Presidentes de partidos e líderes políticos do campo progressista se reuniram nesta terça-feira (30) em Brasília (DF), às vésperas da votação do Projeto de Lei (PL) 1087/2025, o PL da isenção do Imposto de Renda, que deve ocorrer na quarta-feira (1º). O objetivo foi fortalecer as articulações em torno das pautas consideradas de interesse nacional e alinhadas com o governo.
“Para nós nesse momento tem três pautas que são essenciais. A primeira é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que pode ser aprovada na Câmara na próxima quarta-feira”, destacou a presidente do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), Paula Coradi, lembrando que o encontro busca reforçar a articulação para o avanço de outras pautas de interesse nacional no Congresso.
“Essa reunião tem o sentido de a gente também reforçar a articulação em torno desse tema, do fim da escala 6×1 e da taxação dos bancos, das bets e dos bilionários. E além disso, reforçar o nosso compromisso com a democracia e que esse compromisso passa por não fazer nenhuma concessão a nenhum ato autoritário, seja vindo de quem for”, disse Coradi.
Edinho Silva, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), disse que um dos objetivos da reunião é fazer com que as bancadas dos partidos envolvidos atuem de maneira “unificada” em torno aos temas de interesse da população.
“Nós vamos construir uma unidade entre as nossas bancadas para que a gente comece a pautar os temas importantes para o povo brasileiro, como o fim da jornada 6×1. Que o Brasil faça o debate da necessidade da tarifa zero no transporte público. São mais de 20 milhões de brasileiras e brasileiros que deixam de utilizar transporte público por falta de condições financeiras. Que a gente debata de forma responsável a PEC da Segurança Pública, que seja uma concepção de segurança que efetivamente rompa com a concepção de polícia que mata. Essa concepção não nos representa e não representa o povo brasileiro”, destacou o petista.
“Nós estamos trabalhando para consolidar e ampliar esse campo político. Entendemos que o Brasil necessita da consolidação de uma concepção, de uma organização partidária que não só paute agendas de interesse do povo brasileiro, mas também consolide a vocação do Brasil pela democracia”, completou Silva.
Por sua vez, o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e prefeito do Recife (PE), João Campos, afirmou que as reuniões, que têm sido frequentes, mostram “sintonia e completo alinhamento em pautas que são importantes para o povo brasileiro”, e agregou que esse espaço de articulação segue aberto ao diálogo com outras agremiações, ou mesmo com lideranças desses partidos que apoiem a pauta do país.
“Há uma compreensão de que existem parlamentares que estão em outros partidos, mas que têm um alinhamento com uma pauta importante do governo. Uma pauta que olhe para um sistema tributário justo, para o fortalecimento da democracia, e que vários parlamentares que estão em outros partidos podem estar cada vez mais próximos dessa [nossa] agenda”, destacou Campos, que foi corroborado pelo presidente do PT.
“Conhecendo um pouco a realidade partidária brasileira, talvez a gente não consiga trazer partidos por inteiro, mas nós conseguiremos trazer lideranças importantes de outros partidos que também têm afinidades com essa agenda que nós queremos debater com o Brasil e com o Congresso Nacional. Eu penso que existe ambiente para isso no Brasil hoje”, afirmou Edinho Silva.
Votação da isenção do IR
Especificamente sobre a expectativa em relação à votação do PL da isenção do Imposto de Renda, a líder do Psol, deputada Talíria Petrone, afirmou que espera aprovar o texto tal qual foi aprovado na Comissão Especial, onde teve relatoria do deputado federal Arthur Lira (PP-AL). “Inclusive, na reunião de líderes, esse foi um desejo manifestado pelo próprio relator”, afirmou Petrone.
Publicamente, não há deputado que se declare contra a isenção, mas há quem articule para mudar a compensação da perda de arrecadação gerada pela mudança. No projeto enviado pelo governo, essa compensação seria feita taxando em até 10% pessoas que ganhem acima de R$ 600 mil anuais, uma média de R$ 50 mil por mês. Deputados da extrema direita trabalham para modificar esse dispositivo, tornando o projeto inviável do ponto de vista financeiro.
O presidente da Rede, Paulo Lamac, alertou que “forças que já estiveram no governo recentemente e não reduziram imposto para a população” querem “sabotar o projeto”.
“Eventualmente podem querer sabotar o governo, ou sabotar o projeto, que é um projeto que beneficia as pessoas que têm menos recurso, apresentando emendas que aparentemente ampliam o benefício, mas que, na realidade, são maneiras de evitar que o projeto seja votado”, disse o político.
“Desde o início da tramitação e do projeto da isenção de imposto, há um setor no Brasil que quer desidratar o projeto, inviabilizar que ele seja aprovado”, afirmou Talíria Petrone. Na avaliação da parlamentar, essas tentativas não devem ter aderência sequer nos setores da centro-direita.
“Nós estamos falando de 20 milhões de brasileiros que vão ser impactados na prática com o aumento da sua renda e que apenas 140 mil pessoas vão pagar para que 20 milhões de brasileiros sejam beneficiados. Quem for contra essa equação, não está atendendo aos anseios do povo brasileiro”, considerou a líder do Psol.

Na mesma linha, o deputado federal Túlio Gadêlha mencionou as recentes mobilizações populares contra as pautas da extrema direita, nas quais o tema da isenção do IR também esteve na pauta das ruas.
“A gente tem observado bastante o aumento da quantidade de pessoas indo às ruas, pedindo aquelas pautas que são do interesse do povo brasileiro. E a gente tem observado também que são essas pautas que nós defendemos no dia a dia”, disse o parlamentar.
Oposição só pensa em anistia
Questionados pelo Brasil de Fato sobre a convocatória da extrema direita a atos pela anistia aos golpistas no próximo dia 7 de outubro, a líder o Psol na Câmara disse esperar que o Congresso “não passe essa vergonha” e afirmou que já está claro que essa não é uma pauta da população brasileira.
“Para aquela trabalhadora doméstica que pega duas horas de ônibus, para o porteiro, para a caixa do supermercado, qual é a agenda que interessa para a vida dela? A isenção de imposto de renda ou anistia? O fim da escala 6×1, a redução da jornada de trabalho, ou a anistia?”, questionou a parlamentar.
“Então, a gente tem um lado muito claro e é um lado que atende aos anseios do povo. Aquele povo que ocupou as ruas, mostrou que o poder dessas pessoas é o poder que incide na política institucional. Então, é esse anseio que nós estamos atendendo, vamos seguir atendendo independentemente das movimentações antidemocráticas que podem acontecer no próximo final de semana”, completou a psolista.
O presidente do PT também foi enfático ao dizer que o partido rejeita, inclusive, a redução de penas aos condenados pela tentativa de golpe de Estado.
“Quem planejou a morte do presidente Lula, do vice-presidente geral do Alckmin, e do presidente do TSE à época, ministro Alexandre de Morais, é assassino. A gente não pode anistiar assassinos nem reduzir penas. E aqueles que afrontam a democracia também não podem ser beneficiados. Essa agenda não é a agenda da realidade do Brasil, não é a agenda da realidade do povo brasileiro”, declarou Edinho Silva.
Eleições 2026
Ao comentar a articulação entre os partidos progressistas, Silva afirmou tratar-se de um diálogo que atende a necessidade de um projeto unitário, no contexto de disputa política mundial.
“Queremos dialogar com todos esses partidos que têm uma origem democrática, que tem uma tradição democrática. Nós sabemos o que está em jogo nesse momento da história mundial, o que está se caracterizando na disputa política mundial, e sabemos o que está em jogo no Brasil”, disse o petista, ao se referir diretamente às eleições de 2026.
“As próximas disputas que vão se dar na sociedade é sobre qual Brasil que nós deixaremos como herança para as futuras gerações. É isso que está em disputa. Então não é pouco. E, nesse sentido, nós queremos agregar forças partidárias e também muita representatividade da sociedade, porque a sociedade brasileira está mobilizada”, afirmou.
Quem também se referiu ao pleito do próximo ano foi João Campos, que deve disputar o governo de Pernambuco. “A ideia é fazer essa a aproximação, e claro, acredito que pode haver uma boa consequência de crescimento eleitoral no próximo ano dos partidos que aqui estão”, declarou Campos.