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K-pop e a volta do culto a magreza

O k-pop ao propagar um padrão estético quase inalcançável, gera insegurança e, com ele, uma cadeia lucrativa de consumo.

A explosão global do K-pop transformou o gênero musical sul-coreano em um dos maiores fenômenos culturais do século XXI. Mas por trás das coreografias impecáveis e videoclipes coloridos, a indústria carrega também um discurso estético poderoso, e também perigoso. Com ele, um novo ciclo de culto à magreza e ao consumo ganha força, especialmente entre meninas e mulheres jovens ao redor do mundo.

As estrelas do K-pop, conhecidas como idols, são frequentemente apresentadas como símbolos de beleza, disciplina e perfeição. Seus corpos magros, esculpidos e altamente controlados, tornam-se não apenas parte do espetáculo, mas também produtos a serem consumidos visualmente. A magreza, nesse contexto, é vendida como um ideal quase obrigatório de sucesso e aceitação.

No entanto, esse fenômeno não é coincidência, e sim estrutural. Em nossa sociedade a opressão das mulheres está profundamente ligada ao sistema capitalista, que transforma o corpo feminino em mercadoria e o desejo em lucro. O K-pop se encaixa perfeitamente nessa lógica: ao propagar um padrão estético quase inalcançável, ele gera insegurança e, com ela, uma cadeia lucrativa de consumo.

Produtos de beleza, roupas, planos alimentares, procedimentos estéticos e academias são apenas parte do que gira em torno dessa estética. A idol magra e impecável torna-se o novo modelo aspiracional, e o mercado responde com uma infinidade de ofertas para tentar transformar o corpo comum em algo mais próximo do “ideal K-pop”. É um ciclo onde a indústria cria o problema e, em seguida, vende a solução.

Imagem gerada por IA / Leonardo.ia / Editada por Lucas Botelho com GIMP

No entanto, é importante lembrar que o K-pop não nasceu como um produto enlatado para o consumo global. Sua origem, nos anos 1990, tem raízes em uma onda progressista de renovação cultural na Coreia do Sul, que buscava romper com os traumas da ditadura militar e com os modelos culturais ocidentalizados impostos ao país. O K-pop era, então, uma forma de resistência, de expressão identitária e de reconfiguração do imaginário nacional.

Hoje, o brilho do K-pop esconde uma engrenagem que, como em outros setores da indústria cultural, transforma até os movimentos mais autênticos em estratégias de mercado. O que era uma expressão de liberdade se torna uma ferramenta de controle. Cabe a nós distinguir o que é celebração da cultura e o que é sua exploração. Porque, no fim das contas, o problema não é o K-pop, é sim o sistema que o devora.

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