O presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou em termos mais fortes até agora os ataques do Hamas que desencadearam o genocídio palestino em 2023 e disse que o grupo não participará de futuros governos da Palestina. As declarações foram feitas por vídeo na Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta quinta-feira (25) já que Abbas foi impedido de entrar nos Estados Unidos pelo governo Trump, que descumpriu compromisso assumido quando da fundação da entidade há 80 anos.
“Apesar de tudo o que nosso povo sofreu, rejeitamos o que o Hamas realizou em 7 de outubro [de 2023]. Essas ações que visaram civis israelenses e os fizeram reféns não representam o povo palestino, nem representam sua justa luta por liberdade e independência”, afirmou Abbas.
“O Hamas não terá nenhum papel a desempenhar na governança. O Hamas e outras facções terão que entregar suas armas à Autoridade Nacional Palestina”, revelou na mensagem gravada.
Mahmoud Abbas condenou o genocídio que já matou mais de 65 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, o que configura “crime de guerra e um crime contra a humanidade. Ficará registrado nos livros de história e nas páginas da consciência internacional como uma tragédia horrível dos séculos 20 e 21”, disse Abbas aos líderes mundiais.
O presidente da Palestina falou ainda que na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental ocupada, capital da Palestina, “o governo extremista israelense continua sua expansão ilegal de assentamentos e está desenvolvendo políticas para novos assentamentos”.
“Eles queimam casas e campos, arrancam árvores, atacam aldeias e civis palestinos desarmados. Na verdade, eles os matam em plena luz do dia, sob a proteção do exército de ocupação israelense”, diz Abbas, um dos únicos líderes mundiais autorizados a falar virtualmente.
Apoio internacional e boicote estadunidense
O discurso ocorre três dias após a França liderar uma cúpula especial na qual diversas nações ocidentais reconheceram um Estado palestino. Hoje, cerca de 80% dos países membros da ONU, ou 155 dos 193 países, reconhecem a Palestina. A lista inclui aliados próximos dos EUA, como Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão e França.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rejeitou categoricamente a ideia de um Estado palestino e, de forma incomum, impediu Abbas e seus principais conselheiros de viajar para Nova York para o encontro anual de líderes mundiais. A Assembleia Geral, no entanto, votou por ampla maioria para permitir que Abbas se dirigisse ao órgão por meio de uma mensagem em vídeo.
Em 1945, quando a ONU foi fundada e Nova York escolhida para sediá-la, os EUA se comprometeram a não barrar o acesso de líderes internacionais na organização. Mas em 1988, Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), também foi impedido de comparecer a Nova York para uma sessão especial da Assembleia Geral da ONU, que acabou sendo organizada em Genebra.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, insistiu que não permitirá um Estado palestino, e membros de extrema direita de seu gabinete ameaçaram anexar a Cisjordânia em uma tentativa de eliminar qualquer perspectiva de verdadeira independência. Apesar de suas divergências com Trump sobre o reconhecimento de um Estado palestino, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse na quarta-feira (24) que o republicano também se opõe à anexação.
Os EUA propuseram um plano de 21 pontos para acabar com o genocídio, incluindo o desarmamento do movimento islamista Hamas e o envio de uma força internacional muçulmana de estabilização. A Indonésia já ofereceu 20 mil soldados para essa força.
A Autoridade Palestina de Abbas tem um controle limitado sobre partes da Cisjordânia em virtude do acordo alcançado durante os acordos de paz de Oslo de 1993. O movimento Fatah de Abbas é rival do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, embora o governo de Netanyahu tente equiparar ambos. O israelense deve falar à Assembleia Geral na sexta-feira (26).