O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, participaram nesta segunda-feira (29) da cerimônia de abertura da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (5ª CNPM). “O futuro é feminino”, declarou o presidente às mais de 4 mil participantes presentes no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.
Em um discurso ora de improviso, ora lido, o presidente fez questão de homenagear “as mulheres de sua vida”, ao mencionar suas duas ex-esposas falecidas, e a atual primeira-dama.
“Eu não posso esquecer aqui nessa fala de hoje, sabe, do papel que a minha ex-mulher Marisa [Letícia] teve na construção desse partido, na construção da CUT [Central Única dos Trabalhadores]”, destacou. “Quando eu perdi a Marisa, eu achei que meu mundo tinha acabado”, seguiu o presidente. “Aliás, quando eu perdi a Lourdes, eu fui casado por 2 anos. Eu casei em 69 e ela morreu em 71, morreu no parto e eu fiquei praticamente 3 anos indo ao cemitério todo dia. Eu ia todo santo dia no cemitério”, lembrou.
“Então eu pensei que o mundo tinha acabado. Eu depois encontrei a Marisa. Com a Marisa vivi 45 anos. Quando ela morreu achei que o mundo tinha acabado. E eis que Deus é tão poderoso que me deu a Janjinha para fazer com que eu viva com a felicidade que eu tô vivendo hoje”, disse o presidente, que avisou que levará a primeira-dama Janja Silva para seu encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em tom de brincadeira.
Em outro momento, o presidente homenageou a mãe, Dona Lindu. “Sou antes de tudo filho da dona Lindu, uma migrante sem formação escolar nem rede de apoio, que se rebelou contra a violência doméstica e decidiu criar sozinha oito filhos. A recusa de Dona Lindu em aceitar o desrespeito e a violência me marcou profundamente e por toda a minha vida. Foi com esse exemplo que ao assumir a presidência em 2003 decidi criar pela primeira vez na história uma secretaria dedicada a políticas públicas para as mulheres”, disse o presidente.
Hiato de uma década
Em seu discurso, Lula destacou o retorno da realização da Conferência Nacional de Mulheres após um período de quase dez anos sem ser realizada.
“É com muita alegria que participo dessa celebração que marca o retorno das conferências nacionais de política para as mulheres. Esta quinta conferência acontece após o intervalo involuntário simplesmente de dez anos. Dez anos de retrocesso em tudo que havíamos conquistado. Dez anos de repetida tentativa de calar a voz das mulheres, de institucionalizar o silêncio que as mulheres enfrentam todos os dias em casa, no trabalho, em todos os ambientes e que lutam para ser ouvidas”, destacou o mandatário.
“As conferências significam a primeira demonstração de que democracia não é apenas o povo votar. Além de votar, o povo precisa fiscalizar. Além de fiscalizar, o povo precisa propor. E além de propor, o povo tem que ajudar a fazer. Ajudar a fazer e mais importante, ajudar a cuidar das coisas que a gente faz”, afirmou o presidente, que disse esperar resultados concretos do espaço.

“Quero desejar a todas uma feliz e produtiva conferência e que Deus faça com que a gente saia daqui maior, muito maior, e que a gente saia daqui com diretrizes, com coisas concretas, que possa fazer com que o governo possa fazer muito mais”, finalizou o presidente, não sem antes homenagear mulheres notáveis da história brasileira, entre as quais as escritoras Maria Carolina de Jesus e Ana Maria Magalhães, esta última, a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Lula também mencionou a ativista, filósofa e antropóloga Lélia González, a futebolista Marta, a ex-ministra e ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e a vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em 2018, Marielle Franco. “Marielle vive entre nós”, finalizou.
Durante a cerimônia, o presidente Lula assinou um projeto de lei do Executivo que propõe a extensão da licença-maternidade por até 120 dias, iniciando após a alta hospitalar da mãe e do recém-nascido. Ele ainda sancionou a Lei nº 853 de 2019, que institui a Semana Nacional de Conscientização sobre os cuidados com gestantes e mães. Esta semana tem como foco os “primeiros mil dias” do bebê, visando estimular o desenvolvimento integral da primeira infância e aumentar a conscientização pública sobre o tema.
A 5ª CNPM acontece até a próxima quarta-feira (1º), em Brasília, quando deve ser divulgado um documento final com propostas de ações e políticas públicas de igualdade de gênero que serão encaminhadas ao Executivo. Para isso, nos três dias de evento, serão realizadas 15 mesas temáticas de discussão sobre temas relacionados como o trabalho, emprego e autonomia econômica das mulheres, empreendedorismo, educação, saúde integral, direitos sexuais e reprodutivos, e o combate à violência de gênero.