Olá!
52 anos depois da queda de Allende, o Brasil manda um recado para os militares, os golpistas e os EUA.
.Quatro ministros e um covarde. A semana terminou com fogos, churrasco e cerveja. Uma decisão histórica num país com largo histórico de golpes e tentativas de golpes lideradas por militares, sempre impunes. Uma condenação com um enorme peso simbólico e consequências políticas. No curto prazo, tende a fazer o bolsonarismo recuar e buscar sua própria salvação. Mas o fato de não ter sido uma decisão unívoca no STF pode ter importância a longo prazo. Mesmo tendo mandado às favas as convicções jurídicas para salvar a própria pele contra as sanções de Trump com argumentos frágeis e incoerentes, o ato de covardia de Luiz Fux tem coerência política e ideológica. O ministro é um lavajatista de carteirinha e não hesitou em apunhalar os próprios colegas para ecoar a ladainha bolsonarista sobre o autoritarismo de Alexandre de Moraes e do Supremo. O voto divergente, porém, só confirmou que a tal ditadura é uma fantasia. Mas a manobra de Fux foi pragmática: buscava deixar uma fresta aberta para levar o caso ao plenário do STF, onde os réus contariam com outros ministros simpatizantes da extrema-direita, como Kassio Nunes Marques e André Mendonça. O problema é que Fux ficou totalmente isolado e desmoralizado. Mesmo assim, foi plantada uma semente que poderá ser colhida no futuro, apostando na possibilidade de reversão da pena num hipotético cenário mais favorável, seguindo uma estratégia similar àquela que Zanin usou na defesa de Lula no caso da Lava Jato e que foi bem-sucedida. O fato de Fux ter jogado para a torcida bolsonarista também deixa aberto o caminho para uma possível carreira política na direita depois da aposentadoria no Supremo, o que repetiria a trajetória de outro eminente personagem saído do meio jurídico, o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro. Já para o governo, a condenação e prisão de Bolsonaro traz alívio e sensação de justiça, mas também pode trazer problemas. Afinal, nos últimos meses a direita dominou as páginas policiais e sua saída de cena pode dar maior visibilidade para as iniciativas do governo, mas também para seus problemas, como a CPI do INSS, que até agora teve pouca repercussão.
.Lei de Murphy. A sobrevida que a defesa de Bolsonaro pretendia ganhar com o voto de Fux no STF foi também o último episódio de uma semana em que deu tudo errado na estratégia de Tarcísio de Freitas. Se a ideia do governador paulista era se abraçar com força agora ao bolsonarismo para aproveitar os últimos suspiros em liberdade do capitão e ter tempo para posar de moderado, a única coisa que ele conseguiu foi dar um novo gás ao projeto de anistia no Congresso. Esperando ser ungido também nas ruas, Tarcísio vestiu todo o figurino bolsonarista no 7 de setembro e elevou o tom dos ataques ao STF e a Alexandre de Moraes, bem ao gosto da claque que depois desfraldou uma bandeira dos Estados Unidos. Mas nem isso foi suficiente para ganhar o coração do núcleo duro do bolsonarismo, como deixou claro Eduardo Bolsonaro. Além disso, Tarcísio fez tudo o que o centrão não queria: afastou-se da imagem de moderado e ainda reforçou a candidatura do anti-Bolsonaro, Lula, como constatam Merval Pereira e Miriam Leitão. Como um clone de Bolsonaro, Tarcísio também facilita para que Lula mantenha o debate político girando em torno da “democracia” e “soberania”. Além disso, com a melhora na aprovação do governo, Tarcísio nem sequer conseguiria levar uma eleição contra Lula ao segundo turno, segundo a pesquisa CNT/MDA. O fato de ter se tornado o maior propagandista da anistia também pode ser um tiro no pé. Primeiro, porque Flávio Dino já fez questão de lembrar que a Constituição veta qualquer tentativa de anistiar tentativas de golpe de Estado. Além disso, o tema continua restrito às bolhas da direita e longe do eleitor, que está mais interessado no preço do café do que na liberdade de Bolsonaro. Por fim, fora os parlamentares mais fiéis a Jair, as ameaças de votar o projeto dizem mais sobre o gosto dos deputados em fustigar o STF e o Planalto do que qualquer outra coisa. A possibilidade do centrão pular fora do barco na hora H existe, e se o PL continuar insistindo na versão mais esdrúxula do projeto, ele talvez nem passe na Câmara. E se o projeto de anistia morrer na praia, Tarcísio se afoga com ele. O fracasso da estratégia de Tarcísio até deu nova vida a outros candidatos da direita que não têm tanta vontade de pedir as bençãos a Bolsonaro, como Ratinho Jr. E para completar, ele gerou uma crise interna no seu próprio grupo político, ao antecipar as discussões sobre a sua sucessão.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Excelentíssima Fux. Há nove anos, a Piauí contou como a filha de Fux se tornou desembargadora no Rio.
.A mão invisível das Big Techs. Pesquisa colaborativa liderada pela Agência Pública e pelo Centro Latinoamericano de Investigación Periodística mapeia ações de lobby das Big Techs pelo mundo.
.Quando a fé vira estratégia de poder. O que pensam e como agem os católicos ultraconservadores. No Diplomatique Brasil.
.Milei: Hipóteses sobre uma derrota catastrófica. Não é só a corrupção que explica o fracasso eleitoral de Javier Milei. No Outras Palavras.
.É preciso praticar, e não apenas proclamar a soberania. Não basta buscar novos mercados, é preciso superar a lógica agroexportadora brasileira. No Terapia Política.
.Liguem as máquinas. O Joio e o Trigo mostra os esforços do MST em mecanizar a agricultura familiar.
.Nas maiores festas juninas do Brasil, a regra é patrocínio de cerveja e falta de transparência. Os contratos de prefeituras nas festas turísticas sob suspeita. No O Joio e o Trigo.
Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.