Maio de 2025 ficou marcado como um mês de grandes perdas para a humanidade, com a morte de figuras emblemáticas como o Papa Francisco, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica e o renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Em meio ao luto global, o mundo testemunhou dois eventos de enorme simbolismo e impacto: o início do conclave no Vaticano para a escolha do novo Papa, e o histórico show gratuito de Lady Gaga na Praia de Copacabana, no Brasil, que reuniu mais de dois milhões de pessoas. Esses acontecimentos, embora contrastantes, refletiram a complexidade e a intensidade de um mês que ficará registrado na memória coletiva mundial.
Se as palavras “Papa” e “Gaga” são quase idênticas, existe outro ensinamento profundo que ambos, em suas jornadas de vida, nos oferecem: a alegria deve nos contagiar, e as emoções precisam ser verdadeiras.
Vivemos uma era atravessada por desesperanças — no mundo do trabalho, na saúde mental e sob o sufocante avanço de ondas neofascistas que parecem nos tirar o ar.
A morte do Papa Francisco provocou uma comoção planetária, mas também, curiosamente, uma profunda reflexão sobre a alegria. Surgiram nas redes, nas ruas, nas igrejas, vídeos e trechos de homilias em que o pontífice ria com gosto, contava piadas, brincava com crianças e idosos, e exibia aquela leveza que só os grandes espirituais conseguem manter diante do peso do mundo. Ele sorria como quem já tinha entendido tudo. Francisco, nos seus 12 anos de pontificado, se dedicou a reformas delicadas da Igreja, não apenas institucionais, mas sobretudo da alma. Acolheu movimentos sociais, estendeu a mão aos pobres, abriu diálogo com a juventude LGBTQIAPN+, especialmente com pessoas trans, não para tolerá-los, mas para reconhecê-los. Reabriu as portas da Igreja para mulheres separadas, casais em segunda união e tantos outros que por décadas ouviram apenas o silêncio da exclusão.
Francisco, como Jesus, não perguntava “de onde você veio?”, mas “você precisa de ajuda?”. Ele não julgava. Ele acolhia. Foi, para muitos, um verdadeiro pai.
Do outro lado, a figura de Lady Gaga transformou a Praia de Copacabana em um palco de afeto, música e resistência. Diante de mais de dois milhões de pessoas, ela não apenas cantou, ela curou! Gaga, que fala abertamente sobre suas dores emocionais e físicas, tem sido uma das vozes mais consistentes sobre saúde mental no mundo pop. Já declarou: “Ser gentil com você mesmo é revolucionário”. Uma artista que não teme expor as cicatrizes da alma, ela se tornou um símbolo de superação, coragem e empatia. Uma mãe que embala multidões com música, mas também com humanidade.
Ambos, Papa Francisco e Lady Gaga, ainda compartilham uma conexão improvável e simbólica: Copacabana.

Foi lá que, em 2013, Francisco celebrou a Jornada Mundial da Juventude, reunindo cerca de 3,7 milhões de pessoas — o maior público da história da praia. Em 2025, Gaga se tornou a primeira mulher a atrair uma multidão similar, consolidando seu nome como parte da história cultural brasileira e mundial.
Em comum, os dois eventos reuniram o mesmo povo: diverso, vibrante, tantas vezes órfão de pai e de mãe e ali, naquela areia sagrada e profana, encontrou abrigo.
A última semelhança, talvez a mais bela, está no legado emocional. Papa e Gaga representam, cada um à sua maneira, a alegria como ato político e a autoaceitação como caminho de redenção. Em um mundo cada vez mais cínico, suas mensagens nos lembram que o amor é ainda a força mais revolucionária que existe e o melhor, é de graça.
A vida, afinal, “presta”, como disse Fernanda Torres. E quando ela presta, é porque tem espetáculo, tem fé e tem verdade. Não tenho dúvidas, o conceito de espetáculo foi atualizado com sucesso!
*Adriana Dantas é educadora popular e militante das causas ambientais e saúde.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.