Ouça a Rádio BdF

Como a alta do dólar influencia nossas vidas?

A economia está presente na nossa vida cotidiana, nas escolhas e nas não escolhas que fazemos

Quando você lê a palavra “Economia”, quais são as primeiras imagens que lhe vêm à mente? Gráficos? Números? Análises complexas? Bolsa de valores? Juros? O quanto você economizou esse mês ao comprar em um supermercado mais barato? Isso tudo faz parte da Economia, mas ela não é apenas isso. Economia se faz no dia a dia: ao ir pagar a conta de luz; ao consumir salsicha e ovos em vez da carne, que está cada vez mais cara; ao pesquisar os preços do litro da gasolina antes de abastecer; ao indignar-se com os preços elevadíssimos dos alimentos no supermercado; ao enviarmos um currículo para uma empresa que abriu seleção. Ou seja, a economia está presente na nossa vida cotidiana, nas escolhas e nas não escolhas que fazemos diariamente.

Com isso em mente, venho com a proposta de trazer-lhes uma forma menos entediante, mais simples e crítica de compreender a Economia e a sociedade capitalista em que vivemos atualmente. Às vezes, será necessário voltar um pouquinho na História, mas prometo fazer isso de forma objetiva e com o comprometimento de trazer uma visão nossa, a visão de um povo que vive no Sul global, do povo latino-americano.

Ultimamente, fala-se muito sobre a alta do dólar. É comum ouvirmos: “O dólar está subindo”, “O real está desvalorizado”, “A alta do dólar causa inflação”. A partir de comentários como esses, eu faço a seguinte pergunta: Na prática, como a alta do dólar influencia nossas vidas? Bem, antes de responder diretamente essa pergunta, vamos entender um pouco sobre o uso da moeda estadunidense no mundo.

Nem sempre o dólar foi a moeda hegemônica no mundo. No século XIX, o mundo utilizava o ouro como moeda padrão, pois era um mineral em abundância na Europa. Cabe questionar aqui: Como este ouro era obtido? Por que ele era abundante na Europa se lá não havia minas? Bem, os minerais (ouro, prata, entre outros) foram saqueados das nossas terras, a partir da exploração e da sangrenta guerra aos já moradores da América e, claro, a partir da escravização de pessoas vindas da África. Os países subdesenvolvidos, que eram (e ainda são) exportadores de matéria-prima, não viam vantagem alguma neste sistema.

O período entre as duas guerras e a Grande Depressão em 1929 é o cenário de perda de hegemonia da Inglaterra e ao término da II Guerra Mundial vemos os Estados Unidos emitindo dólar e emprestando dinheiro enlouquecidamente, tornando-se o maior credor do mundo. Desse modo, aos poucos, o dólar passou a ser utilizado como moeda padrão no mundo e é utilizado nas negociações entre os países. Desta forma, quando há uma alta no dólar, há um impacto profundo no real, que é considerada uma moeda fraca, isto é, pouco utilizada em transações internacionais. 

Bom, sabemos que o Brasil exporta (vende) e importa (compra) bens diversos e sabemos que esse valor é pago em dólar, então, com o dólar mais caro, os produtos importados ficam mais caros. E quais são os produtos que o Brasil importa? Os principais produtos são óleos combustíveis de petróleo e adubos e fertilizantes químicos. Ele importa óleos combustíveis de petróleo (gasolina e óleo diesel) porque as refinarias aqui localizadas não dispõem de tecnologia suficiente e não há qualquer interesse por parte do Governo em investir no desenvolvimento dessas refinarias.

O preço de compra desse produto tem se tornado maior por conta da alta do dólar. Consequentemente, essa alta é repassada ao consumidor final e, por esse e outros motivos, temos sucessivos reajustes do preço da gasolina. Além disso, a principal estrutura de transporte do nosso país de dimensões continentais é rodoviária, assim, as mercadorias, tais como alimentos e bens diversos, são transportadas com o uso da gasolina que tornou-se mais cara. E aqui, mais uma vez, esse aumento no preço é repassado para quem compra. As distribuidoras já compram mais caro, vendem mais caro aos mercados e, quando chega às prateleiras, a cesta básica está custando entre R$213, 34 e R$302,58 na capital paraibana, segundo pesquisa realizada pelo Procon PB.

Claro que a inflação (alta dos preços) tem origens diversas e pretendo trazer esse assunto com mais profundidade posteriormente, mas o objetivo aqui foi mostrar, através do exemplo da gasolina, como a alta do dólar influencia nosso cotidiano. A alta do dólar impacta também o consumo de outros produtos e serviços, tais como a redução de viagens internacionais e a redução de compras de produtos importados. E em referência às exportações, podemos compreender o aumento do preço da carne também como consequência da alta do dólar (há outros motivos também, como descrito acima). Como isso ocorre? Se lá fora a carne exportada pelo Brasil é vendida mais cara, por causa do dólar alto em relação ao real, os produtores internos vão também aumentar os preços, para não se sentirem em desvantagem. Assim, o consumidor brasileiro, que teve um reajuste ínfimo em seu salário, terá que fazer escolhas mais baratas para substituir essa proteína cujo preço tem subido cada vez mais desde 2020.

Veja mais