As mudanças climáticas, que antes eram debatidas como projeções de futuro, são uma realidade com consequências presentes no dia a dia das populações urbanas e rurais do Brasil. Nos últimos anos, eventos de calor extremo se alternam com chuvas torrenciais ou longos períodos de estiagem, dificultando a vida de quem vive do plantio de alimentos e depende da previsibilidade do clima para o sucesso de sua produção.
Com pouco acesso a maquinários ou a poderosos sistemas de irrigação, os agricultores familiares da região Nordeste têm sentido na pele — e no bolso — as mudanças climáticas. “A agricultura familiar camponesa é uma das primeiras categorias a sentir as mudanças climáticas, porque a gente [no Nordeste rural] vive em territórios de semiaridez, então o período de chuva fica ainda menor”, diz Matheus Mendes, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e natural de Parnamirim (RN), em entrevista ao Brasil de Fato durante a 2ª Feira da Reforma Agrária de Pernambuco, que aconteceu no fim de semana.
Para lidar com as transformações no clima, avalia Mendes, “o próprio camponês tem as soluções”. “A agricultura camponesa apresenta saídas e alternativas para o bem viver nesses territórios. Sofremos com as dificuldades, mas a resiliência camponesa nos auxilia. Somos uma matriz tecnológica fundamental para o enfrentamento a essas crises”, diz ele, destacando que as famílias rurais do semiárido nordestino têm muito o que ensinar à população do mundo neste momento.

O comunicador camponês coordena, na região Nordeste, um plano do MST para o plantio de árvores e produção de alimentos saudáveis, visando ampliar a produção com o mínimo de degradação ambiental, visando recuperar territórios degradados. Mas Mendes destaca que o “grande capital” atua no sentido contrário. “Não temos como discutir esse problema sem falar do avanço do capital financeiro na região semiárida, com o seu agronegócio, suas criações de gado, especulação imobiliária e outros projetos que avançam nos nossos territórios”, pontuou.
Matheus Mendes criticou também os projetos de geração de energia renovável — com destaque para a solar e, principalmente, a eólica —, que têm avançado sobre as áreas rurais no interior do Nordeste e afetado negativamente a produção camponesa. “Isso tudo tem nos afetado e nos expulsado dos nossos territórios. É o modelo de produção capitalista se reverberando no semiárido com investimento internacional”, resume. Para ele, se o Estado brasileiro quer preservar os biomas e a produção de alimentos saudáveis, “é fundamental enfrentar o modelo dominante”.
Para o fortalecimento das famílias do campo, segundo o ambientalista, são necessárias “políticas públicas para os nossos territórios, visando a convivência com o semiárido; e enfrentar o capital financeiro em suas diversas manifestações na nossa região”, reivindica Mendes.
