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O deputado estadual Leleco Pimentel e o deputado federal Padre João fazem parte do projeto Juntos para Servir, mandato coletivo e participativo, que busca garantir com ética, transparência e eficiê...ver mais

A teia da destruição: corrupção, mineração e poluição convergem para a aniquilação de MG

Estamos diante de evidências estruturais que apontam para a responsabilidade política e potencialmente criminal de Zema

Por deputado federal Padre João e deputado estadual Leleco Pimentel, ambos do PT

A Operação Rejeito, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de setembro de 2025, não representa apenas mais um episódio de corrupção no setor minerário brasileiro. Ela descortina uma arquitetura criminosa que conecta sistematicamente três pilares da destruição: corrupção institucional, exploração minerária predatória e degradação socioambiental irreversível. 

O que emerge dos autos desta investigação é um retrato sombrio de como esses três elementos se entrelaçam para promover não apenas o saque dos recursos naturais mineiros, mas a própria aniquilação das condições de vida digna em nosso estado.

O epicentro da corrupção: licenciamentos “comprados”

Os elementos probatórios colhidos pela Polícia Federal revelam um esquema bilionário que movimentou mais de R$ 18 bilhões através de uma rede de mais de 40 empresas de fachada, operando sob a lógica perversa do “pagou, licenciou”. Essa não é uma distorção pontual do sistema, mas sim a “institucionalização da corrupção” como método de gestão ambiental em Minas Gerais, sobretudo no governo do Zema (Novo).

O ex-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) Rodrigo Franco, ao ser preso, proferiu palavras que ecoam como um epitáfio do estado de direito ambiental mineiro: “Não vou cair sozinho. Eu cumpria ordens”. 

Essa declaração não é apenas uma confissão individual, mas o testemunho de um sistema hierárquico de corrupção que se estende até as mais altas esferas do poder estadual, desmembrando em um início de deleção que leva direto ao governador Zema, por se tratar, exatamente de ser o responsável pelas “ordens” no governo, para um bom entendedor.

Reforma Administrativa: desmontando a fiscalização ambiental

A chave para compreender essa engenharia criminosa reside na Reforma Administrativa implementada pelo governo Romeu Zema. A transferência da fiscalização ambiental da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para a Feam representou mais que uma reorganização burocrática: foi o desmonte programático de um sistema de proteção ambiental construído ao longo de décadas. 

Na Semad, a fiscalização era exercida por servidores de carreira, concursados, com expertise técnica e compromisso institucional com o interesse público. Na Feam reformulada, essa fiscalização foi entregue a cargos políticos, criando as condições ideais para a corrupção sistêmica ora denunciada.

Vítimas emblemáticas: Serra do Curral e Ouro Preto

Os crimes ambientais perpetrados por essa organização criminosa não são abstrações. Eles têm nome, local e consequências mensuráveis. A Serra do Curral, patrimônio paisagístico e ambiental de Belo Horizonte, tornou-se alvo preferencial da Fleurs Global Mineração, empresa que lidera o ranking de infrações ambientais no estado entre 2018 e 2023.

Em Ouro Preto, o soterramento criminoso de uma gruta na Serra do Botafogo pela Patrimônio Mineração exemplifica como a corrupção se traduz em destruição patrimonial irreversível. Essas não são apenas violações administrativas, mas crimes contra as futuras gerações, que herdarão um território devastado pela ganância institucionalizada.

A convergência fatal: corrupção + mineração + poluição = aniquilação

A análise sistêmica dos elementos probatórios da Operação Rejeito revela uma convergência letal que transcende a mera corrupção setorial. A combinação entre captura regulatória através da corrupção de agentes públicos; exploração minerária sem controles socioambientais efetivos; e poluição massiva e irreversível de ecossistemas configura um processo de aniquilação civilizacional que compromete não apenas a integridade socioambiental, mas as próprias condições de existência humana digna em Minas Gerais, no Brasil e no mundo.

Os R$ 2,7 milhões pagos a dirigentes da Agência Nacional de Mineração (ANM) para liberar a transferência irregular de pilhas de rejeitos não representam apenas propina: são o preço pago pela licença para destruir. Cada autorização fraudulenta equivale a uma sentença de morte para ecossistemas, comunidades e o patrimônio ambiental das futuras gerações.

O rastro que leva ao Palácio da Liberdade

As declarações do ex-presidente da Feam sobre “cumprir ordens de cima” não podem ser ignoradas como mero estratagema defensivo. Elas apontam para uma cadeia hierárquica de responsabilidades que necessariamente se estende até o comando político do estado. 

Se a Reforma Administrativa que viabilizou esse esquema criminoso foi concebida e implementada pela gestão Zema; se os principais operadores do esquema ocupavam cargos de confiança nomeados pelo governador; se as “ordens de cima” mencionadas pelo ex-dirigente da Feam só podem emanar do comando executivo estadual, estamos diante de evidências estruturais que apontam para a responsabilidade política e potencialmente criminal do próprio governador.

Um chamado à resistência

A Operação Rejeito não marca o fim dessa saga de destruição, mas possivelmente seu recomeço sob novas roupagens. É imperativo que a sociedade mineira compreenda que não há mineração sustentável sob um Estado corrompido. Não há proteção socioambiental eficaz com instituições capturadas. Não há futuro digno para Minas Gerais enquanto a lógica do “pagou, licenciou” governar nosso território.

Como representantes do povo mineiro, conclamamos todos os setores democráticos, ambientalistas, movimentos sociais e cidadãos conscientes a se unirem em defesa da completa reestruturação do sistema de licenciamento ambiental em Minas Gerais, com o afastamento imediato de todos os envolvidos na rede criminosa e a responsabilização política dos mandantes desta destruição institucionalizada. Fora Zema e sua corja já.

O futuro de Minas Gerais não pode ser negociado em salas fechadas por punhados de dinheiro sujo. A natureza não é mercadoria. A vida não tem preço.

Deputado federal Padre João (PT-MG) e deputado estadual Leleco Pimentel (PT) são vozes ativas na defesa dos direitos socioambientais e na luta contra a corrupção no setor minerário em Minas Gerais.

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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.