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Exaltando caramelo e filtro de barro, artista Dolores Esos combate ‘viralatismo’ brasileiro

Valorização da cultura, das cores e da soberania nacional é o tom principal da obra Verde, Amarelo, Caramelo, de Esos

Valorização da cultura, das cores e da soberania nacional é o tom principal da obra Verde, Amarelo, Caramelo, de Dolores Esos, que faz parte da exposição Brazilian Soul, no Straat Museum, em Amsterdã, na Holanda.

O grande mural, que tem mais de quatro metros de altura, ficará em exibição até o dia 31 de outubro. Outros oito nomes das artes visuais e do muralismo também integram a programação da exposição. 

“A tela tem também um subtítulo: Simpatia, sombra e água fresca. São palavras que significam muito a nossa personalidade. A simpatia está retratada no cachorro caramelo, que é o meu cachorro, que costumo pintar. A água fresca vem do filtro de barro, invenção brasileira, realmente melhor que muitos filtros caros do mundo, além de manter a água na temperatura certa. O filtro que pintei foi tirado de um frame da novela Renascer, porque a novela é parte da nossa cultura e nos faz olhar para nós mesmos”, explica Esos, ao Conversa Bem Viver.

Verde, Amarelo, Caramelo foi escolhida pelo curador do festival NaLata para ir ao Straat Museum, referencia em exibição de arte urbana. A exposição Brazilian Soul faz parte da mostra Cruzando Hemisférios: Um Verão Brasileiro no Norte. Nascida no Rio de Janeiro, Esos é formada em Cenografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, além de produzir cultura nas ruas, possui um ateliê na zona sul do RJ.  

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato – Como será a exposição na Holanda? Conte um pouco sobre a obra Verde, Amarelo, Caramelo.

Dolores Esos –
Foi uma felicidade muito grande ser chamada. Essa exposição em Amsterdã, na verdade, é fruto de um festival chamado NaLata, que acontece todo ano em São Paulo, com curadoria do Luan Cardoso. Normalmente eles pintam em empenas grandes, só que, no ano passado, foi especial, porque aconteceu em colaboração com o Straat Museum, que é o maior museu de arte urbana do mundo. Você entra lá e tudo é gigante, até uma tela de cinco por quatro parece pequena. Em 2024, fizemos o festival e em 2025 o museu elegeu 10 artistas representativos para falar da alma brasileira, o Brazilian Soul. E o Verde, Amarelo, Caramelo foi eleito para estar lá.

Fui na abertura da exposição e voltei faz mais ou menos um mês. Foi ótimo, muito emocionante, porque tinha muito brasileiro lá. Eles estavam em clima de festa, já que só tinham duas ou três semanas de verão pela frente. Estava ensolarado, feliz, colorido. Essa exposição veio a calhar no momento mais alegre deles, e todos os brasileiros que estavam lá se emocionaram. Foi muito forte esse sentimento.

O que te inspirou a escolher o nome da obra?

A tela se chama Verde, Amarelo, Caramelo, mas tem um subtítulo que não caberia na legenda: “Simpatia, sombra e água fresca”. São palavras que significam muito a nossa personalidade. A simpatia está retratada no cachorro caramelo, que é o meu cachorro, que costumo pintar. Ele simboliza simpatia e amizade. A água fresca vem do filtro de barro, invenção brasileira, realmente melhor que muitos filtros caros do mundo, além de manter a água na temperatura certa. O filtro que pintei foi tirado de um frame da novela Renascer, porque a novela é parte da nossa cultura e nos faz olhar para nós mesmos, como bem disse Fernanda Torres durante o Oscar.

A sombra vem das plantas gigantes, como as de Burle Marx, exuberantes, diferentes das plantinhas pequenas da Europa. De fundo, há recortes mais minimalistas e azulejos comuns no cotidiano brasileiro. E além disso tudo, as cores vibrantes. Eu gosto de pigmentos puros, cores saturadas, que dão essa vibração muito nossa.

Podemos dizer que a obra também dialoga com a questão da soberania nacional?

Totalmente. Além do cachorro caramelo como símbolo, eu quis distorcer a ideia de “vira-lata”. Coloquei ele como figura central da tela, porque temos que nos achar bonitos. O problema é querer ser outra nação e achar que o que temos é pior. Eu brinco até que sou até meio “ufanista”. Na minha casa, é música brasileira, comida brasileira. Amo a cultura brasileira. Já trabalhei em escola de samba, sempre vi criatividade e paixão. Acho que o brasileiro tem uma riqueza imensa. Passei um tempo retratando a violência, mas isso me desgastou emocionalmente. Agora quero falar de uma maneira bela, mostrar nossas belezas. A democracia exige alerta constante, mas não quero cair no vitimismo. A arte não fala de um assunto só, ela retrata o que somos. Nada melhor que um caramelo forte e saudável para contrapor imagens equivocadas da nossa independência.

E como surgiu o seu nome artístico?

É uma brincadeira de infância. Meu nome é Dolores Marques dos Santos. Um dia escrevendo percebi que “Marques” terminava com ES e “Santos” com OS. Juntei e criei “Esos”. Disse para mim mesma que um dia usaria esse nome. Muitos anos depois, quando comecei no graffiti, meu professor falou que precisávamos de uma tag curta. Usei então esse nome guardado. Mas me disseram que não podia deixar de usar “Dolores”, que é forte. Então ficou “Dolores Esos”.

Qual é a diferença entre muralismo, graffiti e pichação?

Para começo de conversa, a diferença entre muralismo e graffiti, que eu acho que as pessoas mais confundem, é que o muralismo é algo pago. Algum cliente pede alguma coisa, você vai lá e faz. Ele banca a tinta, o seu cachê etc. Ou é algo permitido.

Já o graffiti não é permitido, em teoria. Nessa técnica, eu vou sair, procurar um muro que possa ser pintado e vou pintar o que eu quiser, com a tinta que eu tiver. Então, basicamente, a diferença seria essa: uma é mais comercial e outra é mais livre.

Dentro do graffiti também tem letras, mas denominadas de formas diferentes: bomb, wild style, letras mais coloridas e tridimensionais. Muita gente define que o graffiti, na verdade, é a letra, porque vem da grafia e do movimento hip-hop. O hip-hop tem três pilares: a palavra cantada (o rap), a expressão dançada (o break) e o graffiti (a palavra escrita).

Eu escrevi meu nome, eu carimbei meu nome na cidade, para dizer que eu existo, que a minha comunidade existe. Então, é mais ou menos por aí. 

E a pichação começou muito nos anos 60, nos Estados Unidos, quando começaram a ter muitas guerras entre guetos. O hip-hop veio tentando acalmar esses ânimos. O picho também é uma maneira de dizer: “Eu estou aqui, eu existo enquanto sociedade”. Então também é uma marca de existência e resistência.

Qual desses três seria mais genuinamente brasileiro ou qual o Brasil se apropriou mais e gerou uma marca mais autoral?

Acho que o Brasil não tem muito isso não. Somos bastante plurais em tudo: na música, na comida e na arte de rua também não é diferente. Não posso elencar o mais forte. Depende da região, da intenção. Tem gente que vive do sticker, tem gente que vive só da pichação, outros só do bomb. Tem quem saiu da pichação, foi para o bomb, criou um personagem e foi para o muralismo, para algo mais complexo.

Conversa Bem Viver

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