O governo iraniano convocou, neste sábado (27), para uma consulta os embaixadores que estão na França, Reino Unido e Alemanha. O movimento diplomático acontece horas antes da previsão de retomada das sanções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ao programa nuclear iraniano. A partir das 21h deste sábado, as medidas devem entrar em vigor.
Em agosto, França, Reino Unido e Alemanha acionaram um mecanismo para restabelecer, num prazo de 30 dias, as sanções contra o país persa, que estavam suspensas desde 2015. O tema foi discutido na sexta-feira (26), no Conselho de Segurança da ONU. Rússia e China apresentaram uma resolução que tentava estender a flexibilização das medidas por seis meses.
Os três países europeus, chamados de E3, votaram contra a resolução, além de outros seis países. O ministro das relações exteriores do Irã, Seyed Abbas Araghchi, criticou o resultado da votação.
“O E3 e os Estados Unidos agiram de má-fé, alegando apoiar a diplomacia enquanto, na prática, a bloqueavam. Lamentavelmente, a E3 escolheu seguir os caprichos de Washington em vez de exercer sua discrição soberana independente”, disse.
As sanções contra o Irã devem ser retomadas a partir de um mecanismo chamado “Snapback“. Ele embarga uma série de negociações envolvendo a estrutura militar do país, como compra e venda de armas, além de impedir a importação, exportação ou a transferência de materiais relacionados ao programa nuclear.
País reafirma transparência sobre programa nuclear
Neste sábado, o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, afirmou que o país seguirá sendo transparente em relação ao enriquecimento de urânio e que não há intenção de sair do Tratado de Não Proliferação. Ao longo da semana, na Assembleia Geral da ONU, Pezeshkian reafirmou que não há interesse em armas nucleares.
A França justificou o voto contra a prorrogação da suspensão das sanções afirmando que o Irã não facilitou as inspeções ao programa nuclear feitas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“Embora o Irã tenha afirmado ter assinado no Cairo a retomada da cooperação com a Agência, esses locais altamente sensíveis não foram submetidos a inspeções, o que viola as obrigações internacionais do Irã”, afirmou o embaixador francês, Jérôme Bonnafont
A embaixadora dos EUA, Dorothy Sea, criticou o movimento organizado por China e Rússia. Ela classificou a resolução proposta pelos dois países como “um esforço vazio para isentar o Irã de qualquer responsabilidade pelo seu contínuo e significativo descumprimento de seus compromissos nucleares — e tudo isso sem exigir progresso diplomático tangível”.
O diplomata iraniano, por sua vez, criticou a postura dos Estados Unidos e afirmou que o governo estadunidense vem descumprindo uma série de acordos.
“Negociamos uma vez em 2015 e fizemos um bom acordo. Fizemos um acordo que o mundo inteiro comemorou como uma conquista da diplomacia. Mas o que aconteceu? Só depois de um ano, os Estados Unidos se retiraram e restabeleceram as sanções. Novamente este ano, fomos convidados a negociar e aceitamos. O que aconteceu? Bem no meio das negociações, os Estados Unidos decidiram nos atacar, Israel atacou, e os EUA se juntaram”, lembrou.