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Artigo

Agricultores quilombolas: a ferida da marginalização histórica

A marginalização se materializa na forma de preconceito racial, desvalorização cultural e ausência de políticas públicas

17.set.2025 às 09h54
São Paulo (SP)
Afonso Peche Filho

A história dos agricultores quilombolas é inseparável da escravidão. Durante séculos, seus ancestrais foram explorados como mão de obra fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Após a abolição formal, não houve entrega de terras, reparação financeira ou políticas efetivas de reintegração. O vazio deixado pelo Estado perpetuou um ciclo de exclusão, empurrando comunidades inteiras para territórios disputados, quase sempre invisíveis no debate público.

Essa herança pesa até hoje: os descendentes daqueles que construíram materialmente a base econômica e cultural da nação continuam enfrentando a falta de acesso a recursos, direitos territoriais e reconhecimento social.

A marginalização aparece na forma de preconceito racial, desvalorização cultural e ausência de políticas públicas adequadas. Agricultores quilombolas, frequentemente, são retratados como “atrasados” ou como “ocupantes ilegítimos” de terras, quando, na verdade, são guardiões de um patrimônio ancestral de manejo da terra e de organização comunitária.

O Estado, ao invés de garantir proteção, muitas vezes atua de forma ambígua, favorecendo interesses de grandes proprietários, mineradoras ou grileiros. Essa situação transforma os quilombolas em “estranhos” dentro de seu próprio território, como se não fossem parte legítima do país que ajudaram a construir.

O peso do conhecimento e da tradição

O conhecimento agrícola quilombola nasceu da necessidade de sobrevivência em condições adversas. Trata-se de um saber construído coletivamente, que alia práticas de cultivo à preservação ambiental, muitas vezes alinhadas às premissas contemporâneas da agroecologia e da agricultura regenerativa.

É preciso reconhecer que a hoje tão badalada técnica dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) tem sua origem prática e cultural nas experiências quilombolas e indígenas, que há séculos combinam cultivos agrícolas com espécies arbóreas de forma integrada e sustentável. Essa herança, porém, foi em grande medida apropriada por setores acadêmicos e técnicos majoritariamente brancos, que sistematizaram conceitos, transformaram práticas em manuais e passaram a difundi-las sem o devido reconhecimento de suas raízes históricas.

Esse processo representa uma traição ética: a apropriação de um conhecimento que não nasceu nos centros de pesquisa, mas na luta cotidiana de comunidades que resistiram à escravidão e ao abandono. A deslealdade está não apenas em negar a autoria quilombola, mas também em lucrar e ganhar prestígio em cima de saberes desenvolvidos no contexto da resistência cultural e produtiva.

A condição dos agricultores quilombolas denuncia uma omissão histórica:

  • A dificuldade em garantir a titulação das terras revela a lentidão do Estado em efetivar direitos constitucionais.
  • A exclusão nos programas de apoio à agricultura familiar reflete o preconceito estrutural.
  • O racismo ambiental se manifesta com clareza: são territórios quilombolas os mais impactados por barragens, mineração, expansão de fronteiras agrícolas e ausência de infraestrutura básica.

Esses agricultores, mesmo diante de tantas barreiras, continuam produzindo, preservando a biodiversidade, mantendo tradições e oferecendo contribuições fundamentais para a segurança alimentar do país.

A marginalização dos agricultores quilombolas é uma ferida aberta no tecido social brasileiro. São descendentes de pessoas escravizadas que, em vez de reparação histórica, seguem enfrentando preconceito, violência e negação de direitos.

A sociedade brasileira precisa reconhecer que não se trata apenas de uma questão de terras ou de agricultura, mas de justiça social, de reparação histórica e de valorização cultural. Manter essas comunidades à margem significa perpetuar a contradição de um país que foi erguido pelo trabalho de seus antepassados, mas insiste em negar a seus descendentes dignidade e pertencimento.

O futuro exige mais do que discursos: requer políticas públicas firmes, reconhecimento da diversidade cultural e social e, sobretudo, a coragem de reparar erros históricos. Entre esses reparos, está o reconhecimento explícito de que práticas hoje valorizadas como inovadoras, como os SAFs, têm raízes quilombolas e que o apagamento dessa origem constitui uma atitude desleal. Somente com esse resgate ético será possível construir uma agricultura verdadeiramente justa, sustentável e inclusiva.

* Afonso Peche Filho é pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas.

Editado por: Nathallia Fonseca

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