A vida das mulheres no Brasil piorou em comparação à década passada, segundo a 3ª edição da pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc São Paulo. O levantamento mostra que uma em cada quatro entrevistadas considera que há mais aspectos negativos do que positivos em ser mulher, índice maior do que nas edições anteriores.
Para a pesquisadora Sofia Toledo, analista da Fundação Perseu Abramo, o resultado reflete o acirramento das desigualdades econômicas, sociais e da violência de gênero. “As mulheres estão ganhando menos, vivendo numa sociedade mais violenta, com menos espaço de participação política e submetidas a diferentes tipos de discriminação. Isso se agravou em relação a 2010, quando os dados eram melhores”, afirmou, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
O estudo aponta que metade das mulheres já sofreu algum tipo de violência, mas o reconhecimento espontâneo ainda é baixo: apenas 23% mencionaram de imediato terem sido vítimas, sendo 11% violência física. Quando apresentadas a situações específicas, o índice subiu para 50%. “Dar um tapa ou um soco é reconhecido como violência. Já humilhações, xingamentos e perseguições muitas vezes não são”, explicou Toledo.
Além disso, 71% das mulheres que sofreram agressões não as denunciaram oficialmente. A cada dez vítimas, duas foram orientadas a não registrar queixa, inclusive por familiares. “Isso revela tanto o medo de retaliações, quanto o despreparo de delegacias e a falta de autonomia financeira para sair da situação de violência”, destacou a pesquisadora.
Desigualdade racial e regional
Ainda de acordo com o estudo, a renda média das mulheres é 40% inferior à dos homens. Entre as negras, 59% vivem em lares com até dois salários mínimos; no Nordeste, essa condição atinge 64% das entrevistadas.
“O peso da raça e da regionalidade é evidente. Mulheres negras e nordestinas estão mais concentradas na faixa de menor renda, muitas no mercado informal e sem direitos trabalhistas”, disse Toledo.
Outro dado que chama atenção é o aumento das mulheres provedoras do lar: em 2010 eram 35%, agora, 49%. Entre elas, a maioria é jovem, negra e vive com até dois salários mínimos.
Participação política e democracia
A pesquisa também mostra uma queda no interesse declarado das mulheres pela política: apenas 71% consideram o tema importante, contra 80% em 2010. Só 8% participam de movimentos sociais. Para Toledo, o dado não indica um desinteresse absoluto.
“Elas têm rotinas de tripla jornada, mas 89% dizem preferir candidaturas femininas, 78% preferem candidaturas negras e 68% preferem candidaturas indígenas. Há uma adesão forte à democracia e à diversidade na representação política”, explicou.
Segundo a pesquisadora, a contradição está na violência política, que gera medo e afasta mulheres de disputas eleitorais. “Não é um problema individual, mas cultural. Quando não identificamos que fazemos parte do problema, dificilmente seremos parte da solução”, afirmou.
Para ouvir e assistir
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