A menos de um mês das eleições legislativas na Argentina, novas informações que ligam o deputado argentino José Luis Espert, um dos principais candidatos do ultradireitista Javier Milei, a dinheiro proveniente do narcotráfico e da lavagem de dinheiro emergem na campanha. O caso veio à tona após a divulgação de que Espert recebeu uma transferência de 200 mil dólares em fevereiro de 2020. A quantia seria proveniente do fideicomisso Aircraft Guarantee Corporation, administrado por Fred Machado — empresário atualmente detido na Argentina com pedido de extradição para os Estados Unidos por narcotráfico e lavagem de dinheiro.
As informações surgem das perícias contábeis incorporadas à investigação que está sendo julgada na vara criminal do Distrito Judicial Leste do Texas, Estados Unidos, que associa Machado aos crimes relacionados ao narcotráfico.
Apontado como financiador da carreira política de Espert, o empresário está em prisão domiciliar desde 16 de abril de 2021 e aguarda que a Suprema Corte de Justiça da Argentina se pronuncie sobre o pedido de extradição solicitado pela justiça dos Estados Unidos, que o acusa de integrar “uma conspiração para produzir e distribuir cocaína”. Além disso, enfrenta acusações de fraude e lavagem de dinheiro, que já resultaram em uma condenação de 16 anos de prisão para Mercer-Erwin, sua ex-sócia na estrutura criminosa internacional.
O detalhamento do envio de 200 mil dólares a Espert foi encontrado após uma revisão dos documentos do processo realizada pela equipe de advogados do dirigente político Juan Grabois, candidato a deputado nacional pelo partido Fuerza Pátria, e do deputado nacional Rodolfo Tailhade. Foi apresentada uma denúncia formal aos tribunais federais da Argentina para que Espert seja investigado.
Quem é “Fred” Machado?
Federico “Fred” Machado, de 57 anos, é proprietário da empresa South Aviation, com sede na Flórida. Ele é acusado pelas autoridades estadunidenses de fazer parte de uma sofisticada engrenagem de operações do Cartel de Sinaloa.
Segundo a acusação, Machado era responsável, por meio de manobras fraudulentas, por comprar aviões e ocultar sua titularidade através de registros falsos para que posteriormente fossem usados no transporte de cocaína para o mercado dos EUA.
A investigação o relaciona a duas descobertas importantes: a primeira, mais de 1.500 quilos de cocaína encontrados em um avião abandonado no México; e a segunda, uma carga de 2,5 toneladas interceptada na Guatemala, onde há uma ampla investigação sobre seus supostos vínculos com o poder político.
Além disso, ele é acusado de cometer diversas fraudes — estimadas em 250 milhões de dólares — por meio de vendas falsas de aeronaves e de utilizar suas empresas para lavar dinheiro.
Machado havia sido preso no Texas em 2020, mas conseguiu recuperar a liberdade e fugiu primeiro para o México e depois para a Argentina. Um ano depois, em abril de 2021, por meio de um alerta vermelho da Interpol, foi capturado pela Polícia de Segurança Aeroportuária na Argentina.
Atualmente, Machado é representado pelo advogado Francisco Oneto, que também defende o presidente Javier Milei no caso da fraude cripto “Libra” e que, há dois anos, havia sido candidato a vice-governador da província de Buenos Aires com o apoio de Espert.
Uma relação de anos
Os vínculos entre José Luis Espert e Fred Machado não são segredo. A primeira informação pública sobre a relação data de 2019. Naquele ano, sendo candidato à presidência, Espert fez uma viagem em um avião privado de Machado até a cidade de Viedma para apresentar seu livro A Sociedade de Cúmplices. Durante a apresentação, Espert agradeceu publicamente a Machado pela viagem. Desse encontro ficou registrada uma foto de Fred Machado ao lado do atual candidato, posando em frente ao avião.
Em meados de 2020, a Justiça Eleitoral apontou irregularidades na campanha presidencial de Espert de 2019, indicando que ele não havia declarado os aportes recebidos.
Após a detenção de Machado, o vínculo com Espert foi questionado até mesmo por setores liberais, que pediram explicações. Em abril de 2021, após a prisão de Machado, foi apresentada uma denúncia penal contra Espert e sua equipe política. A denúncia afirmava que as viagens da campanha teriam sido realizadas “utilizando a frota de jatos privados e veículos automotores” de Machado.
No meio dos escândalos, durante uma entrevista concedida em 9 de maio de 2021, Espert explicou sua relação com Machado, afirmando:
“No início de 2019, em uma das muitas reuniões empresariais das quais participo como consultor, conheci o senhor Federico Machado. Ele me disse que era admirador das minhas ideias e, justamente, estava organizando a apresentação do meu livro A Sociedade de Cúmplices. A editora Penguin Random House não havia incluído Viedma em seu roteiro de apresentações do livro. Federico Machado é de Viedma. Ele me propôs apresentar o livro lá, e achei fantástico. Ele organizou a apresentação do meu livro, e essa foi toda a minha relação com ele.”
Entre 2022 e 2024, o patrimônio declarado de Espert se multiplicou em 789%.