Essa semana vimos a história ser feita. Finalmente, após dois anos, aconteceu o julgamento de Jair Messias Bolsonaro por sua fracassada tentativa de golpe de Estado e pelos ataques do 8 de janeiro de 2023.
Ao contrário do que diz a defesa – que uma minuta de golpe e dezenas de relatos de reuniões de planejamento não significam que havia uma articulação real de golpe -, o que o STF julgou foi um meticuloso e violento plano, que tinha como objetivo acabar com a nossa democracia e manter no poder o então presidente derrotado Jair Bolsonaro.
Este julgamento é histórico por vários motivos. Um deles é porque os réus não são figuras menores: a organização criminosa inclui um ex-presidente, generais, um almirante, ex-ministros de Estado, um deputado federal e um militar da confiança máxima do ex-presidente. Todos acusados de formar o “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado.
A mobilização popular das últimas semanas, em defesa da nossa soberania e contra a anistia, mostra que não se pode ter perdão, esquecimento ou piedade com quem conspira contra o Estado democrático de direito. A prisão de Jair Bolsonaro e da sua quadrilha não é uma questão de vingança, mas de justiça e uma lição para que nunca mais se repita.
A mobilização da extrema direita no sete de setembro mostra que eles não se arrependem do que fizeram – e, pior, estão nas ruas pedindo intervenção estrangeira na nossa política. Notem que eles não têm nenhuma pauta a favor do Brasil. Nem a bandeira do nosso país eles utilizam mais, porque preferem carregar a bandeira dos EUA. Eles não têm projeto para o país. Sua única luta é a liberdade de Bolsonaro, mesmo que para isso precise abaixar a cabeça para Donald Trump.
Desde as primeiras condenações dos envolvidos no oito de janeiro, a extrema-direita brasileira tentou deturpar o conceito de anistia, afirmando-a como uma saída “pacífica” para reconciliar o país. Mas não existe reconciliação com quem continua a negar a realidade dos fatos, a semear discursos de ódio e a descredibilizar nossas instituições.
A anistia pressupõe arrependimento e um novo pacto social, mas o que se vê do outro lado é a reincidência, a continuidade do ódio e a negação da própria democracia.
Neste momento, a anistia seria sinônimo de impunidade para crimes e um convite à repetição. Imaginem se esse crime passasse impune: o recado é que quem deveria prezar por nossa democracia pode, sim, tentar um golpe sem sofrer consequências severas. A prisão de Bolsonaro e da sua quadrilha será como uma vacina contra o vírus do autoritarismo.
Precisamos virar essa página, não para esquecer tudo o que aconteceu, mas para colocar um ponto final na narrativa bolsonarista de que tentar dar um golpe não é crime. Se a tentativa de golpe tivesse dado certo e o golpe consumado, nem democracia e nem a possibilidade de julgar os criminosos seria possível, então a tentativa não seria criminalizada ou punida.
Estaríamos, muito provavelmente, vivendo numa ditadura fascista apoiada por Donald Trump e pela extrema-direita mundial. Por isso não podemos permitir que crimes tão graves sejam anistiados.
A condenação de Jair Bolsonaro de sua corja entra para a história do Brasil. Ainda que não seja por todos os crimes que ele cometeu contra o próprio povo, nós festejamos essa derrota de Jair Messias Bolsonaro, de toda a extrema-direita brasileira e do seu projeto fascista e entreguista.
E nós, que sobrevivemos ao seu desgoverno, que amargamos as mais de 700 mil mortes durante a pandemia, que lutamos para ter comida no prato e vacina no braço, estamos vendo pela primeira vez a justiça sendo feita.