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Antônio de Paiva Moura

Esquerda e conjuntura global: da ditadura ao neoliberalismo

No contexto da ditadura militar foi criado, em 1980, o PT, tendo como militantes os oponentes do regime

Com o regime militar (1964-1985) houve um atraso em todos os setores da vida.

Na política, só havia dois partidos políticos Aliança Renovadora Nacional (Arena) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era tutelado pelo regime de modo a não tender à esquerda. Desta forma, somente as elites econômicas tinham representantes parlamentares. Houve repressão com perda de mandatos e direitos políticos, assassinatos, prisões e exílios, como de padre Francisco Lage Pessoa, Juscelino Kubitschek e Marcelo Rubens Paiva.

Na cultura, havia censura aos diversos gêneros artísticos e meios de transmissão; perseguição a artistas, como Geraldo Vandré, Glauber Rocha, Gilberto Gil, Rita Lee e Vinícius de Moraes.  

Na ciência, houve fuga para países mais desenvolvidos, a exemplo do arqueólogo Marcos Rubinger.

Na Economia, colocou-se em prática a política de “substituição das importações”. Facilitando a vinda de empresas estrangeiras para atividades industriais, atendendo exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que eram as seguintes: impedir ação de sindicados de trabalhadores; arrocho salarial; isenção de tributos; não colocar obstáculos de caráter ambiental.

As consequências dessa política foi o aumento extraordinário da remessa de lucros para outros países, desequilibrando a balança de pagamento. As obras de infraestrutura eram realizadas com recursos do FMI, a exemplo da ponte Rio Niterói e ferrovia do aço (inconclusa) que geraram uma enorme dívida externa.

Com todas essas adversidades o regime fazia propaganda incutindo na população uma idéia de progresso chamado “milagre econômico”, mas, na verdade, todos os fatores de desenvolvimento social ficaram precários, com uma grande parcela da população vivendo na pobreza, analfabetismo, fome e carência de moradia

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Reação

No bojo desse quadro sombrio, foi criado, em 1980, o Partido dos Trabalhadores (PT), tendo como militantes os oponentes à ditadura militar, sindicalistas, intelectuais, artistas e católicos ligados à teologia da libertação. Sob a liderança de Lula, o partido defendeu a social democracia, com o desafio de enfrentar as situações caóticas em que vivia o país. 

Os opositores aos socorros públicos às famílias carentes chamavam isso, pejorativamente, de “pobrismo”, tentando ocultar as verdadeiras causas do empobrecimento. Mas o crescimento do PT foi vertiginoso em número de filiados e de eleitores.

Nos EUA, com Ronald Reagan e na Inglaterra com Margareth Thatcher, surgiam novas manobras para salvar o capital, a que se deu o nome de neoliberalismo. Essas diretrizes visavam desmontar benefícios sociais e políticas públicas, que foram considerados os vilões da lucratividade das empresas. Daí as terceirizações, desregulamentação do trabalho, instabilidade no emprego, desemprego, redução de tributos e privatizações de empresas.

Significou a ampliação do poder do imperialismo ocidental. Tudo isso contribuiu para piorar a distribuição de renda na população e aumentar o empobrecimento.

A Constituição de 1988 institucionalizou muitos conteúdos dos programas do PT e MDB que passaram a ter dissidências à esquerda e à direita. O Partido da Social Democracia (PSD) desmembrou-se do MDB e, nos anos 2000, o PSOL do PT.

Nos anos 1990, especialmente após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a fragmentação partidária foi enorme, com os novos partidos adotando programações semelhantes uns dos outros. A proteção dos cidadãos pelo Estado passou a ser combatida. Os partidos de maior desempenho eleitoral foram os que valorizaram o crescimento individual: o vencer na vida com luta e esforço próprio, sem importar com os outros, como no chavão de Justo Veríssimo, personagem de Chico Anísio: “Quero que pobre se exploda”.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e UNI-BH. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul (PUC-RS).

Leia outros artigos de Antônio de Paiva Moura em sua coluna no Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

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