A 22ª reunião anual do Clube de Discussão Internacional Valdai, realizada na cidade russa de Sochi entre 29 de setembro e 3 de outubro, teve início nesta segunda-feira, com a participação de 140 representantes de mais de 40 países, para discutir os caminhos da multipolaridade.
O tradicional fórum de discussão reúne acadêmicos, diplomatas e atores políticos para discutir os principais temas da agenda do cenário internacional e é um dos principais eventos no calendário da política externa russa. Neste ano, o lema principal das discussões é: “O Mundo Policêntrico: Instruções de Uso”.
Entre os delegados convidados estão Argélia, Brasil, Reino Unido, Venezuela, Alemanha, Egito, Índia, Indonésia, Irã, China, Cazaquistão, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Paquistão, Rússia, Estados Unidos, Uzbequistão, Etiópia e África do Sul.
Os organizadores enfatizam que um dos principais objetivos da discussão será o intercâmbio de recomendações práticas para governos e organizações internacionais sobre como se adaptar às novas realidades da política global.
O professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e representante do Conselho Civil do Brics, Fabiano Mielniczuk, foi um dos palestrantes da mesa de abertura do evento e, em entrevista ao Brasil de Fato, explicou a importância que o Clube de Valdai tem para as discussões sobre a política externa russa.
“O que eu noto é que os russos dão muita importância para ouvir o que as pessoas do resto do mundo falam sobre a Rússia e para apresentar a visão que eles têm sobre o mundo. Você tem acadêmicos com visões diferentes, diplomatas com visões diferentes, políticos com visões diferentes, que sentam para conversar, que trabalham numa agenda comum, e que pretendem que essa agenda seja importante para a formação da política externa da Rússia”, afirma.
Tradicionalmente, o presidente russo, Vladimir Putin, participa do último dia do Clube Valdai, no qual faz um balanço dos principais dilemas da Rússia na conjuntura internacional, mas levando em conta o desenvolvimento das discussões do fórum.
“É muito comum, por exemplo, no discurso do Putin, que geralmente acontece no último dia, ele fazer menção ao que foi apresentado pelos participantes do Clube de Valdai ao longo do processo. E a gente nota que a cada ano os russos se apropriam desse conhecimento e avançam uma perspectiva deles a respeito. É muito importante. Eu acredito que poucos países ocidentais têm, de verdade, um processo tão elaborado assim de escuta para as contribuições dos outros países do mundo”, afirma.
Na edição deste ano, entre as autoridades russas, também participam o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, o vice-chefe da administração presidencial russa, Maxim Oreshkin, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, e o prefeito de Moscou, Serguei Sobianin.
Ao comentar sobre o tema do Clube Valdai deste ano, o professor aponta que o mundo vive hoje um processo de transformação das formas de concentração de poder entre Estados, ou seja, saindo de uma unipolaridade para uma multipolaridade.
“E quais são os efeitos deste tipo de concentração no comportamento de todos os Estados? Esse é o grande dilema, porque a gente está saindo de um momento unipolar, norte-americano, do fim da Guerra Fria, de hegemonia total dos EUA, e de uma prática de muita extensão do poder nos EUA no mundo com guerras, com projeção de sua identidade liberal, instituições liberais, para a emergência de novos polos econômicos, políticos, militares, com a China, com a Rússia se restabelecendo, com a Índia, com o Brasil”, completa.
O Clube Internacional de Discussão de Valdai foi fundado em 2004 e leva o nome do local da primeira conferência, realizada em Veliky Novgorod, próximo ao Lago Valdai. Em 2014, o clube adquiriu sua sede e começou a operar como um think tank de projeção internacional.
Entre outros destaques que participam da edição deste ano estão o economista brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr., ex-diretor-geral do FMI e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento. O representante brasileiro fará parte da sessão “Liberdade e Dependência: Desenvolvimento no Contexto de Conflito Político e Turbulência Econômica?”, na próxima quarta-feira (1º).
