Durante a sessão ordinária desta terça-feira (16) na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o deputado distrital Thiago Manzoni (PL-DF) disse que alunos da Universidade de Brasília (UnB) estão sendo moldados no ambiente acadêmico para “matar quem pensa diferente”. O parlamentar fez referência à morte do influenciador de extrema direita Charlie Kirk, executado na última quarta-feira (10) em um evento universitário nos Estados Unidos (EUA).
O distrital afirmou que teria sido agredido verbalmente por estudantes quando fez uma visita ao Campus da UnB no semestre passado e encontrou uma imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro morto de cabeça para baixo. Ao filmar a cena, ele alega ter recebido ameaças.
“Ano passado, semestre passado, não sei bem quando foi, eu fui à UnB e fui ameaçado lá pelos alunos. Fui gravar um vídeo. Lá tinha várias imagens do amor que eles acreditam. Uma delas era uma faixa enorme com Bolsonaro morto de cabeça para baixo. E eu fui gravar aquela imagem e eu fui ameaçado. Disseram que iam fazer comigo igual o Bolsonaro. Mas como eles não são radicais na cabeça deles, isso tudo é válido. Imagina o ambiente universitário onde esses jovens estudam. A mentalidade deles está sendo moldada para matar quem pensa diferente”, declarou.
O parlamentar continuou criticando as universidades públicas e alegando que os alunos saem do ambiente universitário, “na melhor das hipóteses”, usuários de drogas ou integrantes da “bancada da maconha”.
“E isso está acontecendo no campus universitário, onde eram para sair engenheiros, professores, matemáticos, biólogos. Eles saem de lá, na melhor das hipóteses militantes, talvez usuários de drogas, maconheiros, da bancada da maconha. Na pior das hipóteses, saem de lá achando que podem matar quem pensa diferente deles. Não está longe da gente não, está aqui”, afirmou.
Em seguida, o deputado fez um apelo para que os pais que tenham filhos ingressantes do ensino superior não os deixem ser alunos da UnB. “Você que é pai, você que é mãe, que tem seu filho na UnB, é triste dizer o que eu vou dizer aqui, mas se eu tivesse no seu lugar, eu retiraria o seu filho de lá. Lá eles estão formando militantes.”
Ao final das declarações, Manzoni disse ter sido ameaçado por um assessor do Psol enquanto discursava na tribuna. Segundo ele, o servidor estava balançando a cabeça afirmando que era necessário “ter medo” da oposição.
Após as falas, o deputado distrital Fábio Félix (Psol-DF), líder do partido na Casa, afirmou que não toleraria insinuações de ameaças. “Eu não vou tolerar que seja insinuado que algum servidor, trabalhador da bancada do Psol ameaçou algum deputado que não fez. Não é o caso. Ninguém pode censurar a liberdade de expressão da face de ninguém aqui. Eu vejo caras e bocas o tempo inteiro e nem por isso é ameaça”.
A discussão continuou por algum tempo, e o deputado de direita continuou alegando que havia sido ameaçado e declarou que não “tem medo” de nenhum dos parlamentares da casa. “Não tem insinuação nenhuma. Tem uma afirmação que eu fiz da tribuna, como deputado. Tinha um assessor do Psol, balançando a cabeça dizendo que é para ter medo sim. Nós não temos medo, nós não teremos medo de vocês, jamais, deputado Fábio”.
O parlamentar psolista finalizou o debate dizendo que não se convenceria da narrativa que Manzoni tentou usar. “Não aceitamos e não achamos que esse tom de falar baixo para passar toda essa nova narrativa de que são contra a morte e a violência, isso não convence absolutamente ninguém”, pontuou.

Os deputados distritais Chico Vigilante e Gabriel Magno, ambos do Partido dos Trabalhadores, também se manifestaram em plenário. Em seu pronunciamento, Vigilante relembrou de dois episódios de violência política, o primeiro que ocorreu em setembro de 2018 quando Jair Bolsonaro (PL), em um discurso no Acre, pegou um tripé de uma câmera de televisão para simular um fuzil e disse: “Vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre!”. O outro episódio rememorado foi o assassinato do petista Marcelo Arruda no Paraná em 2022.
“Isso é pouco? Não é. Portanto, acho que é muito importante o ponto que a direita está chegando e ver que não vale, não tem sentido a violência política”, reforçou Chico Vigilante.
Para o deputado Gabriel Magno o discurso proferido pelo deputado do PL não pode ser normalizado. “Não dá pra gente normalizar alguns discursos aqui, infelizes, violentos, que misturam calúnia, mentira, distorções, uma tentativa grosseira de distorcer a realidade, porque agora querem pousar de vítimas e pacifistas e vítimas da violência”.
O parlamentar petista ainda disse que não iria recuar contra aqueles que incitam o ódio “porque estão desesperados, porque perderam no argumento jurídico, democrático e no argumento político”.
Magno, que é presidente da Comissão de Educação da CLDF destacou a importância da UnB e finalizou: “eu quero que os filhos dos brasilienses, os estudantes das escolas públicas dessa cidade tenham a oportunidade de cursar a Universidade de Brasília, uma das melhores universidades do mundo. Aprender o curso e a profissão que escolherem, mas aprender o valor da democracia, aprender o valor da ciência, aprender o valor da diversidade”.
Declarações ofensivas
Em nota a Universidade de Brasília (UnB) repudiou as falas do parlamentar e classificou como ofensivas à instituição e à comunidade acadêmica. “São falas que desrespeitam estudantes, docentes e técnicos e atacam a missão constitucional das universidades públicas: produzir conhecimento, promover ciência e contribuir para o desenvolvimento do país”, destaca a instituição de ensino.
Criada em 1962, a universidade, conforme destaca a nota, nasceu pautada pela liberdade e pela democracia. “A UnB resistiu aos tempos sombrios da ditadura militar. Projetos autoritários sempre tentaram enfraquecer a educação e desmoralizar as universidades; não conseguiram no passado e não conseguirão agora”.
“A todo momento esses deputados da extrema direita tentam ridicularizar as universidades federais, pois tem medo da potência que são os estudantes organizados, nós do DCE temos muito orgulho de construir o movimento estudantil e estudar em uma das melhores universidades do país”, destaca a diretora do Diretório Central dos Estudantes da UnB Honestino Guimarães, Laís Cantuário.
Ainda na avaliação da diretora do DCE/UnB discursos como o do parlamentar bolsonarista não são por acaso. “São, sobretudo, políticos, buscam desmoralizar o ensino público gratuito e de qualidade para enaltecer o setor privado, para gerar mais lucro para os ‘tubarões da educação'”.
A nota da UnB finaliza afirmando que a comunidade acadêmica é diversa, plural e comprometida com a justiça social e socioambiental. “A UnB seguirá firme na defesa da liberdade de pensamento, da liberdade de cátedra e dos valores democráticos”.
“Quem estuda ou estudou sabe a potência da Universidade de Brasília; a UnB é referência internacional e esses discursos devem ser combatidos”, enfatiza Laís Cantuário.