Dedicado à promoção do acesso ao cinema, o projeto Cine Juá chega ao Bairro dos Novais, em João Pessoa, e exibe quatro curtas-metragens neste sábado (27), a partir das 18h, em frente à sede do Cavalo Marinho Infantil Sementes do Mestre João Boi. A iniciativa foi idealizada pela cineasta paraibana Vanessa Kypá e traz produções de populações historicamente invisibilizadas no audiovisual.
“O Cine Juá nasceu como um gesto de devolutiva. Minha primeira experiência foi com o curta O Sonho de Anu, que quis levar de volta para os lugares onde foi filmado – aldeias, comunidades rurais e cidades do Sertão e do Litoral paraibano. A intenção era simples, mas urgente: devolver a essas comunidades uma narrativa que dialogava com seus territórios e histórias”, conta Kypá.
Atualmente, o Cine Juá é um cineclube itinerante. A nova edição do projeto homenageia o filósofo e líder quilombola Nêgo Bispo (1959-2023) e tem como tema “Tela aberta para memória e tradição”.
Neste sábado, serão exibidos a animação Quintal (Mariana Netto), o episódio Fogo (Aluízio de Azevedo), da minissérie etnodocumental Diva e as Calins de Mato Grosso, e as ficções Javyju – Bom dia (Kunha Rete) e O Céu Não Sabe o Meu Nome (Carol AÓ). Após as exibições, haverá uma roda de diálogo e atividades lúdicas para as crianças.
Com curadoria de Mika Costa e Mari Miguel, o 2º Cine Juá abriu inscrições para todo o Brasil, e recebeu o total de 136 filmes de diferentes territórios do país. De acordo com Kypá, o projeto prioriza “obras que tratam de identidade, território, espiritualidade e ancestralidade, principalmente de povos negros, indígenas e agora também cigano”. Além disso, as exibições contam com Libras, audiodescrição e locais adaptados, a fim de garantir o acesso de todas as pessoas.
Nesta 2ª edição, o Cine Juá já passou por dois espaços em João Pessoa: Casa Pequeno Davi, uma organização que completou 40 anos de atuação e desenvolve trabalhos com crianças e adolescentes, no Baixo Roger; e Ponto de Cultura Comunitário Porto do Capim. Agora, o cineclube itinerante chega ao Bairro dos Novais. E, no 1º do outubro, Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa, acontecerá a última sessão na Vila Vicentina Júlia Freire, instituição de longa permanência para idosos.

Por meio dos ensinamentos Nêgo Bispo, a iniciativa leva filmes para três públicos, de acordo com a idealizadora: crianças (geração neta), para semear imaginários; adultos (geração mãe), para cultivar diálogos e idosos (geração avó), para colher memórias.
“Não queremos apenas exibir, mas provocar encontros, reflexões e escutas”, afirma Kypá, ao comentar sobre o caráter cineclubista do projeto.
Cultura popular presente
No Bairro dos Novais já fervilha diversas ações culturais, que tem a participação de mestres e mestras como Mestra Tina, da ciranda, capoeira e cavalo marinho.
Kypá enfatiza que o Novais “é uma região periférica onde a cultura popular pulsa fortemente” e que “é uma honra poder programar uma sessão junto com ela [Mestra Tina]. Além disso, o bairro foi escolhido pela sua localização ficar longe dos cinemas e instituições culturais. “Isso dificulta o acesso da população a experiências artísticas, que são um direito de todos. Levar o Cine Juá até os Novais é reafirmar esse direito”, destaca.
Sinopses dos curtas que serão exibidos
Quintal. Direção: Mariana Netto. Ano: 2022. Duração: 15 minutos
Diadorim é uma menina sonhadora, e Riobaldo, um alegre passarinho azul. Em um terreno abandonado, aparentemente esquecido pela cidade grande, Diadorim e Riobaldo buscam juntos se libertar das limitações impostas pelo cotidiano. A animação é inspirada na obra de Manoel de Barros
Javyju – Bom dia. Direção: Kunha Rete e Carlos Eduardo Magalhães. Duração: 25 minutos
Em um futuro próximo, a terra foi devastada. Os povos indígenas sobreviveram em seus territórios graças à proteção dos encantados. Na antiga São Paulo, a aldeia Guarani do Jaraguá é uma das sobreviventes e recebe uma mensagem de esperança por um sonho. O Pajé da aldeia convoca três jovens para uma viagem à cidade vazia atrás de respostas.
O Céu Não Sabe Meu Nome. Direção: Carol AÓ. Duração: 19 minutos
Uma neta ressignifica a morte de sua mais velha por meio das memórias antes não ditas.
Fogo. Duração: 9 minutos
Fogo é o quarto episódio da minissérie Diva e as Calins de Mato Grosso e enfoca nas memórias da professora aposentada, Irandi Rodrigues Silva (Cuiabá-Tangará da Serra), exemplo de superação de todas as barreiras da exclusão e dos estereótipos acerca das mulheres ciganas. Prima-irmã de Diva, Irandi aprendeu a ler e a escrever o nome aos oito anos, com um graveto no chão, após uma moça não cigana casar-se com o seu tio acompanhar o grupo e ensiná-la. O primeiro contato com lápis e caderno foi aos 13 anos, quando o pai contratou essa tia para ensiná-la e os seis irmãos o básico da escrita em casa. Após casar-se estudou, graduou-se e trabalhou 25 anos alfabetizando numa escola estadual.
Serviço
2º Cine Juá | Evento gratuito
Local: em frente à sede do Cavalo Marinho Infantil Sementes do Mestre João do Boi, na rua da Alegria, 165, Bairro dos Novais, em João Pessoa
Horário: a partir das 18h
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