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Francisco e a saúde como ato de amor

“Vamos traduzir seu legado em ações, com gestos de cuidado e na defesa do direito à saúde”, escreve Aristóteles Cardona

Poucas figuras na história recente irradiaram tanto humanismo e compromisso com a dignidade humana quanto o Papa Francisco. E não é exagero afirmar que sua partida ocorre num momento crítico da história mundial.

Entretanto, queria aproveitar também este espaço da coluna para exaltar a leitura com a qual o Papa olhava para a saúde e suas questões nos dias atuais. Dá para afirmar, sem sombra dúvida, que seu legado toca não apenas a fé, mas também o modo como pensamos a saúde, a medicina e o cuidado com as pessoas.

Para Francisco, a saúde era acima de tudo um direito. Ele jamais aceitou que o cuidado com a vida fosse tratado como mercadoria ou privilégio. Em cada palavra e gesto, reafirmou que a medicina só cumpre seu sentido mais profundo quando coloca a pessoa no centro, e não o lucro. Seu legado nos recorda: quando a lógica do mercado domina, a compaixão desaparece.

Em tudo o que dizia e fazia, o papa argentino nos lembrava que cuidar é mais do que tratar doenças: é enxergar a dor, é reconhecer a vulnerabilidade. Para ele, a medicina era um ato de compaixão, um chamado a priorizar aqueles que o mundo tende a esquecer.

Sua voz também alertava para os sofrimentos invisíveis, aqueles que adoecem a alma: a solidão, o abandono, a perda dos laços. Francisco nos ensinou que cuidar da saúde é, acima de tudo, restaurar a dignidade de cada vida.

Durante a pandemia, Francisco foi uma das vozes mais lúcidas ao reafirmar que ninguém se salva sozinho. Defendeu com firmeza a necessidade de vacinas para todos, especialmente para os mais pobres, e denunciou a desigualdade no acesso aos cuidados. Chegou a dizer e repetir: “vacinar-se é um ato de amor”, uma frase que sintetiza seu olhar para o cuidado coletivo.

Ao mesmo tempo, o papa lembrou ao mundo que a saúde humana está profundamente ligada à saúde do planeta: a crise sanitária e a crise ambiental são faces de uma mesma ferida aberta pela lógica da exploração e da indiferença.

O Papa defensor dos pobres partiu, mas seu chamado permanece. Precisamos não apenas recordar suas palavras, mas traduzir seu legado em ações. Em cada gesto de cuidado, em cada defesa do direito à saúde, em cada compromisso com os mais frágeis, podemos manter viva a chama que ele acendeu.

Que a memória de Francisco continue a nos inspirar a construir um mundo onde a saúde seja, de fato, um bem de todos e nunca um privilégio de poucos.

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