Fernando Ferrari, advogado e ex-deputado estadual, foi detido pela Polícia Militar (PM) na noite desta quarta-feira (10), após o encerramento do protesto organizado por moradores da Favela do Moinho, no centro de São Paulo (SP). A manifestação denunciou a criminalização da comunidade e exigiu o cumprimento do acordo de moradia firmado entre os governos estadual e federal.
Segundo Ferrari, o objetivo do ato era chamar a atenção do governo federal para a situação vivida pelas famílias que ainda permanecem na comunidade. “Nosso ato foi para chamar atenção do governo federal, para que volte a dialogar com o estado e assegure uma saída segura às famílias, com todas as garantias de direitos humanos”, afirmou o advogado, que atua como interlocutor da comunidade desde 2011.
A detenção ocorreu após a dispersão do protesto, reprimido com bombas de gás lançadas pela PM na avenida Rio Branco, uma importante via no centro da capital paulista. De acordo com o relato de Fernando, ele foi abordado por uma viatura do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) na alameda Eduardo Prado. “Corri 50 metros e parei com os braços erguidos. Mesmo assim, os policiais vieram de forma super truculenta, quebrando todos os protocolos de abordagem, inclusive usando mata-leão”, disse.
Levado ao 2º Distrito Policial, no bairro do Bom Retiro, Ferrari permaneceu detido por cerca de sete horas. Ele foi liberado ainda na madrugada. Na tarde desta quinta-feira (11), realizou exame de corpo de delito.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que a PM foi acionada para acompanhar o protesto e que os manifestantes interditaram a avenida Rio Branco. Segundo a pasta, foi necessário o uso de munições de efeito moral para liberar a via. Ainda de acordo com a SSP, o homem detido teria resistido à abordagem e foi ouvido na delegacia na presença de advogados antes de ser liberado.
Tentativa de diálogo e situação do acordo
Durante o protesto, Fernando tentou intermediar o diálogo entre a PM e os manifestantes. “O tenente disse que ia liberar uma faixa da avenida para o ato seguir. Menos de um minuto depois, já começaram a jogar bomba”, relatou. Ele afirmou ainda ter temido por sua integridade física após ser colocado na viatura. “Pensei: agora eles vão me levar para algum lugar para me agredir, me torturar”.
A manifestação desta quarta-feira foi convocada após a Operação Sharpe, deflagrada dois dias antes pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que prendeu sete pessoas, incluindo duas lideranças da Associação de Moradores da favela: Alessandra Moja Cunha e sua filha, Yasmin Moja Flores. Moradores afirmam que as prisões são uma tentativa de desmobilizar a comunidade e pressionar as famílias a deixarem a área, mesmo sem terem recebido as moradias prometidas.
A Favela do Moinho é a última comunidade remanescente na região central de São Paulo e passa por um processo de desocupação desde abril. Em maio, foi anunciado um acordo entre os governos Lula (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) que prevê a concessão de carta de crédito de R$ 250 mil por família para a compra de imóveis. O valor é composto por R$ 180 mil do programa federal Minha Casa, Minha Vida e R$ 70 mil do programa estadual Casa Paulista.
Nesta semana, o Ministério das Cidades afirmou, em nota enviada à Ponte Jornalismo, que o governo federal mantém o compromisso com o acordo. Segundo a pasta, 453 famílias já foram homologadas para receber moradias gratuitas e outras 100 devem ser confirmadas ainda nesta semana. Ao todo, o governo federal garantiu R$ 160 milhões para o repasse de recursos às famílias do Moinho. A homologação garante a elas o direito de escolher o imóvel em qualquer município de São Paulo no prazo de um ano.