A 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (CNPM) começou nesta segunda-feira (29), em Brasília (DF), e reunirá cerca de 4 mil mulheres até a próxima quarta-feira (1º) para discutir ações e políticas voltadas para essa população.
A cerimônia de abertura contou com a presença de ex-ministras das Mulheres, atuais ministros de diversas pastas, representantes de movimentos e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que esteve acompanhado da primeira-dama, Rosângela Silva.
“Quero desejar a todas uma feliz e produtiva conferência e que Deus faça com que a gente saia daqui maior, muito maior, com diretrizes, com coisas concretas, que possa fazer com que o governo possa fazer muito mais”, declarou o presidente.
Por sua vez, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, foi a responsável por inaugurar, oficialmente, os trabalhos da 5ª CNPM, ressaltando o trabalho coletivo que permitiu a realização do evento, que foi precedido de etapas municipais e estaduais.
“Esta conferência é a realização de um sonho coletivo, sonhado e construído juntas, que ganhou vida graças à mobilização que percorreu todo o Brasil, das conferências livres municipais, regionais e estaduais, e que trouxe até aqui milhares de mulheres, mulheres que atravessaram longas distâncias, enfrentaram caminhos difíceis e romperam barreiras de toda ordem, mas não desistiram, vieram de todos os cantos e territórios, trazendo em cada passo a força da resistência e a esperança de um futuro mais justo”, declarou a ministra, destacando ainda os graves retrocessos sobre as políticas de gênero desde a realização da última conferência nacional de mulheres.
“Desde a última conferência em 2016, enfrentamos anos de retrocessos, mas resistimos e dessa resistência brotou ainda mais força”, afirmou. “O Brasil voltou, as mulheres voltaram”, disse a ministra.
Mulheridades
As atividades da 5ª CNPM começaram com música, arte e cultura, e muita diversidade. Ana Claudia é uma mulher trans, cabeleireira e veio da pequena cidade de Nova Russas, no sertão do Ceará.
“Para nós, mulheres transexuais, essa conferência é muito importante, porque mostra a diversidade de lutas. Hoje a gente está numa 5ª conferência em Brasília, nacionalmente, junto com as mulheres cis. Isso é de extrema importância porque a gente vê que a sociedade está nos enxergando como seres humanos, como cidadãs, que é mais do que justo”, disse ela.
“Nós nos unimos como família e estamos lutando pelo direito, o respeito, a igualdade por todas”, afirmou Claudia.
Por sua vez, Bruna Benevides, representante trans no Conselho Nacional de Política para as Mulheres, fez um chamado à unidade.
“Defendemos que a discussão desta conferência e da política para as mulheres não pode e não deve se limitar ao que é uma mulher, mas deve ser sobre o que temos em comum, nossas vidas, nossos sonhos, nossas lutas e tudo aquilo que nós queremos. Construir das alianças que temos feito nas nossas caminhadas, que nós estamos aqui, não chegamos sozinhas, estamos escrevendo mais um capítulo na história desse Brasil”, disse Benevides, que ainda defendeu o estabelecimento de cotas para mulheres trans no Concurso Nacional Unificado (CNU).
De Pernambuco, Carla Eduarda veio à conferência representando o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e explica como a possibilidade de viver sob um teto digno pode ser transformador para as mulheres, sobretudo aquelas vítimas de violência.
“É importante a gente discutir o orçamento, claro. Todas as ações, todos os programas de governo, para a questão do acolhimento, para a questão da assistência, mas é importante, para a verdadeira emancipação da mulher, sua independência e a dignidade, é a gente garantir também uma moradia digna, porque muitas vezes as mulheres são vítimas de violência doméstica, vítima de violência financeira, por conta da necessidade de uma moradia. E muitas vezes ela é muito explorada pelo agressor, porque é ele que toma conta de tudo, paga tudo, e a mulher muitas vezes fica refém”, destacou.
As amigas Vera Cristina e Maura Guerreira vieram do Rio de Janeiro para debater a necessidade de políticas de saúde voltadas para as mulheres negras. “Nossa expectativa de criar realmente políticas públicas voltadas para as mulheres negras. Porque nós, mulheres negras, principalmente em relação a nossa saúde, a gente não tem política realmente que atenda as nossas necessidades. Então, a gente quer política realmente para mulherada”, disse Vera.
“Nós estamos em busca de igualdade, um sistema único de saúde para as mulheres, porque nós mulheres somos muito discriminadas, é muito descaso. Nós estamos correndo atrás do nosso objetivo para nós, mulheres, vivermos com dignidade”, completou Maura.
Josi Kaingang, representante da Marcha de Mulheres Indígenas e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) destacou, por sua vez, a luta pela ocupação dos espaços de decisão. E fez questão de mencionar o povo palestino, vítima de um genocídio que segue em curso.
“Nós seguimos em luta, lutando para que mais mulheres indígenas sigam aldeando o Estado, aldeando a política e para que a gente possa seguir lutando pela demarcação das nossas terras indígenas e quilombolas, para que a gente possa continuar lutando por soberania nacional, para que a gente siga lutando pela Palestina livre”, disse a indígena.
As atividades da 5ª CNPM acontecem até a próxima quarta-feira (1º), em Brasília, quando as conferencistas devem divulgar um documento final com propostas de ações e políticas públicas de igualdade de gênero no país.
Para isso, no segundo dia de encontro haverá espaços que discutirão temas como o trabalho, emprego e autonomia econômica das mulheres, empreendedorismo, educação, saúde integral, direitos sexuais e reprodutivos, e o combate à violência de gênero. Ao todo, são 15 mesas temáticas nos três dias de evento.