A rejeição unânime da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem pelo Senado, nesta quarta-feira (24), foi lida pelos convidados do Três Por Quatro, podcast do Brasil de Fato, como uma vitória da mobilização popular e um revés importante para a extrema direita no Brasil. O cientista político Aldo Fornazieri, a economista Juliane Furno e a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) analisaram os efeitos da decisão e a relação com as manifestações que reuniram milhares de pessoas no último fim de semana em várias capitais do país.
Para Fornazieri, embora a pressão popular tenha sido decisiva, a proposta já encontrava resistência no Senado. “Já na semana passada, vários senadores, inclusive alguns conservadores, se manifestaram contra a PEC da Blindagem, que é a PEC da Bandidagem. Essa PEC escancarava as portas para a entrada do crime organizado na política”, afirmou.
Juliane Furno destacou o papel das ruas também na disputa contra a anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. “Eu sentia falta que a esquerda protagonizasse esse movimento de [exigir] medidas cabíveis e radicais contra aqueles que atentam contra o Estado Democrático de Direito. Acho que essas manifestações mostraram que é possível e necessário que a esquerda dispute politicamente os rumos do país com a força das ruas”, avaliou.
De dentro do Congresso, Sâmia Bomfim ressaltou o caráter inédito da mobilização. “Acho que juntou uma indignação generalizada sobre o que é o Congresso, o que é a moral dos parlamentares. Conseguimos construir a maior mobilização dos últimos anos e uma mobilização vitoriosa. A PEC da Blindagem definitivamente está enterrada no Congresso Nacional”, comemorou a deputada.
A parlamentar ressaltou que a ofensiva deve continuar. “O principal recado é que lutar e se mobilizar vale a pena. A extrema direita está na defensiva, sobretudo depois da decisão do Supremo [Tribunal Federal] que condena [o ex-presidente Jair] Bolsonaro e os demais golpistas. O medo e o problema estão com eles. O momento de irmos para a ofensiva é agora”, convoca.
Segundo o cientista político Aldo Fornazieri, a derrota da PEC e a dificuldade de avançar com o PL da Dosimetria, novo nome do PL da Anistia, podem isolar o bolsonarismo no Congresso. “O Centrão estava fazendo o jogo da extrema direita, mas setores do centro político começaram a se preocupar. Essa reação contra a PEC da Bandidagem e as manifestações de rua começaram a movimentar a centro-direita no sentido de um descolamento da direita”, analisou.
A economista Juliane Furno avaliou ainda que houve um erro de cálculo da extrema direita em apostar em sanções contra o Brasil, articuladas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. “Foi um erro significativo que pode custar bastante caro para a organização da extrema direita e sua capacidade de influência sobre setores médios e populares”, afirmou.
Já a deputada Sâmia Bomfim apontou que a estratégia da PEC como atalho para a anistia virou um “tiro no pé”. “Eles [parlamentares] subestimaram o povo brasileiro. Usar a PEC da Blindagem como atalho para a anistia foi, na verdade, um tiro no pé. A saída tem que ser ditada pelo quarto poder, que é o poder das ruas”, defendeu.
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