Morreu na noite deste sábado (13), Hermeto Pascoal, ícone da música brasileira, aos 89 anos. O anúncio foi feito pela família do artista pelas redes sociais. O músico estava internado no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.
“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, disse a família.
“No exato momento da passagem, seu Grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música. Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva… Quem desejar homenageá-lo, deixe soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria. Gratidão por todo carinho ao longo do caminho”, completou o comunicado. A causa da morte não foi informada.
Um dos nomes mais aclamados da música brasileira, Hermeto nasceu em 22 de junho de 1936 no povoado de Olho d’Água, no município de Lagoa Grande (AL). Ele começou a relação única com os sons aos 10 anos de idade, ao aprender a tocar acordeon.
Conhecido como “O Bruxo”, o artista era um mestre da orquestração e improvisação, tirando música de objetos do cotidiano e não convencionais.
“Eu sempre digo que sou 100% intuitivo, porque aprendi experimentando as coisas que me vinham à cabeça enquanto ouvia os pássaros cantando”, revelou Hermeto em uma entrevista ao jornal espanhol El País em 2018.
A família anunciou que o velório será realizado nesta segunda-feira (15), das 14h às 21h, na Areninha Cultural Hermeto Pascoal, em Bangu, no Rio de Janeiro, bairro onde o músico viveu grande parte da vida.
Homenagens ao “bruxo”
Desde o anúncio da morte, artistas, músicos e personalidades políticas têm prestado homenagens e relembrado o legado que Hermeto deixou para a música brasileira.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou que “a música e a cultura brasileira” devem muito ao artista, cujo “talento e a incansável criatividade” o fizeram influenciar gerações de músicos em todo o planeta. “Hermeto sempre nos ensinou a não deixar a tristeza dominar”, publicou o presidente em uma rede social.
“Multi-instrumentista, compositor e arranjador, Hermeto transformou em música tudo o que tocava: do piano à flauta, do berrante até instrumentos improvisados de cozinha e brinquedos. Dialogou com o jazz, a música popular brasileira e as tradições regionais. Em 2010, eu tive a honra de condecorá-lo com a Ordem do Mérito Cultural”, completou Lula.
Ao postar uma foto no palco ao lado de Hermeto, a ministra da cultura Margareth Menezes também lamentou a partida do “nosso bruxo”.
“Um mestre generoso que transformou a música brasileira em alquimia sonora, ousando ir além do imaginável e mostrando que a arte nasce da liberdade e da criatividade. Sua perda entristece todo o Brasil. Hermeto é patrimônio da nossa cultura. Sua magia segue viva no povo brasileiro e em todos os artistas com quem ele criou. Que sorte tivemos!”, publicou a ministra.
O cantor e compositor Caetano Veloso relembrou a força de Hermeto através de um vídeo no Instagram, citando músicas que compôs homenageando o artista.
“Hermeto é grandeza da música no Brasil, um dos pontos mais altos da história da música no Brasil e que se expôs ao mundo com muita clareza e força. Uma coisa imensa. Eu o conheci e botei o nome dele em duas canções minhas, pelo menos, e tive discussão pública com ele. Mas o que importa é a grandeza musical dele”, relembrou Caetano.
“Existe um mundo antes e depois de Hermeto”
O cantor, compositor e acordeonista sergipano Mestrinho destacou em sua homenagem que “existe um mundo antes de Hermeto e outro depois dele”. “Gratidão por dar mais vida a música Campeão! Estou muito emocionado com sua partida, mas sei que vai ser recebido com muita luz”, publicou o artista.
Por sua vez, a cantora Zélia Duncan disse que Hermeto era um “mestre absoluto” e o “filho preferido da deusa música”.
Leila Pinheiro, cantora, compositora e pianista, homenageou o “bruxo” relembrando “Chá de Panela”, uma composição feita por Aldir Blanc em que Hermeto é reverenciado.
”Foi Hermeto Pascoal que, magistral, me deu o dom de entender, que, do lixo ao avião, em tudo há tom. E que até penico dá bom som, se a criação é mais, se o músico for bom”, diz trecho da letra publicado por Pinheiro.
O cantor Tiago Iorc destacou que Hermeto “nunca foi desse plano” e que “sempre esteve aqui nos mostrando a imensidão que somos”.
Já Elba Ramalho agradeceu o músico por ensinar a todos que “a música é liberdade, é invenção, é alma pulsando”.
“Hoje o mundo silencia diante da partida de um dos maiores gênios da música, nosso Hermeto Pascoal. Um mestre que enxergava som em tudo, e transformava a vida em melodia. Sua criatividade infinita, sua genialidade sem fronteiras e sua generosidade musical permanecerão eternas”, disse Elba.