Novo Hamburgo recebeu entre os dias 12 e 15 o 1º TRETA Festival de Cinema e Performance Dissidente, ocupando as ruas e praças com arte para promover o acesso público à cultura. Com atividades gratuitas realizadas por pessoas trans, negras e indígenas em diversos pontos culturais da cidade, como a Casa das Artes, Casa da Praça, Praça do Imigrante e Bar Espaço Sideral.
O evento promoveu a exibição de curtas e médias-metragens, performances ao vivo, debates, oficinas, feira de arte e exposição artística, valorizando a produção de pessoas dissidentes – incluindo pessoas negras, indígenas, LGBTQIAPN+ e outras corporalidades e vivências diversas.
Segundo a organização do festival, em média 150 pessoas tiveram contato com diversas temáticas e com vivências contadas pelas próprias dissidências, autoras das obras. “A gente tá vendo a possibilidade de fazer circular as nossas histórias, contadas por nós. E isso é muito importante para Novo Hamburgo, para que cada vez mais gente tenha acesso a histórias plurais”, destacou Pam Fogaça, um dos idealizadores do festival.
“Vários colegas artistas da cidade vieram prestigiar o evento, houve muita troca entre as pessoas convidadas e artistas residentes aqui. A artista Amaná, por exemplo, uma artista indígena do Espírito Santo, ficou hospedada na Casa da Praça, e pode fazer a sua performance no domingo naquele território”, acrescentou.
O Festival foi idealizado por Maria Apollo e Pam Fogaça, integrantes do grupo TRETA – Teatro e Artes de Intervenção, com realização da Secretaria Municipal de Cultura de Novo Hamburgo, com recursos do Fundo Municipal de Cultura.

Exposição Diáspora
A abertura da exposição Diáspora, do artista plástico Juarez Negrão, ocorreu no domingo (15), na ocupação cultural e residência artística Casa da Praça, com uma roda de conversa com Juarez Negrão, Toni Rabello, Janaína Alves, Gilciane Neves, Marcelo do Coletivo Catarse.
As produções de Juarez misturam-se as técnicas artísticas em pinturas, esculturas e xilogravuras sobre ancestralidade, resistência e cultura afro-brasileira. A Diáspora segundo o artista, é um resgate da memória sobre a contribuição da comunidade negra e indígena. Juarez também comenta que a exposição é em memória de Paulo Ivan e Oscarina, dois militantes ativistas, raízes do movimento negro unificado do estado: “Paulo Ivan era um intelectual negro de Porto Alegre, que lutou muito pela questão do negro na universidade, e Oscarina era uma grande lutadora da questão das religiões de matrizes africanas”.
“Quando tudo faltou, a arte me salvou”, disse Juarez durante a roda de conversa ao comentar sobre a sua trajetória artística. Artista de alma, como foi identificado pelos pares da mesa, com vivências dos movimentos negros, ocupações culturais, indígenas, e também pelo Pop Rua, onde foi acolhido através da economia popular solidária.
Atualmente, ocupando a Casa da Praça como residência artística, Juarez ressalta a importância para os artistas de terem espaços culturais como a Casa da Praça, com atelier aberto e coletivo, para a produção e comercialização da sua arte como trabalho.
Juarez também integra o coletivo Lojas Africanas, vencedor do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2025, e atualmente expõe trabalhos no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs).

Casa da Praça
A Casa da Praça há quase uma década se consolidou como um importante ponto de cultura em Novo Hamburgo, sendo um espaço de resistência e valorização da cultura popular. Com produções independentes que dialogam com as diversas linguagens artísticas, misturando o teatro, o audiovisual, as artes visuais e corporais, o local abriga um ateliê coletivo que promove a criação e o intercâmbio artístico. Já recebeu artistas de diferentes regiões da América Latina e se tornou um território de encontro, experimentação e fortalecimento das expressões culturais.
Filmes e performances selecionados
Entre os filmes exibidos estão: Pe Ataju Jumali (Ar quente), de Juma Pariri, coletivo Unides contra a colonização: muitos olhos, um só coração; Profanação, de Estela Lapponi; Estamos Vivos e Atentos: mutirão Payayá, de Movimento Associativo Indígena Payayá (MAIP) – Coletivo Mirante; e Vozes do Mangue, de Natacha Quilula Janus Costa; Cosmoverse: inner spaces, de A Transälien; Tsunami Guanbara, de Clara Chroma – Chorumex; Trivakra, de Sofia Angst; Wakashu, de Lady Jill; Xica Vive na Fumaça, de Vini Faustino; Anacronia, de O Estranho Alex Domingues; Corpo descoberto, história encoberta, de Sadiana-Luz; Tá fazendo sabão, de Ianca Oliveira; Floresta Espírito, de Clara Chroma; Volver, de Elizabeth Ramos; Tapando buracos, de Laura Fragoso e Pally; Para o silêncio, de Giovana Domingues e Territórios do Sinos, de Mariana de Mattos (coletivo Arte Trabalhadora).
Performances apresentadas: Redevoar, Kanauã Nharu; Muito mais-que-humanas: a desistência da espécie enquanto práxis decolonial, Mar Revolta; Eco uma vez num sonho, regurgitada, Eco Zazu; Raiz oculta semente vive, Amaná; Konspiração, Crua; O rito da Keiro, Keiro nia; Numiedades, Angel Eduardo Seijas Osuna; e Salto-alto, Ândy.
Realizadores
Pam Fogaça – Agente cultural, artista visual e pesquisador. Mestre em Artes Visuais (UFPel, 2021), licenciado em Teatro (Uergs, 2017). Co-criador do grupo TRETA – Teatro e Artes de Intervenção, desenvolve trabalhos em performance, audiovisual e artes da cena.
Maria Luiza Apollo – Fotógrafa e profissional de cinema, atua em direção de fotografia, assistência e colorização. Graduanda em Cinema e Audiovisual (UNILA/PR). Seus trabalhos já foram exibidos em mostras nacionais e internacionais.
Juarez Negrão – Poeta, compositor, escultor e artista plástico de Novo Hamburgo. Sua obra dialoga com ancestralidade e identidade afro-brasileira. Participou de exposições no Brasil, integra o coletivo Lojas Africanas e atualmente tem obras no Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs).
Mariana de Mattos – Jornalista e produtora cultural, diretora da série Territórios do Sinos, realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo. Integra o coletivo Arte Trabalhadora, voltado a projetos populares no Vale do Sinos.
O 1º TRETA Festival de Cinema Dissidente tem apoio do Cineclube Ibiá, do Bar Espaço Sideral e do Ponto de Cultura Casa da Praça, com financiamento da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo.