O Buraco do Lume (Praça Mário Lago) é uma das poucas áreas verdes do Centro do Rio. Localizado na confluência das Ruas Nilo Peçanha, São José e Avenida Rio Branco, o terreno é parte remanescente do antigo Morro do Castelo, derrubado a jatos de areia pelo prefeito Carlos Sampaio, em 1922.
Desde então, a área passou de mão em mão até ser comprada, nos anos de 1970, pelo Grupo Lume, que pretendia erguer no local a sua sede – projeto ambicioso, que previa a construção de um arranha-céu de 50 andares. No início das obras, no entanto, o grupo faliu, deixando uma enorme escavação do que seria a garagem do futuro prédio, que, cercada de tapumes, com as chuvas virou uma piscina de água suja e criadouro de mosquitos.
A população apelidou a obra inacabada de Buraco do Lume, nome pelo qual o local – oficialmente chamado de Praça Mário Lago, em justa homenagem ao grande ator e compositor carioca – é chamado até hoje.
Com o tempo, a área, que tem cerca de 6.000 m², foi urbanizada e acabou tombada. Além de servir como importante local de lazer para a população que trabalha e habita na região, a praça se consolidou, desde a década de 1980, como espaço de convivência, cultura, memória e manifestações políticas da cidade.
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Em 2022, projeto do deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil), polêmico deputado da extrema direita, destombou a área. Logo em seguida, como se fosse quase uma operação casada, parte do terreno que o Bradesco herdou do espólio do antigo Banerj foi vendido a uma incorporadora mineira.
Hoje um enclave verde que melhora o ambiente da região, o Buraco do Lume está sofrendo um severo ataque especulativo do setor imobiliário. A prefeitura, que era contrária a qualquer obra na área, mudou de ideia. Por meio do Projeto Reviver Centro, autorizou a construção de um espigão de 24 andares na praça. O projeto, autorizado pelo poder público municipal, ocupará mais de 2.500 m², e justamente em sua parte mais arborizada, que tem cerca de 40 árvores, incluindo espécies raras e ameaçadas de extinção, como o Pau-Brasil.
A obra em questão desconsidera o valor histórico, ambiental e político do espaço. No seu entorno existem muitos imóveis desocupados desde a crise da pandemia, que provocou o esvaziamento do Centro da cidade, e que poderiam perfeitamente atender ao objetivo da prefeitura de reocupar a região central com projetos de moradia.
O que não dá é querer “reviver” a área derrubando árvores e desfigurando uma praça pública, com a construção de um “paredão” de 24 andares, com 720 apartamentos de 25 a 35m², sem garagem.
A dimensão dos imóveis evidencia o caráter especulativo do empreendimento, desmontando a justificativa de que seriam destinados à habitação social. Uma moradia com essas características, segundo Portaria do Ministério das Cidades, precisa ter, no mínimo, 40m².
A quem interessa menos espaços de socialização e mais especulação imobiliária? Será que o objetivo é mesmo mais moradia ou mais “estúdios” para Airbnb?
Por isso, lançamos uma campanha contra essa obra. Queremos que a prefeitura revogue a licença para a construção desse empreendimento. O Centro do Rio não precisa de obras que destruam espaços públicos de relevância histórica, ambiental e social.
Fortaleça essa luta. Assine o abaixo-assinado: https://www.lumequerviver.com.br/
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.