentativa de golpe após a eleição de 2022 é histórico. “É a primeira vez que estamos responsabilizando agentes políticos que se engajaram no planejamento de um golpe militar”, aponta. Para ele, discutir uma anistia neste contexto é “absolutamente escandaloso”, pois “crimes contra a democracia são imperdoáveis, porque, caso contrário, a democracia deixa de existir”.
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