O encontro promete reunir as principais vozes do circuito londrinense, ocorre no próximo domingo (28), no Cine Teatro Ouro Verde (Rua Maranhão, nº 85 – Centro).
O evento gratuito conta com diversas atrações em sua programação: o rolê começa às 14h, com discotecagem, seguida por batalhas de TAG e de Beat, e show do rapper londrinense Kyle Fortes. A tão esperada batalha de rima acontece às 17h30, sucedida por uma apresentação de dança do Front 043, freestyle e mais uma discotecagem.
Para conquistar a Coroa, 16 MCs irão se enfrentar. Para a caminhada até o palco do Ouro Verde, 14 participantes estão duelando em seletivas, que acontecem até 26 de setembro, nas diferentes regiões da cidade. Acesse a lista completa das seletivas no Instagram da Batalha Coroa de Ouro.
Os vencedores do primeiro e do segundo lugar da Coroa de Ouro 2024, os MCs Lagrave e Flavin já estão confirmados para a batalha deste ano.
O Cine Teatro Universitário Ouro Verde, inaugurado em 1952, representa um local de valorização e fortalecimento da cultura, sendo um Patrimônio Histórico Cultural do Estado do Paraná. Assim, é um marco para o movimento hip-hop londrinense ocupar, novamente, um centro fomentador de cultura, que foi de difícil acesso a essa comunidade. A Batalha Coroa de Ouro reivindicou o espaço do rap no Cine Teatro pela primeira vez em 2024.
O jornalista Bruno dos Santos, mais conhecido como Lagrave e campeão da primeira edição, conta que o hip-hop foi o que trouxe “de volta para a realidade”. Bolsista em uma escola particular em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, Lagrave compartilha que as batalhas lhe deram um senso de pertencimento como nenhum lugar havia proporcionado antes.
“No sentido de saber quem que eu era mesmo, eu comecei no hip-hop depois que eu saí da escola e ali eu realmente encontrei pessoas parecidas comigo, pessoas mais diversas do que aquelas que eu encontrava na escola, então, foi meio que um refúgio, um lugar para eu me encontrar para eu saber que eu tenho um lugar nesse mundo e desde então eu não parei mais”, diz.
O MC afirma que sua família não influenciou sua entrada na cena do hip-hop, mas ele se tornou uma “influência do hip-hop na sua família”.
Para ele, o grande diferencial da Coroa de Ouro é a possibilidade de uma expressão cultural criminalizada ocupar um dos espaços mais tradicionais do cenário cultural londrinense.
“Comumente a gente vê eventos assim de grande escala não cumprirem as expectativas que colocam. Falam muito e fazem pouco, e não foi o caso da Coroa de Ouro. Teve uma promessa em relação aos ônibus, uma promessa de trazer a quebrada para o centro, conseguir colocar pessoas de diversas idades e diversas etnias do mesmo lugar para poder vivenciar o que é o hip-hop. Eu acho que foi uma promessa cumprida no sentido tanto de um evento de entretenimento quanto uma batalha com bastante respeito”, assinala.
Lagrave disputou a final com Flavin, cria de Cambé, formado em Educação Física pela UEL (Universidade Estadual de Londrina). O vice-campeão também evidencia o ineditismo da Batalha Coroa de Ouro. Em 70 anos de história, foi a primeira vez que o movimento hip-hop subiu ao palco do Ouro Verde.
“A primeira batalha no Ouro Verde, um marco para a cidade. Sinceramente, foi uma batalha sensacional tanto pelo nível das rimas quanto pela estrutura que foi oferecida para gente. Eu fiquei me sentindo um real artista naquele ambiente. Crachá, comida no camarim, água à vontade, às vezes a gente fica feliz com o básico por ter água à vontade para beber, chega a ser loucura. Sem contar rimar com a sua foto aparecendo atrás, é de outro mundo”, relata Flavin, que pisou no Ouro Verde pela primeira vez aos 26 anos, para participar da Batalha Coroa de Ouro.
Ainda, Lagrave ressalta o reconhecimento não apenas como MC, mas como “ser humano”. “Foi muito mágico porque a gente quando começa a rimar na praça, começa a fazer uma poesia, errando muito, gaguejando, com medo de aparecer, às vezes com medo de ser você mesmo, não imagina que em algum momento você vai estar no maior Cine Teatro da cidade que você mora, fazendo aquilo que você gosta, dando risada, se divertindo com os amigos, tendo um camarim decente e sendo tratado como artista sendo que, às vezes, você não é tratado nem como ser humano”, adverte.
Em 70 anos da fundação do Ouro Verde, o hip-hop pisou no palco do Teatro pela primeira vez em 2024. Fotografia: Twist | Foto: Twist
Existem espaços que não foram feitos para pessoas como nós. Lagrave
Para os MCs, os ecos da Batalha Coroa de Ouro ultrapassam o Ouro Verde. Na avaliação de Lagrave e Flavin, trazer o hip-hop para o Teatro, ou seja, a quebrada para o centro, é mover estruturas de poder mais amplas.
“Por muito tempo, a universidade foi assim, a escola foi assim, cargos considerados relevantes foram assim. Eu acho que dentro do mundo das batalhas, dentro do mundo do hip-hop, dentro do mundo artístico também existe esse tipo de situação. Usando um exemplo bem básico, enquanto o Rock in Rio era frequentado por roqueiros brancos, estava tudo maravilhoso quando vai lá o Carlinhos Brown, o pessoal joga lata e joga porque são espaços que não são feitos para pessoas como nós”, analisa Lagrave.
Além disso, para eles, o evento também contribui para incentivar as novas gerações de MCs a seguirem rimando. “Quem assistiu a Batalha por algum vídeo no Instagram falou ‘pô, mano, esses moleques que iam no meu bairro toda semana, eles estão no maior Teatro da cidade, acho que dá para chegar também nestes espaços que muitas vezes são negados’. Eu acho que nós fomos as pessoas que bateram a cabeça no muro e vamos seguir batendo a cabeça nos muros seguintes para que as próximas gerações não tenham que bater a cabeça também”, acrescenta Lagrave.
Para Lagrave e Flavin, campeão e vice-campeão da Coroa de Ouro 2024, evento também contribui para incentivar as novas gerações de MCs a seguirem rimando. Foto: Twist | Foto: Twist
A partir do momento que a gente pisa lá, eles se tornam nossos
Campeão e vice-campeão, Lagrave e Flavin, pretendem voltar ao palco do Ouro Verde nesta 2ª edição da Batalha Coroa de Ouro. “Eu acho que quando a gente ocupa um lugar que não é feito para gente é só não deixar tomarem de volta”, sinaliza Lagrave.
“A gente deu o primeiro passo, fincou a bandeira e agora é só manter. Eu acho que o mais difícil é o primeiro passo, agora que a gente já foi lá uma vez, é importante expandir a cultura porque a gente fica muito nos mesmos locais. Precisa ter esses movimentos que sai da nossa zona de conforto e vai para a zona de conflito, em busca de lugares diferentes, de pessoas diferentes”, complementa Flavin.
A entrada é gratuita. Para participar, é necessário ingresso no Sympla (disponível aqui). Na hora do evento também serão distribuídos ingressos, sujeito a lotação.
“Eu tenho boas expectativas porque a edição anterior alimentou essas boas expectativas. A gente espera uma edição melhor ainda. Tem tudo para ter mais MC ‘s, mais plateia, mais DJ’ s, mais grafite, estou empolgado”, sugere Lagrave.
A Batalha Coroa de Ouro integra a programação do 3º Festival das Diversidades, uma realização da Kapanga Criativa e do programa de extensão da UEL, Práxis Itinerante.
Serviço
2ª edição Batalha Coroa de Ouro Data: Domingo, 28 de setembro de 2025 Horário: 14h Local: Cine Teatro Ouro Verde (Rua Maranhão, nº 85 – Centro) Entrada gratuita, que deve ser retirada através do Sympla (disponível aqui) ou na hora do evento sujeito a lotação
Programação completa
14h — Discotecagem
15h — Batalha de TAG (graffiti)
16h — Batalha de Beat
17h — Show do Kyle Fortes
17h30 — Batalha de Rima
19h — Apresentação de dança, do Front 043, durante o intervalo entre a batalha de rima
19h30 — Retomada da Batalha de Rima, com as fases finais
20h30 — Final da batalha
20h40 — Freestyle aberto para/com o público, agradecimentos finais e última discotecagem
Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.