O aniversário de sete anos do Armazém do Campo no Rio de Janeiro, espaço do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) reuniu centenas de pessoas durante todo o sábado (13) em uma programação que uniu gastronomia orgânica, 10 atividades culturais e manifestações em defesa da agricultura familiar. O evento deste ano teve o lema “Da Terra à Mesa, da Luta ao Prato”.
“Nós do MST entendemos que sem a luta pela terra, sem reforma agrária, sem acesso à terra pelo campesinato brasileiro, não tem alimentação saudável para o campo. E para a cidade, nós temos um projeto de reforma agrária popular para atender a população da periferia das grandes cidades com a nossa alimentação saudável“, comentou o coordenador do Armazém do Campo Rio Janailson Almeida.
Desde sua inauguração, em 2018, a loja da Reforma Agrária Popular vende alimentos agroecológicos e saudáveis, produtos de saúde, artesanato, cultura e educação que são produzidos por assentadas e assentados gestando coletivamente seu trabalho em equilíbrio com a natureza.
“Esse espaço tem a importância de fazer a relação entre o campo e a cidade, de dialogar a partir dos nossos alimentos produzidos nos assentamentos. Ele possibilita escoar a produção, mas também promover o diálogo sobre a Reforma Agrária Popular, sobre alimentação saudável e sobre os cuidados com os bens da natureza que os assentados fazem, incluindo as áreas que são recuperadas”, disse a coordenadora estadual do MST, Eró Silva, que defendeu a expansão da rede do Armazém do Campo para o interior do estado:
“Ter uma loja no centro de uma cidade também é uma referência desse diálogo com a sociedade e da articulação das nossas lutas no campo e na cidade. A nossa perspectiva no Rio de Janeiro é interiorizar, aproximando ainda mais os espaços de comercialização dos assentamentos, como em Campos dos Goytacazes, onde temos 11 assentamentos e um acampamento.”
Produção orgânica e saudável

Os alimentos usados no aniversário do Armazém do Campo foram trazidos de assentamentos de todo o Brasil. Dentre eles, o Coletivo Alaíde Rodrigues, em Piraí, no Sul Fluminense, composto pelos assentamentos Terra da Paz e Roseli Nunes.
A carga produzida por 22 famílias assentadas deixou a cidade ainda de madrugada para ser usada não só na preparação das refeições de café-da-manhã e do almoço com feijoada, mas também para serem vendidos na Feira Terra Crioula, que começou às 8 da manhã e reuniu 10 expositores do estado do Rio.
A loja do Armazém do Campo no Rio faz parte de uma rede com 22 unidades em todo o país. A rede foi criada em 2016, como desdobramento da Feira Nacional da Reforma Agrária, para fortalecer o vínculo entre campo e cidade através de alimentos saudáveis e da difusão do projeto político construído nos assentamentos da Reforma Agrária Popular.
Arte, educação e política se encontram
A programação cultural também começou de manhã, ainda com a feira funcionando. Karol Schittini e Vanessa Machado apresentaram um repertório à base da viola caipira e do violão sete cordas. Já a Escola de Teatro Popular fez uma apresentação que uniu arte, educação e política, logo após as oficinas de reaproveitamento de alimentos, compostagem e plantio de árvores.
A partir do meio-dia, teve apresentações do cantor Zé Pinto, com canções populares e as músicas do MST, além da bateria da Escola de Samba Estácio de Sá, do grupo Samba Pra Roda, com os maiores sucessos do gênero, e o bloco de carnaval Caramuela. A noite terminou com a apresentação da drag queen Shanawara e um show de forró.
Espaço de manifestação política

A comemoração também contou com a presença de políticos como a ministra de Direitos Humanos e Igualdade Racial, Anielle Franco, e os deputado federais Glauber Braga (Psol), Talíria Petrone (Psol) e Tarcísio Motta (Psol) – além da deputada estadual Marina do MST (PT) e da vereadora da capital Maíra do MST (PT), integrantes do movimento. “Não só como ministra, mas também como cidadã carioca, professora e mãe, acredito que falar de economia solidária é falar de uma parcela da população que envolve muitas mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade. Estar aqui, junto de companheiros e companheiras que pensam num projeto político de país melhor para todos, é grandioso”, disse Anielle Franco.
A vereadora Maíra do MST (PT), que concedeu uma moção de aplausos ao Armazém durante as comemorações, comentou a importância do espaço para a política da cidade. “Ao longo desses sete anos, o Armazém do Campo firmou seu compromisso com a democracia e foi espaço para conspirar, organizar e celebrar”, completou a vereadora Maíra.
Já a deputada estadual Marina do MST (PT) reforçou a importância do Armazém do Campo como um local de acesso aos alimentos produzidos no campo. “São alimentos deliciosos, sem agrotóxicos, feitos por trabalhadores e trabalhadoras que têm compromisso com a terra. É a Reforma Agrária ganhando espaço nas mesas desse cartão postal que é o Rio de Janeiro”, disse a deputada.
O deputado federal Glauber Braga (Psol) colocou ênfase na importância da agricultura familiar e do MST para o Brasil. “Ao ter movimentos como o MST, que tocam uma luta concreta, diária, por reforma agrária, mas que também é uma luta simbólica, do imaginário do povo, sobre o que é a representação da agricultura familiar e da necessidade de enfrentar o latifúndio, a política muda todo dia. Esse enfrentamento cotidiano tem a capacidade de mobilizar uma alteração e uma modificação estrutural no Brasil.”
A deputada federal Taliria Petrone (Psol) destacou a importância do Armazém do Campo como instrumento da Reforma Agrária Popular. “É fundamental a gente conseguir fazer chegar na casa das pessoas comida saudável num Brasil que tem muito agrotóxico, que tem cada vez mais veneno na mesa. Aqui é a expressão da conexão entre campo e cidade, com a possibilidade de garantir saúde para a população do Rio de Janeiro”, disse.