A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) reorganiza o campo político da direita no Brasil, especialmente diante da proximidade da eleição de 2026, consideram especialistas. Principal figura da oposição, ele agora deve enfrentar mais de 27 anos de prisão, acusado de chefiar o grupo criminoso da tentativa de golpe de Estado.
A saída de Bolsonaro da disputa eleitoral traz um dilema para os seus aliados: pressionar por uma anistia ou aceitar sua inelegibilidade. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, a cientista política Luciana Gross, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), observa que essa estratégia enfrenta obstáculos.
“Valdemar da Costa Neto [presidente do PL] deu uma entrevista dizendo que agora vão acirrar a escalada pela anistia no Congresso Nacional, mas ali existem algumas resistências. Não estou vendo uma vida fácil para quem vai defender a anistia”, analisa. Segundo ela, a decisão do STF fortaleceu a democracia e reduziu o espaço de manobra da direita no Congresso.
Quem herda o eleitorado bolsonarista?
Essa indefinição atinge diretamente a escolha de quem poderá herdar o eleitorado bolsonarista. Também em conversa com o BdF Entrevista, Vera Chaia, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), surge como principal nome.
“Em princípio, parece que Tarcísio vai ser o candidato. Ele pode sair vitorioso porque ele tem o apoio de uma parcela significativa [da população], principalmente do eleitorado paulista”, observa. Para a cientista política, se Bolsonaro indicar Tarcísio, a base bolsonarista tende a acompanhá-lo. Isso porque, “mesmo que Bolsonaro tenha problemas, esse eleitorado vai achar que tudo foi uma armadilha, que Bolsonaro caiu numa arapuca, que não tem nada a ver, que foi injustiçado.”
O desafio, pondera Chaia, é que Tarcísio a todo momento parece mudar de posição. “Ele fica em cima do muro, já desceu do muro, se definiu, está mais perto dos bolsonaristas, mas, ao mesmo tempo, na área do eleitorado, ele vai para onde o chefe mandar.”
Tarcísio entre a base bolsonarista e o eleitorado médio
Já Gross chama atenção para a dificuldade de Tarcísio em conciliar diferentes públicos. Segundo ela, há uma retração entre setores evangélicos, que ainda avaliam se apoiariam integralmente um nome indicado por Bolsonaro. Além disso, pesa o cálculo do mercado financeiro.
“O mercado cogita, inclusive vem sinalizando um apoio a um candidato extremista, como se apresentou Tarcísio. Não foi pequena a sua participação no 7 de setembro e a sua articulação em Brasília pela defesa da anistia. Então o mercado financeiro vai apostar nesse candidato? Eu acho que tem aí questões importantes. Me parece que o eleitor médio vai olhar para o que a Faria Lima está sinalizando”, observa.
Para a professora, esse cenário também abre espaço para a reeleição do presidente Lula (PT). “Há um crescimento de aceitação e de apoio ao governo Lula. A atuação tanto da Bolsa de Valores quanto a queda do dólar, tudo isso também sinaliza uma possibilidade de crescimento para o presidente Lula entre aqueles que se mostram em dúvida ou que não têm uma adesão imediata a um dos dois polos”, indica.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.